
Recordamos aos Irmãos, bem como aos profanos interessados, que qualquer estudo sobre Maçonaria dirigido ao público externo deve conter somente informações de caráter geral — aquelas que já se encontram nos livros introdutórios de história, simbologia e filosofia maçônica. Os ensinamentos considerados reservados, transmitidos exclusivamente em Loja e nos momentos apropriados, permanecem restritos aos Iniciados da Ordem.
Portanto, tudo o que será exposto aqui está rigorosamente dentro dos limites do sigilo maçônico e tem como propósito maior promover o aperfeiçoamento ético, intelectual e espiritual daqueles que desejam beber dessa fonte de Luz que é a nossa Sublime Ordem Maçônica.
O Grau 8 do Rito Escocês Antigo e Aceito, denominado Intendente dos Edifícios, integra a série dos chamados Graus Inefáveis, que compreendem do 4º ao 14º graus da hierarquia escocesa. Trata-se de uma etapa simbólica e filosófica de elevada importância, que busca transferir ao Iniciado um conjunto de valores ligados à moral, à justiça e à construção do Edifício Social e Espiritual do Homem.
Este Grau é concedido por comunicação, o que significa que, diferentemente de graus conferidos por iniciação plena com dramatização ritual, o conteúdo do Intendente dos Edifícios é transmitido de forma mais direta, muitas vezes sem a encenação completa do drama iniciático. Apesar disso, é um Grau profundo, repleto de simbolismo e ensinamentos sobre a justiça, a responsabilidade e o papel transformador do saber e do trabalho.
A Câmara do Grau
A Câmara do 8º Grau é chamada de Loja do Intendente dos Edifícios. Sua ornamentação é rica em cores simbólicas, sendo suas paredes revestidas de vermelho — cor que simboliza a ação, o vigor e o sangue vital da humanidade.
A iluminação da Loja é feita por vinte e sete luzes, distribuídas da seguinte maneira:
- 5 diante do Segundo Vigilante (Adonhiram),
- 7 diante do Primeiro Vigilante (Tito, príncipe dos construtores),
- 15 diante do Trono do Presidente (Salomão).
Essa distribuição luminosa não é arbitrária: cada grupo representa níveis de conhecimento, hierarquia, e também remete aos anos de trabalho dos obreiros na construção do Templo — num total de 27 anos, cifra que simboliza a idade ritualística do Grau.
Os Oficiais da Loja
- O Presidente da Loja representa o Rei Salomão e ostenta o título de Três Vezes Poderoso.
- O Primeiro Vigilante representa Tito, Príncipe dos Construtores.
- O Segundo Vigilante representa Adonhiram, o discípulo e sucessor simbólico de Hiram Abiff.
- Os demais Irmãos são denominados Ilustres Intendentes e assumem a responsabilidade de zelar pelo progresso moral e intelectual da sociedade.
Tanto Tito quanto Adonhiram recebem o título honorífico de Ilustríssimos Inspetores, indicando seu grau de instrução e responsabilidade.
Vestes e Insígnias

Os Intendentes dos Edifícios trajam-se de negro, simbolizando sobriedade, introspecção e preparação. Usam luvas brancas, emblemas de pureza nas intenções e ações.
A faixa do Grau é vermelha, passando do ombro direito ao flanco esquerdo.
A Jóia do Grau é um triângulo dourado com palavras inscritas em hebraico:
- Face frontal: MIROHCNEB, RAKAH e IANIKAJ
- Reverso: ADUJ e HAJ
Essas palavras são carregadas de simbolismo místico:
- Mirohcneb (ou Bem Chorim) significa “Filhos da Liberdade”,
- Aduj (Judá), nome da tribo hebraica,
- Haj (ou Jah), representa “Senhor”.
O Avental é branco com bordas verdes, representando a esperança e a regeneração. Sobre sua abeta, encontra-se o triângulo com as palavras sagradas. Ao centro do avental, uma estrela de nove pontas, com uma balança dourada sobreposta — símbolos de equilíbrio, justiça e harmonia, princípios fundamentais do Grau.
A Lenda e o Ensinamento do Grau
A lenda que fundamenta o Grau 8 está relacionada ao período posterior à construção do Templo de Jerusalém. Após a conclusão dessa obra monumental, Salomão se deparou com um dilema: os artífices, em sua maioria estrangeiros, haviam cumprido seu papel, mas muitos haviam fixado residência em Jerusalém após 27 anos de trabalhos, formando famílias e estabelecendo raízes.
Salomão, percebendo a necessidade de autonomia do povo hebreu na arte da construção, resolve fundar uma Escola de Arquitetura, com o intuito de formar operários entre os próprios israelitas. Assim, designa os cinco discípulos mais aptos de Hiram para assumirem a função de Intendentes dos Edifícios, dando início a um novo ciclo de construção — agora voltado não somente a edifícios materiais, mas aos edifícios sociais, morais e espirituais da humanidade.
Moral Filosófica do Grau
A construção do Edifício Social é o tema central e filosófico do Grau. Através de seus símbolos e alegorias, o Grau 8 ensina que a sociedade humana se sustenta sobre dois pilares fundamentais: o Trabalho e a Propriedade.
No entanto, para que haja verdadeira justiça social e harmonia, é indispensável que o trabalho seja livre e que a propriedade seja justa — ou seja, oriunda do esforço legítimo. O verdadeiro Maçom, portanto, deve trabalhar pelo equilíbrio entre capital, propriedade e trabalho, combatendo a ignorância, a hipocrisia e a ambição desenfreada.
O conteúdo simbólico e pedagógico do Grau é transmitido por meio de um catecismo ou questionário ritualístico, que sintetiza os princípios morais, contendo elementos que destacam o ideal maçônico de aperfeiçoamento pessoal e humildade frente ao saber, essenciais para aqueles que aspiram conduzir outros.
A Maçonaria, sendo uma escola de moral e espiritualidade, compreende que o trabalho do Iniciado não é apenas o operário, mas o obreiro do espírito, aquele que constrói em si mesmo o Templo da Sabedoria, do Amor e da Justiça.
A Missão do Intendente dos Edifícios
O Intendente dos Edifícios não é apenas um arquiteto material, mas, sobretudo, um educador, legislador e exemplo moral. É sua missão interpretar simbolicamente os ensinamentos do Grau e auxiliar na formação ética dos demais irmãos, bem como colaborar na estruturação de uma sociedade mais justa e fraterna.
A Justiça, como princípio orientador deste Grau, deve manifestar-se tanto nas relações sociais quanto nas atitudes individuais do Iniciado. A busca pela sabedoria se materializa em ações corretas, justas e conscientes.
O Templo e o Túmulo
O Grau 8 também introduz um conceito profundo: a construção do túmulo como templo interior. Após a morte simbólica de Hiram, representando a perda do saber inefável, Salomão propõe a edificação de um túmulo digno de seu Mestre, significando a imortalização do conhecimento, da honra e da virtude.
Essa alegoria convida cada Maçom a construir o próprio túmulo simbólico — não como expressão de morte, mas como renascimento. É no túmulo que a alma ressurge, purificada e preparada para um novo ciclo.
Reflexão Final
O Grau 8 – Intendente dos Edifícios – representa o amadurecimento moral do Iniciado que, tendo passado pelos Mistérios dos Graus anteriores, agora é chamado à ação responsável no mundo. Não se trata apenas de contemplar o Templo, mas de assumir o papel de construtor moral da sociedade e de si mesmo.
Esse Grau propõe uma Maçonaria atuante, que não se limita ao conhecimento especulativo, mas que transforma este saber em virtudes práticas, a serviço da humanidade.
Ao fim, o Intendente dos Edifícios aprende que sua principal construção será o Templo Invisível, edificado com as colunas da Justiça, Sabedoria e Amor — dentro do santuário de sua própria consciência.
Na próxima publicação, exploraremos juntos os segredos e ensinamentos dos Altos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, abordaremos o 9º Grau, o Cavaleiro Eleito dos Nove.
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