
Recordamos aos Irmãos, bem como aos profanos interessados, que qualquer estudo sobre Maçonaria dirigido ao público externo deve conter somente informações de caráter geral — aquelas que já se encontram nos livros introdutórios de história, simbologia e filosofia maçônica. Os ensinamentos considerados reservados, transmitidos exclusivamente em Loja e nos momentos apropriados, permanecem restritos aos Iniciados da Ordem.
Portanto, tudo o que será exposto aqui está rigorosamente dentro dos limites do sigilo maçônico e tem como propósito maior promover o aperfeiçoamento ético, intelectual e espiritual daqueles que desejam beber dessa fonte de Luz que é a nossa Sublime Ordem Maçônica.
Cada degrau na escada das Lojas de Perfeição representa virtudes específicas que o iniciado deve cultivar em sua jornada. Enquanto o Mestre Secreto exige perseverança, sigilo e dedicação ao estudo, e o Mestre Perfeito demanda sensibilidade e compreensão, o Secretário Íntimo deve personificar o zelo e a fidelidade à Ordem e aos Irmãos. São essas qualidades que legitimam sua posição como guardião dos segredos mais profundos da hierarquia maçônica.
No sétimo grau, porém, a virtude central é o espírito de justiça. Por essa razão, os que alcançam esse estágio recebem o título de Prebostes e Juízes. Essa designação remonta à tradição que atribui a Salomão a criação de um tribunal formado por sete magistrados após a conclusão do Templo de Jerusalém, encarregados de resolver as demandas do povo com equidade.
Ornamentação da Loja
- Cores predominantes: Vermelha (paredes, cortinas ou tapeçarias).
- Simbolismo: O vermelho frequentemente representa força, justiça, sacrifício ou zelo (dependendo do rito). Em alguns graus filosóficos, também pode aludir ao fogo purificador ou à coragem.
- Iluminação: Cinco luzes (velas ou lâmpadas), dispostas:
- Uma em cada canto (total de quatro, representando os pontos cardeais ou os elementos).
- Uma no centro (símbolo do equilíbrio e da presença divina ou da sabedoria central).
Figura do Presidente (Tito)
- Identificação: O presidente da sessão é chamado de Tito, título que remete ao Príncipe dos Harodins (ou Harodim).
- Harodim: Termo hebraico (הֲרֹדִים) que significa “os chefes” ou “os mestres”. No contexto maçônico, está associado a graus superiores (como no Rito de York ou no Real Arco), onde os Harodins são os construtores do Templo de Salomão, responsáveis por supervisionar as obras.
- Tito: Pode ser uma referência a Tito, imperador romano que destruiu o Segundo Templo de Jerusalém (70 d.C.) — um evento com profundo simbolismo em certos graus maçônicos, especialmente nos relacionados a reconstrução ou justiça histórica.
Insígias e Idumentária

Avental
O bolso tem função simbólica: guardar a chave da urna de ébano, onde são armazenadas as atas (documentos importantes).
Cor: Branco, bordado em vermelho.
Detalhes:
Possui um bolso e uma roseta vermelha no corpo.
Na abeta (pequena aba ou dobra do avental), há uma chave bordada ou aplicada.
Fita e Jóia
- Fita: Vermelho-vivo, usada em tiracolo (diagonal do ombro ao quadril oposto).
- Jóia: Uma chave, pendente à fita.
- Simbolismo: A chave representa acesso, guarda ou responsabilidade, condizente com o grau e o cargo de Preboste e Juiz.
Indumentária dos Irmãos
- Todos os membros devem estar vestidos de preto, indicando formalidade, sobriedade e possivelmente luto (dependendo do contexto ritualístico).
A Sabedoria de Salomão e a Essência da Justiça
Um dos episódios mais emblemáticos associados a esse grau é o julgamento das duas mães, narrado nas Escrituras. Duas mulheres reivindicavam a maternidade de uma mesma criança, e Salomão, diante da impossibilidade de discernir a verdade apenas pelas alegações, propôs dividir o menino ao meio. A reação de cada uma — uma concordando com a sentença, a outra preferindo renunciar à criança para preservar sua vida — revelou quem era a verdadeira mãe.

Esse relato transcende o âmbito jurídico: ele ilustra que a justiça genuína exige mais do que a mera aplicação da lei; demanda discernimento, empatia e sabedoria prática. O maçom, ao ser elevado a Preboste e Juiz, é convidado a exercer não apenas o rigor legal, mas a equidade moral, especialmente em suas relações fraternais e na vida profana.
As Raízes da Justiça no Legado Mosaico
A estrutura ritualística desse grau se fundamenta nos princípios judiciários estabelecidos no Deuteronômio, que orientavam o antigo Israel.
Deuteronómio 16: 18-20: “ Estabelecerás juízes e magistrados em todas as cidades, que o Senhor teu Deus te houver dado em cada uma das tua tribos: para que julguem o povo com rectidão de justiça, sem se inclinarem para parte alguma. Não farás aceitação de pessoas nem receberás dádivas: porque as dádivas cegam os olhos dos sábios, transformam as palavras dos justos. Administrarás a justiça com rectidão: para que vivas e possuas a terra, que o Senhor teu Deus te houver dado”
Moisés, ao libertar seu povo do Egito, instituiu um sistema baseado na imparcialidade, na proibição de suborno e na proteção aos vulneráveis. Diferentemente do Código de Hamurábi — marcado por severas punições e distinções sociais —, a legislação hebraica apresentava traços humanistas, como:
- A proibição da escravidão perpétua entre hebreus;
- A defesa do estrangeiro e do pobre;
- A remissão de dívidas a cada sete anos;
- A escolha de juízes pelo povo, vedados a aceitar presentes que comprometessem sua integridade.

Essas leis refletiam uma sociedade que, recém-liberta da opressão, buscava evitar a tirania em suas próprias instituições. Até mesmo os reis estavam submetidos a esses preceitos, como demonstra o episódio em que o profeta Natã confronta Davi por seu crime contra Urias, mostrando que nenhum poder era absoluto.
É amplamente conhecido o episódio envolvendo o Rei Davi, que, desejando tomar para si a esposa de um de seus súditos, o hitita Urias, ordenou que este fosse colocado na linha de frente da batalha, onde certamente pereceria. Com a morte de Urias, Davi desposou sua viúva, Betsabá, que mais tarde daria à luz o rei Salomão. Ao tomar conhecimento desse fato, o profeta Natã dirigiu-se ao rei e lhe apresentou uma parábola: “Em uma cidade havia dois homens, um rico e outro pobre. O rico possuía muitos bens, mas o pobre tinha apenas uma única cordeirinha, que criara com carinho. Certo dia, o rico, para alimentar um visitante, recusando-se a usar de seus próprios recursos, tomou a cordeira do pobre e a ofereceu ao forasteiro. Que julgamento dás a este homem?” Davi respondeu prontamente que tal homem merecia a morte. Ao que Natã replicou: “Esse homem és tu, pois fizeste morrer Urias pela espada para tomar-lhe a mulher.”
Natã, então, profetizou que Davi jamais teria tranquilidade durante seu reinado e que suas próprias esposas seriam tomadas por outros homens, como punição por sua ação.
Esse episódio evidencia que o poder dos reis de Israel, ao menos em princípio, não era ilimitado, como o era em outros reinos do Oriente Antigo. Tal limitação já se encontrava expressa no mandamento registrado no livro do Deuteronômio (17:18–20), segundo o qual o rei deveria conservar consigo uma cópia da Lei, lendo-a diariamente, “para que o seu coração não se exalte acima de seus irmãos e não se desvie dos mandamentos”.
Paradoxalmente, seria a própria ambição de Salomão que provocaria a cisão que levaria ao colapso da unidade do reino de Israel. Buscando espelhar-se nos monarcas estrangeiros, com quem estabeleceu diversas alianças, Salomão acabou infringindo boa parte das normas estabelecidas por Moisés. Como consequência, surgiram revoltas entre as tribos do norte.
Após sua morte, essas tribos se separaram, formando o Reino de Israel. As tribos do sul — Judá e Benjamim — permaneceram sob o domínio de Roboão, filho de Salomão, e passaram a constituir o Reino de Judá. A nova capital do reino dissidente foi estabelecida em Samaria, e seus habitantes ficaram conhecidos como samaritanos. Já os que seguiram com Roboão passaram a ser identificados como judeus. Entre esses dois povos israelitas formou-se uma rivalidade persistente, que se prolongou por muitos séculos.

O Reino de Israel foi conquistado em 722 a.C. pelos assírios — guerreiros oriundos do norte da Mesopotâmia. Eles destruíram as cidades de Samaria, deportaram grande parte da população e a dispersaram entre os territórios dominados, apagando a identidade do Reino do Norte. Desde então, esses israelitas ficaram conhecidos como as Dez Tribos Perdidas.
O Reino de Judá resistiu até 586 a.C., quando foi subjugado pelos caldeus. Os judeus foram levados cativos para a Babilônia, onde permaneceram até que Ciro, rei da Pérsia, conquistou o império caldeu e autorizou o retorno dos judeus à Palestina para reconstruir o Templo de Salomão. Contudo, apenas sob o reinado de Dario II, identificado pelos judeus como Assuero, é que a reconstrução foi concluída.
Esse episódio histórico será retomado nos graus seguintes (do 10 ao 14), como representação simbólica da reconstrução moral e espiritual do iniciado, que, ao ingressar nos mistérios maçônicos, começa a edificar um novo caráter. A restauração de Jerusalém representa, portanto, a reestruturação do ser profano pela vivência da Maçonaria autêntica — aquela que os antigos israelitas procuraram manter por meio de uma aliança sagrada com o Grande Arquiteto do Universo, custasse o que custasse, diante de qualquer circunstância.
O Ensino Maçônico: Justiça Além da Lei
No grau de Preboste e Juiz, o maçom é instruído a:
- Agir com humildade, lembrando que “quem julga será julgado”;
- Priorizar a equidade sobre o formalismo legal;
- Proteger os mais fracos, assegurando que a lei não seja instrumento de opressão;
- Evitar a hipocrisia farisaica, que condena pequenas falhas alheias enquanto ignora transgressões maiores.
Como ensinava Jesus, a justiça verdadeira reside no espírito da lei, não em sua letra. Os fariseus “coavam mosquitos e engoliam camelos” — ou seja, perdiam-se em detalhes insignificantes enquanto negligenciam valores essenciais, como honra, compaixão e amor ao próximo.
Maat e a Justiça como Leveza da Alma
No panteão do Antigo Egito, Maat personificava a ordem cósmica, a verdade e a justiça. Era ela quem garantia o equilíbrio entre o céu e a terra, entre os deuses e os homens. Seu símbolo — uma pena de avestruz — não era apenas um adorno, mas a representação de um princípio fundamental: a justiça como leveza de ser.

No Livro dos Mortos, o defunto era conduzido à Sala das Duas Verdades, onde seu coração (sede das intenções e ações) era colocado em uma balança contra a pena de Maat. Se o coração fosse mais leve, a alma era declarada “justa de voz” e seguia para o Aaru, o paraíso. Se pesasse mais, era devorada por Ammut, o devorador de mortos.
A influência de Maat ecoa e encaixa-se no grau de Preboste e Juiz e em toda a filosofia maçônica. A pena simboliza que:
- A Justiça é Invisível, mas Mensurável
- Assim como a pena, a verdadeira justiça não depende de grandiosidade, mas de pureza de intenção. O maçom é instado a julgar com desprendimento, sem que interesses pessoais “pesem” em suas decisões.
- O Peso das Ações
- Na lenda de Hiram Abif, o assassinato do mestre arquiteto rompe a ordem (Maat) do Templo. Reconstruí-lo exige restaurar o equilíbrio — assim como no Egito, onde a desordem (Isfet) exigia ritos de reparação.
- A Leveza da Alma
- A pena lembra que a consciência limpa não oprime. Um maçom que age com retidão não carrega o fardo da culpa ou da dúvida. Sua “alma leve” reflete a clareza moral descrita nos Landmarks.
Liberdade, Landmarks e a Rejeição ao Dogmatismo
Na Maçonaria, os Landmarks são considerados princípios fundamentais e universais que regem sua estrutura e tradição. São vinte e cinco ao todo e abrangem, principalmente, os meios de reconhecimento entre os irmãos — como toques, sinais e palavras de passe. Também fazem parte desse conjunto elementos simbólicos e organizacionais essenciais à identidade maçônica.
Entre eles, destacam-se a Lenda de Hiram no grau de Mestre, o governo das potências por um Grão-Mestre, o poder deste para conferir graus e autorizar a fundação de Lojas, a obrigatoriedade de reuniões em Loja, a administração das mesmas por um Venerável e dois Vigilantes, além dos direitos e deveres dos maçons regulares. Incluem-se ainda o direito de visitar outras Lojas, a prerrogativa das Lojas de examinar visitantes (trolhamento), e a proibição de interferência entre Lojas distintas.
Os Landmarks também determinam que as Lojas podem recusar candidatos por motivos físicos ou sociais, exigem que todo candidato creia em um Ser Supremo, e estabelecem a presença obrigatória de um Livro da Lei Sagrada nos trabalhos — que pode variar conforme a religião predominante da localidade (Bíblia, Alcorão, Vedas, Zend-Avesta etc.). Estão incluídos ainda o princípio da igualdade entre os maçons e o dever do sigilo sobre os assuntos internos.

Apesar de sua importância organizacional, os Landmarks não são dogmas inflexíveis. A Maçonaria permite — e até estimula — o debate livre sobre interpretações simbólicas e doutrinárias. Nesse sentido, a tolerância religiosa, política e ideológica, ainda que não expressa formalmente como Landmark, é talvez o mais elevado dos seus princípios.
Há, no entanto, um valor que não pode ser relativizado: a justiça. Negá-la seria negar a própria possibilidade de felicidade humana. A liberdade de pensamento, nesse contexto, é inegociável — mesmo diante de leis ou doutrinas que tentem impô-la como cláusula pétrea.
Leis que impedem a busca pela felicidade devem ser modificadas; dogmas, superados pelo exercício do livre pensar. A Maçonaria deve proteger esse ideal, mesmo sabendo que o pioneiro pagará o preço da mudança. Como aconteceu com figuras históricas, como Jesus, a coragem de questionar é parte do caminho.
Acima de tudo, o Mestre Preboste e Juiz deve sempre lembrar que a Maçonaria é uma congregação de homens livres. E o primeiro compromisso de um maçom é com a liberdade de consciência.
As Sete Viagens Iniciáticas
O ritual do grau envolve sete jornadas simbólicas, que revisitam os ensinamentos dos graus anteriores (Aprendiz, Companheiro, Mestre) e introduzem novas camadas de sabedoria:
- Disciplina e fundamentos (Aprendiz);
- Aprofundamento intelectual (Companheiro);
- Morte e renascimento (Mestre);
- Discrição e tolerância;
- Fidelidade aos juramentos;
- Equilíbrio entre direito e dever;
- Aplicação prática da justiça.
Conclusão: O Juiz como Servidor, não como Senhor
Ser Preboste e Juiz na Maçonaria não é exercer autoridade, mas serviço. É lembrar que a verdadeira justiça emana da harmonia entre razão e compaixão, e que o maior julgamento é aquele que fazemos sobre nós mesmos. Como dizia o ritual:
“Quando empunhardes a espada da justiça, que vossa mão seja guiada pela sabedoria, e vosso coração, pela misericórdia.”
Na próxima publicação, exploraremos juntos os segredos e ensinamentos dos Altos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, abordaremos o 8º Grau, o Intendente dos Edifícios.
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