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Martinismo: História, Origem e as Principais Ordens

Louis Claude de Saint-Martin – O Filósofo Desconhecido

Louis-Claude de Saint-Martin (1743-1803)
Louis-Claude de Saint-Martin (1743-1803)

O Martinismo tem suas raízes nos ensinamentos de dois grandes místicos do século XVIII: Martinès de Pasqually e Louis Claude de Saint-Martin. Este último, conhecido como O Filósofo Desconhecido, foi um dos mais notáveis pensadores espirituais de sua época.

Em meio à efervescência social, política e econômica que culminaria na Revolução Francesa, Saint-Martin se destacou como uma figura inspiradora, enigmática e profundamente espiritual. Suas obras, impregnadas de misticismo e filosofia, encantavam tanto a nobreza quanto o povo, conduzindo-os à reflexão sobre o destino humano, a relação entre Deus, o homem e o universo, e a possibilidade de reconquistar a condição primordial perdida.

Saint-Martin utilizava sua presença nos salões aristocráticos não para se vangloriar, mas para instigar consciências adormecidas. Seu objetivo era desviar as atenções da frivolidade mundana e conduzi-las à contemplação da realidade espiritual.

Suas obras rapidamente ultrapassaram fronteiras, sendo lidas não apenas na França, mas também na Alemanha, Inglaterra e Rússia. A doutrina que transmitia passou a ser conhecida como Martinismo, embora o próprio Saint-Martin atribuísse grande parte de sua inspiração a seus mestres e jamais buscasse reconhecimento pessoal. Para ele, o verdadeiro saber só podia ser revelado ao iniciado disposto à transformação interior.

Martinez de Pasqualle
Martinès de Pasqually – 1727 – 1779)

Martinès de Pasqually – O Mestre Teúrgico

Saint-Martin sempre reconheceu em Martinès de Pasqually a fonte primordial de seus ensinamentos. Pasqually foi um místico singular, adepto da teurgia e profundo conhecedor das tradições ocultas do Egito, da Grécia e do Oriente.

Por volta de 1760, estabeleceu em Bordeaux a Ordem dos Cavaleiros Maçônicos Élus-Cohens do Universo, cuja missão era reconciliar o homem com o mundo espiritual através de práticas teúrgicas.

Ainda jovem oficial do Exército Francês, Saint-Martin tomou contato com a Ordem por intermédio de um colega e, em 1765, aos 22 anos, foi iniciado por Pasqually. Rapidamente alcançou o mais alto grau, o de Réau-Croix, mas nunca deixou de questionar a necessidade das práticas ritualísticas complexas que caracterizavam a Ordem. Frequentemente perguntava a Pasqually se tais ritos eram indispensáveis para o conhecimento de Deus.

Com a morte de Pasqually, em 1774, a Ordem dos Élus-Cohens entrou em declínio. Muitos discípulos buscaram outros caminhos. Jean-Baptiste Willermoz, por exemplo, fundiu parte dos ensinamentos de Pasqually à Estrita Observância Templária, dando origem aos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa. Saint-Martin, por sua vez, preferiu trilhar um caminho independente, centrado no aprofundamento interior.

Jacob Böhme (1575–1624)

Jacob Böhme – O Mestre Interior

A virada espiritual definitiva na vida de Saint-Martin ocorreu quando entrou em contato com os escritos do místico alemão Jacob Böhme (1575–1624), em Estrasburgo. Boehme tornou-se seu “segundo mestre” e o inspirou a compreender que a verdadeira iniciação não depende de rituais externos, mas de uma transformação íntima e profunda, aquilo que ele denominou “O Caminho do Coração”.

Com tamanha devoção, Saint-Martin aprendeu alemão aos 45 anos apenas para ler Boehme em sua língua original. A partir de então, dedicou-se a traduzir e difundir suas obras, considerando-o o grande guia de sua maturidade espiritual.

Os Escritos de Saint-Martin

O primeiro livro de Saint-Martin, Dos Erros e da Verdade (1775), combateu o materialismo e o ateísmo crescentes de sua época. Ele publicou sempre sob o pseudônimo O Filósofo Desconhecido.

Outras obras importantes incluem:

  • A Visão Natural das Conexões Existentes entre o Divino, a Humanidade e o Universo
  • O Homem de Desejo
  • A Nova Pessoa
  • O Espírito das Coisas
  • O Ministério do Homem-espírito

Além disso, deixou vasta correspondência, manuscritos póstumos e traduções fundamentais de Boehme, como O Nascimento da Aurora, Os Três Princípios da Essência Divina e A Tripla Vida da Humanidade.

A Sociedade dos Íntimos

Os ensinamentos de Saint-Martin atraíram discípulos que se reuniram em torno de um círculo conhecido como Sociedade dos Íntimos. Esse grupo, pequeno e seleto, buscava cultivar uma espiritualidade pura e livre de ostentação.

Saint-Martin viveu com discrição, e apesar das turbulências da Revolução Francesa, jamais sofreu perseguição direta. Faleceu em 13 de outubro de 1803, deixando um legado espiritual que inspiraria gerações.

A Estruturação da Ordem Martinista

Após sua morte, os ensinamentos martinistas permaneceram restritos a círculos privados e discretos, transmitidos por iniciação. Apenas em 1888 ocorreu uma reestruturação pública do movimento, liderada por Papus (Dr. Gérard Encausse) e Augustin Chaboseau, que fundaram a Ordem Martinista.

Em 1891, formou-se o Conselho Supremo da Ordem, com Papus como seu primeiro presidente. O Martinismo cresceu rapidamente e se espalhou pelo mundo, consolidando-se como uma das mais importantes tradições esotéricas do Ocidente.

Entretanto, a Primeira Guerra Mundial trouxe severos prejuízos: Papus faleceu em 1916, servindo como médico militar, e muitos membros foram vítimas do conflito.

Em 1931, Chaboseau reorganizou a tradição, criando a Tradicional Ordem Martinista (TOM), para distinguir a linhagem legítima de grupos que reivindicavam indevidamente a sucessão de Papus.

As Três Ramificações Principais

A tradição martinista, originada no século XVIII a partir do martinezismo de Martinez de Pasqually e do pensamento místico de Louis-Claude de Saint-Martin, se expressa em diferentes correntes que atravessaram o tempo e se reorganizaram em ordens modernas. De forma geral, podemos identificar três ramificações centrais:

  1. A Ordem dos Cavaleiros Maçons Eleitos Cohens do Universo – mais próxima do sistema original de Pasqually, com forte ênfase na teurgia e estruturada em cinco graus.
  2. Os Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa (CBCS) – rito maçônico reorganizado por Jean-Baptiste Willermoz em 1778, de caráter mais templário e espiritual.
  3. A Ordem Martinista – vinculada ao trabalho de Papus (Gérard Encausse), baseada nos ensinamentos de Saint-Martin e conhecida também como Ordem dos Filósofos Desconhecidos (Silencieux Inconnus de l’Ordre).

Historicamente, tanto os Elus-Cohens quanto os CBCS tiveram maior proximidade com a maçonaria, enquanto o martinismo de Saint-Martin ganhou expressão mais livre e filosófica.

O Martinismo e a Ordem Rosacruz

Em 1939, Ralph Maxwell Lewis, Imperador da AMORC, foi iniciado na Tradicional Ordem Martinista por Georges Lagrèze, representante de Chaboseau. Assim, a tradição martinista encontrou continuidade também nas Américas, mesmo durante os períodos de repressão na Europa.

Outras Ordens Martinistas:

1. Ordem Martinista (Papus)

  • Fundada em Paris, 1888.
  • Primeiro Conselho Supremo contou com nomes como Papus, Chaboseau, Stanislas de Guaita, Charles Barlet e Sedir.
  • Papus foi o primeiro Grande Mestre até sua morte em 1916.
  • Após divergências internas, originou diferentes linhagens.

2. Ordem Martinista-Martinezista (Lyon)

  • Fundada por Charles Detré (Teder) em 1916.
  • Exigência de filiação maçônica levou a divisões e ao surgimento de novas ordens independentes.

3. Ordem Martinista de Paris

  • Fundada em 1951 por Philippe Encausse (filho de Papus).
  • Buscou reunir martinistas livres e restaurar a constituição original.
  • Posteriormente integrada a federações martinistas internacionais.

4. Ordem Martinista Belga e dos Países Baixos

  • Fundadas em 1968, ligadas inicialmente a Philippe Encausse.
  • Surgiram como alternativa à vinculação da Ordem Martinista francesa com a Igreja Gnóstica Apostólica.
  • Valorizavam maior liberdade religiosa.

5. Ordem Martinista dos Elus Cohens

  • Restauração da tradição teúrgica de Pasqually.
  • Revitalizada por Robert Ambelain (Sar Aurifer) no século XX.
  • Transmitia os graus de Mestre Elus-Cohen até Réaux-Croix.

6. Ordem Martinista Sinarquica (OMS)

  • Fundada em 1918 por Victor Blanchard (Sar Yesir).
  • Rejeitou a exigência maçônica e admitia homens e mulheres.
  • É considerada uma das ordens mais estáveis e ininterruptas até hoje.

(FAQ) Perguntas Frequentes sobre o Martinismo❓

O que é o Martinismo?

O Martinismo é uma tradição espiritual e esotérica originada no século XVIII, baseada nos ensinamentos de Martinès de Pasqually e Louis-Claude de Saint-Martin. Seu objetivo é a reconciliação do homem com o divino por meio do autoconhecimento e da transformação interior.

Quem foi Louis-Claude de Saint-Martin?

Conhecido como “O Filósofo Desconhecido”, Saint-Martin (1743–1803) foi um místico e escritor francês que difundiu o Caminho do Coração, uma via espiritual centrada na interiorização, sem depender de rituais complexos.

Quais são as principais ordens martinistas?

As principais tradições martinistas são:

  • Ordem dos Elus-Cohens (Martinès de Pasqually)
  • Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa (CBCS) (Willermoz)
  • Ordem Martinista (Papus)
    Além delas, surgiram outras ramificações no século XX, como a Ordem Martinista Sinarquica e a Ordem Martinista dos Elus-Cohens (revitalizada por Robert Ambelain).
  • Tradicional Ordem Martinista (TOM) – Mantida sob a égide da AMORC.

Qual a relação entre Martinismo e Rosacruz?

O Martinismo e a Ordem Rosacruz (AMORC) se aproximaram em 1939, quando Ralph Maxwell Lewis, Imperador da AMORC, foi iniciado na Tradicional Ordem Martinista (TOM). Desde então, as duas tradições mantêm vínculos históricos e filosóficos.


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