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Grau 9 da Maçonaria – Mestre Eleito dos Nove do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA)

Recordamos aos Irmãos, bem como aos profanos interessados, que qualquer estudo sobre Maçonaria dirigido ao público externo deve conter somente informações de caráter geral — aquelas que já se encontram nos livros introdutórios de história, simbologia e filosofia maçônica. Os ensinamentos considerados reservados, transmitidos exclusivamente em Loja e nos momentos apropriados, permanecem restritos aos Iniciados da Ordem.

Portanto, tudo o que será exposto aqui está rigorosamente dentro dos limites do sigilo maçônico e tem como propósito maior promover o aperfeiçoamento ético, intelectual e espiritual daqueles que desejam beber dessa fonte de Luz que é a nossa Sublime Ordem Maçônica.

O nono grau do Rito Escocês Antigo e Aceito, conhecido como Mestre Eleito dos Nove ou Cavaleiro Eleito dos Nove, representa um dos momentos mais densos e simbólicos da trajetória iniciática do maçom nos Altos Graus. Após passar por graus comunicados — como o 5º, 6º, 7º e 8º — o iniciado é novamente conduzido por um processo ritual de Iniciação plena, mergulhando em um cenário que mescla tradição, lenda, drama moral, simbolismo místico e significados psicológicos profundos.

Este grau pertence ao grupo dos Graus Inefáveis, ou seja, aqueles que continuam o desdobramento do drama de Hiram Abiff, o arquétipo do mestre construtor e mártir, cujo assassinato fundamenta o simbolismo central da Maçonaria. Ao lado dos graus 4, 5, 6 e 10, o Grau 9 mantém uma ligação direta com a Lenda de Hiram, oferecendo uma leitura moral e espiritual dos acontecimentos posteriores à sua morte.

Justiça ou Vingança? A Complexa Lição Moral do Grau

Mais do que uma simples sequência cronológica na escala dos graus, o Grau 9 é uma transição de consciência. Ele retoma a narrativa trágica de Hiram e a amplia com um episódio de forte impacto simbólico: a perseguição e morte de um dos seus assassinos. A princípio, pode parecer que o grau glorifica o ato de vingança, mas a lição moral que se revela ao longo da ritualística é justamente o oposto: a superação do instinto pela razão, o julgamento ponderado acima da impulsividade.

A referência ao Tribunal de Santa Veheme, conhecida instância secreta da justiça medieval germânica, insinua o aspecto sombrio da justiça punitiva. O Tribunal era temido por seus métodos secretos e, muitas vezes, cruéis, o que estabelece um paralelo direto com o clima do ritual do Grau 9, em que os sentimentos mais viscerais são colocados em confronto com os princípios da equidade, da prudência e da consciência superior.

A Loja do Grau 9: Ambiência Ritualística e Cores Simbólicas

O cenário ritualístico é cuidadosamente construído para criar uma ambiência sombria e introspectiva. A Loja representa uma câmara secreta de Salomão, decorada com cores e símbolos que evocam luto, dor, mistério e transgressão. O preto predomina, entremeado por lágrimas prateadas e manchas vermelhas, símbolos visíveis do sofrimento e do sangue derramado. Caveiras, ossos cruzados e chamas completam o quadro de um espaço que transcende a realidade material e convida o iniciado à introspecção e à confrontação com as próprias sombras.

As colunas da Loja estão pintadas com faixas brancas e vermelhas, cores que aludem à pureza manchada pelo crime e ao equilíbrio entre justiça e misericórdia. O Altar dos Juramentos, coberto por um pano negro, contém os livros sagrados do Rito: o Pentateuco, os Estatutos do Supremo Conselho, as Constituições do Rito Escocês, bem como duas espadas cruzadas e um punhal — símbolos da justiça, da luta moral e do poder sobre a vida e a morte.

A iluminação do templo é cuidadosamente simbólica: nove luzes distribuem-se no espaço, sendo oito em octaedro ao redor do altar e uma isolada no caminho ao Oriente. Essa disposição luminosa remete à própria jornada do Grau: um grupo de nove eleitos que caminham, ainda que sob trevas, guiados por uma centelha de razão.

Os Mistérios Iniciáticos do Grau 9

Como em todo grau maçônico, há palavras sagradas, toques, sinais, baterias, idade simbólica e insígnias que compõem o código ritual do Mestre Eleito dos Nove. No entanto, neste grau, tais elementos adquirem um tom dramático, marcado pela dor da perda e pela angústia da justiça por fazer. A palavra de passe, por exemplo, significa “está revelado”, indicando que a verdade veio à tona, a identidade do assassino foi descoberta e que a ação será tomada. Neste contexto, temos diversas referências ao número nove, número cabalístico da perfeição iniciática neste ciclo.

Convidamo-lhes à leitura da nossa publicação sobre o número nove:

Avental, Insígnias e Vestes: Cada detalhe tem um significado

As vestes do Grau expressam com precisão os significados da missão dos Eleitos. O avental é feito de pele branca, mas é forrado de vermelho e bordado de preto. Sobre ele, uma mão segurando uma cabeça ensanguentada simboliza o resultado trágico da ação de vingança. Na abeta, outra mão segura um punhal. Todo o conjunto é ao mesmo tempo simbólico da justiça feita e da brutalidade do ato.

A fita é negra, adornada com nove rosetas vermelhas, e sustenta a jóia do Grau, que é um punhal. O punhal se torna assim emblema de um poder que pode ser destrutivo ou purificador, dependendo da consciência de quem o empunha.

A Lenda do Grau: A Missão dos Nove e o Julgamento de Joabem 📜

O enredo dramatizado no ritual tem início quando um desconhecido se apresenta ao rei Salomão afirmando saber onde estão os assassinos de Hiram. Ele narra que, enquanto caminhava próximo a Jopa, seu cão se desviou para beber água em uma fonte cercada de espinheiros. Ao segui-lo, encontrou uma caverna levemente iluminada, onde estavam três homens escondidos — os assassinos.

Salomão escolhe nove Mestres, entre eles o próprio desconhecido, e os envia em missão para capturar os criminosos. No caminho, Joabem, um dos cavaleiros, se adianta e encontra um dos assassinos dormindo, com um punhal aos pés. Dominado pela fúria ou zelo, Joabem apunhala o inimigo no coração, arranca-lhe a cabeça e retorna com ela a Salomão. Antes disso, lava as mãos na fonte e bebe dela.

Esse gesto de Joabem é ambíguo: simboliza pureza ritual ou uma tentativa de se lavar da culpa? Representa o instinto de justiça ou a sede por vingança?

Salomão, ao receber a cabeça, inicialmente repreende Joabem, por agir sem autorização, contrariando o ideal de julgamento justo. No entanto, cede à intercessão dos outros cavaleiros e o perdoa, conferindo ao grupo o título de Mestres Eleitos dos Nove.

Esse episódio traz a lição central do grau: a vingança cega pode parecer justiça, mas a verdadeira justiça é temperada pela razão e pelo equilíbrio moral. Joabem, embora tenha agido com coragem, ultrapassou os limites éticos da missão. Salomão, por sua vez, simboliza a evolução do governante que, mesmo ferido pela perda, compreende que a retaliação impensada apenas perpetua a dor.

Simbolismo do Grau 9

O ritual do Grau 9 pode ser interpretado sob uma chave simbólica e psicológica profunda. O personagem desconhecido que revela o paradeiro dos criminosos representa a razão, a força interior que guia o iniciado na busca pela verdade. A Loja dos Mestres Eleitos dos Nove, formada por cavaleiros silenciosos vestidos de negro, simboliza os sentidos humanos – instrumentos de percepção e ação.

A caverna oculta junto à fonte é o arquétipo do inconsciente, o espaço psíquico onde residem traumas, segredos, desejos reprimidos e sombras. A jornada até Jopa reflete a travessia interior do iniciado, que, conduzido pela razão, desce às profundezas de sua própria alma para confrontar os impulsos mais primitivos, representados pelos assassinos de Hiram. O objetivo não é destruí-los, mas reconhecê-los e dominá-los.

O uso predominante do preto nas vestes e na decoração do templo reforça o caráter introspectivo do grau, indicando um mergulho simbólico nas trevas interiores. Em contraste, a luz central da Loja representa a consciência superior – o Logos –, que ilumina e orienta mesmo nas regiões mais obscuras do ser.

Interpretação Moral e Iniciática

O grau, em sua essência, não glorifica a vingança, mas a denuncia. Ele faz o iniciado vivenciar a tensão entre o desejo de retribuição e o imperativo moral de equilíbrio. Essa tensão é fundamental para quem busca a verdadeira maestria: agir com justiça sem ceder à ira, punir sem odiar, corrigir sem destruir.

O punhal, emblema do Grau, é uma arma ambígua. Pode matar ou libertar. Simboliza a escolha do iniciado diante de seus próprios conflitos. Aquele que não souber controlar seus impulsos, mesmo com o título de Mestre, jamais será verdadeiramente um Eleito.

O Grau revela a ignomínia da vingança pura e simples e revela ao Iniciado a importância da razão no comando dos sentidos. O desconhecido do enredo representa a razão; a Loja dos Eleitos dos Nove, os sentidos; e a caverna, o inconsciente. 

Considerações Finais

O Grau 9 do Rito Escocês Antigo e Aceito constitui uma das experiências mais intensas do caminho maçônico. Ele conduz o iniciado por entre sombras e revelações, entre dor e justiça, entre instinto e razão. Ao dramatizar o assassinato do primeiro culpado pela morte de Hiram, o ritual mostra que o verdadeiro julgamento começa dentro de cada um de nós.

Ao fim do processo, o Mestre Eleito dos Nove não é apenas alguém que participou de uma missão, mas alguém que reconheceu e venceu seus próprios abismos interiores. Só assim poderá seguir adiante na senda dos Altos Graus com retidão, clareza e verdadeiro espírito de fraternidade e sabedoria.

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Na próxima publicação desta série, exploraremos juntos os segredos e ensinamentos do 10º Grau, o Cavaleiro Eleito dos Quinze.

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