Recordamos aos Irmãos, bem como aos profanos interessados, que qualquer estudo sobre Maçonaria dirigido ao público externo deve conter somente informações de caráter geral — aquelas que já se encontram nos livros introdutórios de história, simbologia e filosofia maçônica. Os ensinamentos considerados reservados, transmitidos exclusivamente em Loja e nos momentos apropriados, permanecem restritos aos Iniciados da Ordem.
Portanto, tudo o que será exposto aqui está rigorosamente dentro dos limites do sigilo maçônico e tem como propósito maior promover o aperfeiçoamento ético, intelectual e espiritual daqueles que desejam beber dessa fonte de Luz que é a nossa Sublime Ordem Maçônica.
O 6º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito, trata-se de um Grau intermediário, conhecido como Secretário Íntimo, é normalmente conferido por comunicação. Trata-se de um grau profundamente reflexivo, cujo enredo se fundamenta em episódios tradicionais e alegóricos envolvendo o Rei Salomão, o Rei Hirão de Tiro e o fiel oficial Joaben. O grau transmite ensinamentos de lealdade, zelo, discrição, retidão e fidelidade — virtudes indispensáveis para aqueles que detêm cargos de confiança junto aos grandes líderes.
Fundamento Tradicional e Simbólico
Embora o episódio central do grau não tenha base direta em textos bíblicos ou históricos, ele se ancora em tradições maçônicas e interpretações simbólicas que envolvem os lendários personagens bíblicos.
O enredo gira em torno de uma missão diplomática e de um incidente entre Joaben — secretário íntimo de Salomão — e Hirão, rei de Tiro, que havia sido aliado de Israel durante a construção do Templo de Jerusalém.
A Tradição do Conflito e da Reconciliação
Segundo a tradição maçônica, após a morte de Hiram Abiff e a conclusão do Templo, Salomão enviou a Hirão, rei de Tiro, uma proposta de gratidão: a entrega de vinte cidades na região de Cabul, na Galileia. Hirão, curioso e talvez desconfiado, decidiu visitar pessoalmente essas localidades, mas ao chegar ficou desapontado. As cidades, segundo seus critérios, eram áridas, improdutivas e de povo rude. Sentindo-se enganado por Salomão, Hirão se dirigiu imediatamente a Jerusalém, inflamado de ira, buscando explicações.
Ao tentar adentrar os aposentos reais de forma impetuosa e sem observar o cerimonial, sua atitude foi vista como uma ameaça. Joaben, secretário íntimo e fiel servidor do rei Salomão, o interceptou e o impediu de prosseguir sem o devido protocolo, temendo pela segurança do soberano. Hirão interpretou esse gesto como insolente e exigiu a punição de Joaben, acusando-o de desrespeito e espionagem.
Salomão, porém, com a sua proverbial sabedoria, não apenas apaziguou a situação, mas ressaltou que a atitude de Joaben era fruto de lealdade e zelo pelo monarca. Reconhecendo o erro de julgamento, Hirão não apenas retirou a exigência de punição, como sugeriu que Joaben fosse nomeado para redigir o tratado de reconciliação entre os dois reis.
Esse episódio simbólico retrata o ensinamento essencial e central do Grau: o Zelo.
Zelo x Curiosidade
O diálogo simbólico do grau mostra que o iniciado não deve buscar os mistérios maçônicos por mera curiosidade, mas sim por verdadeiro desejo de aperfeiçoamento. A curiosidade pode ser destrutiva, enquanto o zelo é construtivo. A Maçonaria exige do iniciado que ele compartilhe segredos e conviva com a intimidade dos irmãos — e isso demanda responsabilidade crescente.
Como “homem universal”, o Maçom está sempre em movimento e será testado em sua fidelidade. Enfrentará provocações, dúvidas e até mesmo tentativas de fazê-lo trair os segredos que guarda. Apenas os verdadeiramente zelosos resistirão às pressões. O curioso, por outro lado, corre o risco de ruína.
A Defesa da Maçonaria Contra a Intolerância
Historicamente, a Maçonaria foi perseguida por seu ideal libertário. Muitos irmãos foram encarcerados ou mortos por defenderem valores como igualdade, fraternidade e liberdade. A intolerância e o fanatismo ainda existem, e o Maçom continua sendo alvo em algumas sociedades.
Por isso, o Secretário Íntimo deve ser um defensor constante dos princípios da Ordem. Sua missão é zelar pelo legado maçônico mesmo diante das ameaças externas, sendo firme, fiel e constante.
O Homem de Todos os Lugares: Herança Rosa-cruz
A frase “De onde vindes? – De qualquer parte. Onde ides? – A qualquer parte.”, retirada do Ritual remete ao ideal Rosa-cruz do “cidadão do universo”. Esta alegoria é inspirada na figura de Christian Rosenkreutz, que viajou pelo mundo em busca dos segredos da natureza. No século XVII, alquimistas como Sheton e Sendivogius usaram o termo “cosmopolita” para se referir aos iniciados livres das amarras geográficas e políticas.
A simbologia também homenageia os maçons operativos, que viajavam entre cidades, levando consigo seus conhecimentos e segredos, como verdadeiros filhos do mundo.
Integração Entre História e Espiritualidade
Todas essas alegorias carregam lições morais e iniciáticas. A Maçonaria une duas dimensões: a espiritualista, que remonta aos primórdios da humanidade e da filosofia esotérica; e a histórica, centrada nas corporações de construtores medievais.
Essa integração permite ao iniciado subir pela “Escada da Perfeição”, conquistando virtudes maçônicas passo a passo. O Mestre Perfeito, discreto, fiel e zeloso, torna-se então digno de buscar a verdadeira Justiça — que será revelada nos graus seguintes.
O Cenário do Grau
O espaço reservado para os trabalhos rituais do Grau 6 é a Câmara de Audiências do Rei Salomão, onde são tratados assuntos diplomáticos e onde se observa o funcionamento da autoridade e da diplomacia regida pela sabedoria.
O Templo decorado para este Grau representa a Câmara de Audiências do Rei Salomão, já citada anteriormente e deve ter cortinas vermelhas e no trono há duas cadeiras uma para Salomão e outra para Hirão, Rei de Tiro.
Sobre o trono há duas espadas e um rolo de pergaminho (tratado), conforme observamos no Brasão Heráldico do Grau.
Insígnias do Secretário Intimo
Avental – Branco forrado e debruado de vermelho, contendo sobre a abeta um triângulo dourado.
Jóia do Grau – Fita a tiracolo de cor vermelho-vivo com a Jóia do Grau que são três triângulos entrelaçados.
Conclusão
O Grau 6 – Secretário Íntimo – representa a vitória do zelo sobre a curiosidade, da lealdade sobre a dúvida, e da sabedoria sobre a imprudência. Nele, o iniciado aprende que a discrição, a lealdade e o zelo são virtudes essenciais para quem deseja servir com retidão e confiança.
A simbologia do grau ensina que a curiosidade sem limites pode ser prejudicial, enquanto o silêncio prudente e a fidelidade aos princípios da Ordem fortalecem o caráter e consolidam a confiança entre os Irmãos.
Ao alcançar esse grau, o maçom assume um compromisso ainda mais profundo com a Arte Real, compreendendo que o verdadeiro saber exige responsabilidade, e que a Fraternidade Universal se edifica sobre pilares de confiança mútua, respeito e dedicação constante aos ideais superiores da Maçonaria.
Na próxima publicação, exploraremos juntos os segredos e ensinamentos dos Altos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, abordaremos o 7º Grau, o de Preboste e Juiz.