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Grau de Mestre Escocês de Santo André – O 4º Grau do Rito Escocês Retificado

No seio do Regime Escocês Retificado (RER), o Grau de Mestre Escocês de Santo André representa a culminação do percurso simbólico, selando de forma definitiva a entrada do iniciado no caminho da regeneração espiritual. Trata-se de muito mais do que uma simples elevação hierárquica dentro do rito; é, acima de tudo, uma consagração interior profunda, na qual os ensinamentos adquiridos nos graus anteriores são plenamente integrados, vivificados e colocados a serviço da grande obra da restauração do ser.

Um Arquétipo Espiritual no RER

O exemplo de Santo André é, nesse contexto, absolutamente central e estruturante. Sua vida, sua missão e seu martírio não são apenas referências históricas, mas verdadeiros arquétipos espirituais que moldam a conduta e a missão do Mestre Escocês Retificado. A cruz decussata — a cruz em formato de “X” — que lhe é atribuída, transcende a condição de simples símbolo externo, tornando-se um espelho da alma, um lembrete constante da necessária interseção entre os caminhos da matéria e do espírito, da vontade humana e da Vontade divina.

O Significado da Cruz de Santo André

Essa cruz simboliza, de maneira clara, as provas, os desafios e as adversidades inevitáveis que surgem na jornada em busca da perfeição espiritual. Seu formato em “X” reflete o ponto de encontro dos opostos: o mundo profano e o mundo sagrado, o visível e o invisível, a carne e o espírito, que precisam ser reconciliados e harmonizados no interior do próprio ser. Assim, o iniciado aprende que sua transformação exige a integração consciente desses polos, rumo à unidade e à elevação.

A História do Martírio de Santo André

A cruz em forma de “X” está diretamente ligada ao martírio deste apóstolo de Cristo, irmão de São Pedro. Foi, inclusive, Santo André quem conduziu seu irmão até Jesus, declarando:

Encontramos o Messias!

Por essa missão de apresentar as pessoas ao Salvador, a tradição lhe conferiu o título simbólico de “ponte do Salvador”. Santo André, conhecido por sua profunda devoção, enfrentou o mesmo destino de seu Mestre: a crucificação. Contudo, por não se julgar digno de morrer da mesma forma que Cristo, pediu aos seus algozes que não o pregassem em uma cruz convencional.

Seu desejo foi atendido, e, segundo os relatos tradicionais, foi crucificado em uma cruz no formato de “X”, conhecida em latim como crux decussata, eternamente identificada como a Cruz de Santo André.

A Crux Decussata na Heráldica e na Cultura Escocesa

Esse símbolo, carregado de significado espiritual, ultrapassou os limites do campo religioso e foi adotado também na heráldica, sendo incorporado a diversos brasões de armas e bandeiras. O exemplo mais conhecido e emblemático é, sem dúvida, a bandeira da Escócia, cuja cruz branca sobre fundo azul representa diretamente a Cruz de Santo André. Uma antiga tradição escocesa relata que as relíquias do apóstolo teriam sido levadas àquela região, mais especificamente para a cidade que hoje carrega seu nome: Saint Andrews.

Não por acaso, o Rito Escocês Retificado, a Escócia, o Mestre Escocês e Santo André estão profundamente interligados — tanto histórica quanto espiritualmente.

A Reconciliação: Pilar Central do Grau de Mestre Escocês de Santo André

O ensinamento fundamental do Grau de Mestre Escocês de Santo André está profundamente vinculado ao princípio da reconciliação, conceito essencial no Regime Escocês Retificado. O iniciado é chamado, em primeiro lugar, a reconciliar-se consigo mesmo, reconhecendo suas limitações, imperfeições e assumindo a plena responsabilidade por sua própria regeneração espiritual. A partir desse ponto, essa reconciliação se estende naturalmente ao próximo, à coletividade e, sobretudo, à Ordem divina. Assim, a Cruz de Santo André transforma-se em um verdadeiro altar simbólico, sobre o qual o Mestre Escocês deposita seu ego, suas paixões desordenadas e seus desvios, renascendo purificado, disposto a servir como instrumento fiel do Grande Arquiteto do Universo.

Outro pilar essencial desse grau é a consolidação dos valores cristãos no coração do iniciado. É importante compreender que não se trata de um cristianismo dogmático ou externo, mas sim de um cristianismo esotérico, profundamente espiritual, universal e centrado na imitação de Cristo e na vivência plena das virtudes. Assim como Santo André entregou sua vida por amor e fidelidade ao Evangelho, o Mestre Escocês de Santo André é chamado a viver, dia após dia, como testemunha viva da Verdade, da Caridade e da Justiça.

A Liturgia, os Símbolos e a preparação para a Ordem Interior

Toda a liturgia desse grau reforça constantemente essa ideia de transformação e elevação espiritual, utilizando uma combinação precisa de símbolos, palavras, sinais e instruções que fazem do Mestre Escocês de Santo André não apenas alguém que compreende intelectualmente os Mistérios da Ordem, mas, sobretudo, um homem que os vivencia plenamente. A cruz que se encontra presente no templo, nas insígnias e nos trabalhos do grau, não é um fim em si mesma, mas sim um portal simbólico que conduz o iniciado da condição caída à regeneração espiritual, da ignorância à luz do conhecimento e da dispersão à unidade centrada no sagrado.

Além disso, o Grau de Mestre Escocês de Santo André funciona como uma ponte que conecta os graus simbólicos do RER à etapa seguinte da jornada iniciática, que é a entrada na Ordem Interior. Essa fase conduz o iniciado ao caminho cavaleiresco da Estrita Observância, representando a plena consagração do homem ao serviço da Obra Divina, em total dedicação à realização espiritual e à construção do Reino do Espírito.

Doutrina

O significado ritual é inequívoco; ele simboliza a transição da antiga lei para a nova, do Antigo Testamento para o Novo. Esse rito prepara a mudança dos símbolos para a realidade, da Maçonaria (simbólica) para a Ordem interna, que assume uma natureza cavaleiresca. Trata-se de um rito escocês e pré-templário, ou seja, um precursor do templarismo do Escudeiro Noviço (alguns aspectos do escotismo podem ser comparados a esse segundo caráter).

Portanto, o candidato, ao entrar na sala de preparação, é colocado diante de uma Bíblia aberta nos capítulos 40 e 41 do livro de Ezequiel, juntamente com as nove máximas que lhe foram apresentadas, três por três, nos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre. As máximas são as seguintes:

1 – “O homem é a imagem imortal de Deus, mas quem poderá reconhecer a beleza dessa imagem se o próprio homem a desfigurar?”

2 – “Aquele que se envergonha da religião, da virtude e de seus irmãos não é digno do respeito e da amizade dos Maçons.”

3 – “O Maçom cujo coração não se abre às necessidades e desgraças dos outros é um monstro na sociedade de seus Irmãos.”

4 – “O amor pelo dinheiro, quando toma conta do homem, resseca seu coração e seca nele a fonte das mais nobres aspirações. A satisfação de nossas necessidades e desejos materiais seria o único propósito de nosso trabalho aqui na terra? O insensato viaja por toda a vida sem saber para onde vai, de onde veio, nem o que deve fazer. Mas o sábio compreende todos os seus passos, pois conhece a importância e o propósito deles.”

5 – “O homem é naturalmente bom, justo e compassivo. Por que ele frequentemente entra em contradição consigo mesmo? Procure seriamente a causa. É importante discerni-la.”

6 – “O egoísmo é como ferrugem, destrói o que há de mais belo e puro no coração do homem.”

7 – “Aquele que viaja em terras estrangeiras nunca está mais perto de se perder do que quando dispensa seu guia, achando que conhece o caminho.”

8 – “Feliz é aquele que, tendo se estudado bem, pôde conhecer seus defeitos, perceber sua ignorância e sentir que precisa de ajuda, pois já deu seu primeiro passo em direção à luz.”

9 – “Buscar com um coração justo, perguntar com resignação e discernimento, bater com confiança e perseverança, essa é a ciência do sábio.”

Adverte-se o candidato de que o grau que ele está prestes a receber lhe ensinará, ainda que oculto por meio de símbolos, o verdadeiro propósito da Ordem.

O ritual de recepção ilustra e vivencia as principais fases que aconteceram no Templo de Salomão após sua construção. A figura de Hiram permanece sempre central. Esses momentos históricos são representados por quatro quadros, sendo que o último, criado após 1778, simboliza a transição já mencionada da Antiga Lei para a Nova; o Grau foi adaptado ao Cristianismo para alinhar-se à sua nova realidade e ao propósito do Rito Escocês Retificado.

A Antiga instrução do Grau é clara e precisa, sem margem para ambiguidades:

“A Ordem lhes mostra hoje, sem mistério, embora ainda sob o véu leve de uma alegoria, que se explica facilmente, o objetivo e o término geral de seus trabalhos. Tudo que você viu até agora em nossas lojas teve como única base o Antigo Testamento e como tipo geral o famoso Templo de Salomão, em Jerusalém, que foi e será sempre um emblema universal. Mas aqui, você vê uma muralha com doze portas, como a muralha da Nova Jerusalém descrita por São João Evangelista. Você vê no meio dessa muralha a montanha da Nova Sião e no topo o Cordeiro de Deus triunfante, com a bandeira do Todo-Poderoso, que Ele conquistou por meio de Sua imolação voluntária e redentora. Este quadro representa para os Maçons a transição da Antiga Lei, que cessou, para a Nova Lei, trazida aos homens por Cristo e que Ele voluntariamente selou com Seu Sangue, tornando-a para sempre indelével e universal.”

A Cruz de São André, que você vê na parte inferior do mesmo quadro, também representa a transição maçônica do Antigo para o Novo Testamento, confirmada pelo Apóstolo Santo André, que, primeiramente discípulo de São João Batista, nascido e pregando sob a antiga Lei para preparar os corações para o Novo, abandonou seu primeiro mestre para seguir, sem reservas, Jesus Cristo, e posteriormente selou com seu sangue seu Amor e sua Fé por seu Verdadeiro Mestre. É essa circunstância particular que levou a adotar, para este grau, dentro de nossas Lojas, a designação de Mestre Escocês de Santo André.

Por isso, há muitos séculos, desde o período incerto em que os antigos iniciados do Templo de Jerusalém, tendo sido iluminados pela luz do Evangelho, puderam com sua ajuda aprimorar seus conhecimentos e trabalhos, todos os compromissos maçônicos em todas as partes do mundo onde a Instituição se espalhou sucessivamente, são feitos sobre o Evangelho e especialmente sobre o primeiro capítulo do Evangelho de São João, no qual o discípulo amado estabeleceu, com tamanha sublimidade, a Divindade do Verbo Encarnado. É neste Livro Sagrado que, desde o seu primeiro passo na Ordem, você fez todos os seus compromissos.

(Ap. Jean Saunier, ~ O Caráter Cristão da Maçonaria Escocesa Retificada no Século XVIII)), Le Symbolisme, outubro-dezembro de 1968, pp. 27-28).

Conclusão

Concluímos, pois que por tudo isso, torna-se evidente que o exemplo de Santo André não é, de forma alguma, um mero adorno simbólico do grau. Pelo contrário, ele representa a expressão viva e operante do ensinamento mais profundo que este grau oferece: a fidelidade incondicional à Verdade, a aceitação consciente e amorosa do sacrifício necessário à regeneração espiritual e o compromisso constante com a restauração da imagem e semelhança do homem com o Criador, no caminho luminoso da perfeição, da unidade e da transcendência. aceitação consciente do sacrifício necessário para a regeneração espiritual e o compromisso permanente com a restauração da imagem e semelhança do homem com o Criador.

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