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Selo de Salomão: Origem, Significado e Simbolismo do Antigo Hexagrama

Uma análise profunda sobre a história, o simbolismo esotérico e a trajetória cultural da estrela de seis pontas que atravessou religiões, tradições místicas e séculos de conhecimento.

Poucos símbolos atravessaram tantos séculos, culturas e tradições com a força que o Selo de Salomão demonstrou possuir. A figura formada por dois triângulos entrelaçados, criando a conhecida estrela de seis pontas, carrega uma densidade simbólica que ultrapassa fronteiras religiosas e filosóficas. Sua história não se limita ao imaginário judaico nem à tradição esotérica do Ocidente; seu percurso envolve o misticismo islâmico, a arte medieval, a alquimia, a astrologia e, sobretudo, a ideia de harmonia entre mundos que parecem opostos.

O Selo de Salomão ocupa um lugar singular porque reúne elementos universais: o céu e a terra, o material e o espiritual, o movimento ascendente e descendente que rege a própria existência. Como um espelho do macrocosmo e do microcosmo, ele sintetiza a estrutura da criação e aponta para um equilíbrio que, segundo diversas tradições, é a base do cosmos.

A Forma e o Significado Original

A imagem da estrela de seis pontas, composta por dois triângulos equiláteros sobrepostos, é frequentemente associada ao Judaísmo moderno. Entretanto, o sentido antigo do símbolo não era restrito a um povo ou religião. Ele aparece em fontes herméticas, alquímicas e filosóficas como representação da união de princípios complementares.

O triângulo com o vértice voltado para cima expressa o impulso da elevação, associado ao espírito, ao fogo, às qualidades que remetem ao divino e à ascensão interior. Já o triângulo invertido simboliza o movimento descendente, a matéria, a água e tudo aquilo que se manifesta no plano tangível. Quando unidos, revelam a concórdia entre forças que sustentam o universo, ideia presente tanto na alquimia quanto na filosofia natural.

Essa concepção ecoa no pensamento de Eliphas Lévi, um dos grandes ocultistas do século XIX. Ele via o Selo de Salomão como uma imagem da plenitude, onde o infinito e o absoluto se encontram representados de forma simples e, ao mesmo tempo, profunda. Para Lévi, o símbolo expressa a totalidade da ciência e concentra em sua geometria uma relação direta entre a voz criadora, a natureza e o entendimento — conceitos sintetizados nas palavras latinas, hebraicas e gregas que ele utiliza para explicar sua essência: Plenitudo vocis, Binah e Physis.

O Selo não é, portanto, apenas uma figura geométrica; ele traduz uma visão do universo, um mapa da realidade espiritual e material e um lembrete da ligação inseparável entre criador e criatura.

A Tradição Bíblica e o Rei Salomão

O nome do símbolo está ligado ao lendário Rei Salomão, filho de David, cuja fama atravessou milênios como modelo de sabedoria. A tradição religiosa o descreve como líder justo, conhecedor profundo das leis morais e capaz de interpretar o funcionamento do universo. Seu reinado consolidou Jerusalém como cidade da paz e da justiça, e suas decisões tornaram-se emblemáticas do exercício equilibrado do poder.

A sabedoria de Salomão foi tão marcante que inúmeras lendas surgiram ao redor de sua figura. Entre elas, destaca-se a do anel ou sinete que ele teria recebido dos céus, objeto dotado de poder para controlar forças espirituais e proteger seu povo. Esse sinete, segundo tradições judaicas, cristãs e islâmicas, continha o símbolo dos dois triângulos entrelaçados. A partir daí, o hexagrama passou a ser chamado de Selo do Rei Salomão.

A lenda do sinete expressa a ideia de autoridade espiritual e domínio sobre energias invisíveis, mas também transmite a noção de equilíbrio. O anel seria o instrumento que permitia a Salomão transitar entre mundos e governar com inteligência e prudência. Assim, o Selo tornou-se símbolo de sabedoria, harmonia e proteção contra forças desordeiras.

Simbolismo Hermético e Alquímico

Micro e Macrocosmos / Data: 1896 / Autor: George Redway (morreu por volta de 1920) – Esta obra está em domínio público.

A interpretação hermética do Selo alia a figura dos dois triângulos às forças fundamentais da criação. O triângulo superior representa a Realidade Celeste e a expressão divina como Trindade. Já o triângulo voltado para baixo está relacionado à matéria, ao mundo terreno e à manifestação do espírito no plano físico.

Essa união de opostos presente no Selo remete também à ideia alquímica da integração entre masculino e feminino, princípio ativo e princípio passivo, fogo e água. O hermafrodita filosófico da alquimia, símbolo da perfeição espiritual, é ecoado na estrutura do hexagrama. Essa analogia expressa a convicção de que a vida surge da união equilibrada e que toda obra alquímica é, antes de tudo, um processo de reconciliação.

No contexto hermético, cada ponta do hexagrama corresponde ainda a elementos da natureza e propriedades específicas. O fogo, a água, o ar e a terra aparecem representados pela forma como os triângulos se entrecruzam e se truncam. Essa associação vai além de uma mera classificação: ela estabelece que os elementos estão sempre em relação e que o movimento do cosmos depende da interação contínua entre eles.

As pontas também podem simbolizar virtudes e princípios que conduzem o ser humano a uma vida mais elevada. Misericórdia, justiça, bem, verdade, amor e perdão constituem um ciclo que reflete o pacto entre o divino e a humanidade.

A Visão Cósmica: Macrocosmo e Microcosmo

As tradições que tratam do Selo de Salomão recorrem constantemente à ideia de correspondência entre o macrocosmo — o universo como totalidade — e o microcosmo — o ser humano. Essa noção, central para a filosofia antiga, indica que o que acontece nas esferas superiores encontra paralelo dentro de cada pessoa.

O triângulo superior seria a expressão do macrocosmo, enquanto o inferior representa o microcosmo. A união dos dois aponta para a relação direta entre o destino humano e as leis universais. Em outras palavras, aquilo que se manifesta em grande escala reflete-se no interior de cada indivíduo.

Essa visão é reforçada pela própria geometria do símbolo, já que o ponto superior toca metaforicamente os céus, enquanto o ponto inferior toca a terra. Assim, o Selo torna-se uma ponte entre mundos e um lembrete de que nada existe isolado no universo.

O Selo na Tradição Islâmica

O simbolismo do Selo de Salomão recebeu atenção especial na cultura islâmica. Muitos objetos, moedas, manuscritos e ornamentos arquitetônicos de diferentes períodos mostram o uso da estrela de seis pontas como emblema de proteção e sabedoria. Para diversos povos muçulmanos, o hexagrama era conhecido como o Selo de Suleiman, nome árabe para Salomão.

Essa associação foi fortalecida no século XVI, quando o sultão otomano Suleiman, o Magnífico, realizou reformas em Jerusalém e adotou o símbolo como parte de sua identidade espiritual e política. Ele via em Salomão uma figura messiânica e se colocava como continuador daquela linhagem simbólica. Nas muralhas da cidade, várias estrelas de seis pontas esculpidas testemunham esse vínculo histórico.

A arte islâmica valorizava intensamente padrões geométricos e repetição harmônica. O hexagrama encaixava-se perfeitamente nesse ideal, sendo entendido como expressão da ordem divina e da relação entre ciência, beleza e metafísica. Não era raro que o símbolo aparecesse em instrumentos médicos, objetos ritualísticos, peças de cerâmica e manuscritos, muitas vezes combinando astrologia, astronomia e magia em uma única composição.

Essa circulação cultural fez com que o Selo de Salomão se tornasse um elemento vivo na tradição islâmica, ao mesmo tempo ornamentando o cotidiano e representando camadas profundas de significado espiritual.

A Relação com a Estrela de David e o Judaísmo

Candelabro Judaico de Sete Velas

O hexagrama só se consolidou como símbolo geral do Judaísmo em épocas relativamente tardias. Embora já aparecesse em manuscritos hebraicos medievais, sua adoção ampla ocorreu sobretudo a partir do século XIX. Antes disso, sua função era mais decorativa ou mágica, sendo usado em mezuzot, amuletos e objetos que buscavam proteção contra forças malignas.

Estudos de Gershom Scholem, um dos maiores especialistas em misticismo judaico, indicam que o símbolo teve forte influência islâmica antes de entrar de maneira definitiva na cultura judaica europeia. Durante séculos, tanto judeus quanto cristãos recorreram ao hexagrama como talismã e como ilustração de conceitos cosmológicos. A identificação direta com a identidade judaica é, portanto, resultado de um processo histórico gradual.

Ao mesmo tempo, o pentagrama — estrela de cinco pontas — era também chamado de Selo de Salomão em diversas regiões da Europa. Somente com o tempo a nomenclatura se estabilizou, distinguindo o pentagrama como símbolo protetivo e o hexagrama como Estrela de David.

Eco na Arte, na Ciência e na Religião

A força simbólica do Selo de Salomão se deve também à sua simplicidade geométrica. A figura é completa, equilibrada e universal. Civilizações que valorizavam a matemática, como a grega, viram no hexagrama uma expressão do próprio cosmos. A relação entre número, forma e harmonia era considerada sagrada, e a estrela de seis pontas sintetizava essas ideias.

Essa universalidade explica por que o símbolo atravessou fronteiras culturais e religiosas. Ele aparece em moedas antigas, em templos, em utensílios domésticos, em livros sagrados e em objetos do cotidiano. Sua presença constante indica que o Selo de Salomão sempre foi mais do que um ícone religioso: ele funcionava como ponte simbólica entre culturas.

Na arte islâmica, essa presença se intensificou graças ao apreço pela geometria. Em manuscritos persas, em tigelas médicas decoradas, em potes de cerâmica da Ásia Central e em peças do Oriente Médio, o hexagrama surge integrado a padrões que dialogam com astrologia, alquimia e tradições místicas. Seu uso demonstra a interseção entre conhecimento científico e visão espiritual da realidade, algo que caracterizou sociedades multiculturais como a islâmica medieval.

As Sete Forças e os Elementos da Alquimia

Algumas tradições atribuem ao Selo a representação dos sete metais alquímicos e dos sete astros então conhecidos: ouro e Sol, prata e Lua, chumbo e Saturno, cobre e Vênus, mercúrio e Mercúrio, ferro e Marte, estanho e Júpiter. Essa associação reforça o caráter cosmológico do símbolo.

A interpretação dos metais e planetas no interior do hexagrama indica uma tentativa de compreender o universo como organismo vivo, onde cada elemento possui função e energia específica. Essa leitura era comum entre alquimistas e ocultistas, que viam no Selo uma espécie de diagrama da criação.

A presença simultânea de elementos terrestres e celestes confirma a vocação do símbolo para unir dimensões distintas. O Selo reflete, assim, não apenas uma cosmologia, mas a própria experiência humana diante da complexidade do mundo.

O Selo como Símbolo de Proteção

Ao longo dos séculos, muitas pessoas recorreram ao Selo de Salomão como amuleto. Ele aparecia gravado em anéis, armas, recipientes, roupas e pergaminhos. Seu propósito era criar uma barreira contra aquilo que se acreditava prejudicial: espíritos, doenças, energias negativas, influências astrais.

Essa função protetora está ligada à lenda do anel de Salomão, capaz de controlar espíritos. Com o tempo, o símbolo passou a representar a própria ideia de defesa espiritual. Em manuscritos mágicos judaicos e cristãos, era comum que hexagramas e pentagramas fossem utilizados como selos para “marcar” o usuário com um campo de força simbólico.

O Esquadro e Compasso Maçônicos e o Selo de Salomão

Embora muitos autores maçônicos tentem minimizar a proximidade entre o Selo de Salomão e o símbolo do Esquadro e Compasso, um exame atento revela que ambos compartilham raízes geométricas e conceituais impossíveis de ignorar. A imagem comparativa acima evidencia isso com clareza: a estrutura resultante dos dois triângulos sobrepostos do hexagrama encontra eco direto na forma que dá origem ao emblema maçônico. A transição visual — da estrela entrelaçada ao arranjo que culmina no Esquadro e Compasso — mostra que esses símbolos não se afastam por mero acaso, mas pertencem a um mesmo universo de ideias.

A trajetória histórica do hexagrama reforça essa conexão. Muito antes de ser consolidado como símbolo judaico, ele já era empregado em tradições místicas e herméticas. Quando Carlos IV concedeu à comunidade de Praga, em 1354, o privilégio de usar o hexagrama dourado em uma bandeira vermelha, inaugurou-se uma associação oficial entre o símbolo e a identidade judaica. Contudo, esse processo foi lento e plural. Os asquenazes, espalhados pela Europa Central após a diáspora ibérica, ampliaram o uso do emblema, enquanto comunidades sefarditas preservavam outras tradições. Com o tempo, o desenho passou a marcar fronteiras, identidade e proteção — até ser finalmente consagrado em 1948 como símbolo maior do Estado de Israel.

Mas, ao contrário do que muitos imaginam, o significado do hexagrama jamais se limitou ao campo religioso. Na Cabala, ele representa as emanações divinas e o equilíbrio entre os mundos. No hermetismo, traduz a interação entre o fogo e a água, entre o princípio ativo e o receptivo, entre o que se eleva e o que desce. É a expressão mais clara da máxima: “o que está em cima é como o que está em baixo.”

Esse conceito também permeia a Maçonaria. Ainda que o hexagrama não seja o símbolo principal da Ordem, ele surge em vários graus e rituais, especialmente no Arco Real. Ali, mantém o sentido de equilíbrio e harmonia entre céu e terra, espírito e matéria, ordem e transformação. O que muda é apenas a forma de expressá-lo. O Esquadro e o Compasso traduzem essa mesma ideia em instrumentos: o compasso projeta o círculo, o infinito, o mundo espiritual; o esquadro define limites, dá forma e conduz à retidão. Juntos, remetem ao mesmo processo que o hexagrama anuncia — a necessidade de conciliar opostos para gerar entendimento.

Quando observamos a aproximação geométrica desses símbolos, a relação torna-se ainda mais clara. O hexagrama é construído por triângulos equiláteros, enquanto o emblema maçônico deriva de duas hastes que também se abrem em ângulo regular, lembrando a expansão do compasso e a solidez do esquadro. Os pontos do hexagrama representam domínio e proteção; os braços do compasso representam medida e expansão; o esquadro indica retidão e estabilidade. São linguagens visuais diferentes apontando para uma mesma realidade simbólica: a busca do homem por harmonia interna, pela lapidação de sua “pedra bruta” e pela compreensão de seu lugar entre o visível e o invisível.

Assim, longe de serem símbolos distantes, o Selo de Salomão e o emblema maçônico revelam uma afinidade profunda. Ambos expressam a união de forças complementares e a passagem do caos para a ordem. Ambos servem como instrumentos de leitura do cosmos e da própria alma. E ambos preservam, em silêncio geométrico, a antiga convicção de que somente o equilíbrio entre os contrários permite alcançar a verdadeira sabedoria.

Uma Síntese de Sabedoria

O grande valor do Selo de Salomão reside na sua capacidade de unir elementos distintos em uma única imagem. Esta imagem vai além de apenas uma conjunção geométrica de dois triângulos, é na realidade, uma visão que integra contrários e reconhece neles a base da existência. A espiritualidade e a matéria, o mundo visível e o invisível, o conhecimento racional e o mistério se encontram no interior dessa estrela que atravessou os séculos.

Se hoje ela é amplamente reconhecida como símbolo do Judaísmo, sua trajetória é muito mais antiga e abrangente. O hexagrama é testemunho da circulação de ideias entre povos, das trocas entre culturas e da busca humana por significado. Ao olhar para esse símbolo, é possível perceber a tentativa constante de compreender o universo, a vida e a própria natureza do ser.

O Selo de Salomão permanece vivo porque traduz algo que transcende épocas e fronteiras: a convicção de que tudo está ligado e de que a realidade é construída pela harmonia entre forças complementares. Em sua simplicidade, ele conta a história da humanidade e seu desejo de alcançar entendimento, equilíbrio e plenitude.

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