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Grau 5 – Mestre Perfeito – R.E.A.A.

Recordamos aos Irmãos, bem como aos profanos interessados, que qualquer estudo sobre Maçonaria dirigido ao público externo deve conter somente informações de caráter geral — aquelas que já se encontram nos livros introdutórios de história, simbologia e filosofia maçônica. Os ensinamentos considerados reservados, transmitidos exclusivamente em Loja e nos momentos apropriados, permanecem restritos aos Iniciados da Ordem.

Portanto, tudo o que será exposto aqui está rigorosamente dentro dos limites do sigilo maçônico e tem como propósito maior promover o aperfeiçoamento ético, intelectual e espiritual daqueles que desejam beber dessa fonte de Luz que é a nossa Sublime Ordem Maçônica.

Introdução

O Grau 5 do Rito Escocês Antigo e Aceito (R.E.A.A.), denominado Mestre Perfeito, é um grau intermediário dentro da hierarquia do Rito, conferido por meio de comunicação, sem a realização de uma cerimônia iniciática tradicional. Seu conteúdo esotérico está profundamente vinculado às tradições de Israel e à simbologia salomônica, promovendo uma progressão significativa na compreensão e interpretação da narrativa hirâmica.

Círculo de Estudos Maçônicos do Brasil

Nesta etapa, o foco recai sobre o translado dos restos mortais de Hiram Abiff para sua sepultura definitiva — um majestoso mausoléu construído com solenidade após sete anos de edificação do Templo.

Durante esse rito simbólico, as atividades no canteiro do Templo de Jerusalém são suspensas, e todos os operários se reúnem para prestar as últimas homenagens ao Mestre Hiram. Ele é conduzido com honra ao seu túmulo, no qual se deposita um triângulo de ouro contendo um fragmento da Palavra Sagrada outrora em sua posse — agora envolto em mistério e considerado perdido.

Dessa forma, o Grau de Mestre Perfeito surge como uma continuidade lógica e espiritual dos ensinamentos abordados nos Graus 3 e 4, aprofundando os temas da morte simbólica, da memória e da consagração das virtudes.

Contexto Histórico e Simbólico

Após a descoberta do corpo de Hiram Abiff, o Rei Salomão ordena que seus restos sejam levados a Jerusalém para que recebam honras fúnebres condignas. O corpo é embalsamado e colocado em uma urna, posicionada no terceiro degrau do altar do Sanctum Sanctorum, onde passa a ser venerado por todos os obreiros e pela população.

Apesar de o ritual do REAA apresentar uma liturgia discreta neste Grau, a disposição da câmara, as palavras utilizadas e os símbolos empregados deixam claro que o Grau de Mestre Perfeito ocupa uma posição essencial dentro da construção simbólica e iniciática em torno da enigmática morte do arquiteto Hiram Abiff — figura reverenciada como arquétipo do verdadeiro mestre.

Para os que compreendem verdadeiramente os fundamentos da Arte Real, torna-se evidente que o drama de Hiram transcende a mera representação ritualística ou qualquer metáfora simplista associada à elevação de grau. O Mestre Hiram não deve ser confundido com o personagem histórico descrito nas Escrituras — o artífice fenício responsável pela fundição das colunas de bronze e de outros objetos sagrados do Templo de Jerusalém.

No contexto do Rito Escocês, ele simboliza o sacrifício, a fidelidade ao dever e a incessante busca pela Verdade.

Ritos Fúnebres e Tradições Ancestrais

Embora o conteúdo litúrgico do Grau 5 não seja extenso, sua simbologia é repleta de significados espirituais e culturais. Este Grau, junto ao anterior, integra o ciclo dos chamados Graus Inefáveis, centrados na narrativa fúnebre de Hiram. Entretanto, sua cerimônia vai além da dramatização simbólica — ela remonta a práticas ancestrais de grandes civilizações do passado.

Os rituais ligados à morte do arquiteto ressoam tradições antigas preservadas por egípcios, gregos e romanos, civilizações que atribuíam grande importância aos ritos funerários. Nessas culturas, o respeito ao corpo do falecido e a correta execução das cerimônias póstumas eram considerados imprescindíveis à continuidade da alma ou à preservação da memória dos grandes homens.

No Egito, por exemplo, o culto aos mortos envolvia uma liturgia complexa, onde o destino da alma estava diretamente ligado à qualidade do sepultamento e à observância dos ritos adequados.

A alma daquele que morresse sem o devido ritual não poderia se apresentar diante de Osíris para ser julgada, tampouco alcançar a regeneração espiritual prometida por esse deus. Essa crença fundamenta-se na principal obra da literatura funerária egípcia: a descrição da travessia da Tuat, o misterioso domínio entre o mundo dos vivos e o renascimento da alma em espírito.

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É exatamente esse simbolismo que reverbera no ritual do Mestre Perfeito. A solene e enigmática cerimônia de sepultamento de Hiram busca preservar esse legado espiritual e cultural. Como afirma o próprio ritual:

“Um povo que abandona suas tradições perde seus alicerces.”

Nada deve ser feito fora do devido rito, pois é este que confere sentido, coesão e transcendência às ações humanas.

Esse mesmo princípio aparece nos Mistérios de Ísis e Osíris. Quando Osíris foi despedaçado e suas partes espalhadas, Ísis percorreu o Egito recolhendo cada fragmento do corpo do irmão-esposo. A cada parte recuperada, ela realizava os ritos fúnebres prescritos e erguia um templo em sua memória.

Essa narrativa reforça a ideia de que o ritual mortuário é essencial à jornada espiritual do falecido e à manutenção da ordem cósmica.

Essa concepção está bem ilustrada no túmulo do faraó Seti I, onde uma pintura representa o corpo de Osíris como a própria Tuat — a terra escura que a alma deve atravessar em busca da luz, guiada pela benevolência divina.

A alma que percorresse esse domínio com o auxílio do ritual correto emergiria do outro lado do corpo do deus, onde a deusa Nut sustentava o disco solar — símbolo da nova vida.

Simbologia do Grau

A ambientação simbólica da Loja no quinto grau é marcada pela cor verde nas paredes e pela cor branca nas colunas.

  • O verde, na tradição alquímica, representa o estágio inicial da putrefação — a “primeira morte” da matéria-prima.
  • O branco simboliza o início da regeneração, o renascimento que sucede essa morte simbólica.

Nesse cenário, o Maçom, inserido simbolicamente na tumba de Hiram, é comparado à semente de trigo lançada à terra. Assim como a semente, ele se torna a matéria-prima do alquimista, destinada a atravessar as trevas mais profundas até emergir com uma nova identidade espiritual.

À semelhança de Osíris, reconstituído por Ísis e ressurgido em outro estado, o iniciado será restaurado e renascerá com consciência transformada.

Segundo Eugène Canseliet, célebre discípulo de Fulcanelli, o verde da matéria-prima alquímica era chamado de “leão verde” ou vitríolo — sinal de que a substância estava pronta para iniciar sua jornada rumo à pedra filosofal.

Na Maçonaria, o verde das paredes pode representar esse mesmo momento iniciático. O Mestre Perfeito é, então, símbolo de uma alma em reverdecimento — como uma semente que germina e inicia sua trajetória em direção à luz.

Essa interpretação se baseia diretamente na narrativa do Grau, que descreve a transferência do corpo de Hiram, antes ocultado pelos três assassinos, para sua sepultura definitiva.

Dessa forma, a tumba de Hiram se converte na Caaba maçônica — o centro da busca espiritual.

As pedras sempre tiveram papel sagrado nas civilizações antigas, sendo associadas à manifestação do divino:

  • Jacó ergue uma pedra após sua visão;
  • Davi derrota Golias com uma pedra;
  • Os gregos usavam pedras como marcos sagrados.

A pedra, símbolo do mistério, é receptáculo do transcendental.

O Simbolismo do Sacrifício

Ao longo da história, os grandes feitos da humanidade foram frequentemente consagrados por meio da figura de um deus, de um herói ou de um “sacrificado”.

Um exemplo está em Abraão, convocado por Jeová a oferecer seu filho Isaque. Ainda que o sacrifício não tenha sido concretizado, o episódio representa a entrega absoluta à Vontade Divina como pré-condição para uma missão elevada.

Esse mesmo padrão ressurge na tradição cristã com a morte de Jesus, interpretada como o sacrifício redentor da humanidade.o de seus predecessores, mas também o dever sagrado de perpetuar a Luz através da Verdade e do Silêncio.

A Morte Redentora no Cristianismo

No cristianismo, a crucificação de Jesus Cristo representa o ápice do simbolismo do sacrifício.

📖 “Este é o Cálice do Meu Sangue, o Sangue da Nova e Eterna Aliança, que será derramado por vós e por muitos para remissão dos pecados.”

A partir deste sacrifício, surge uma nova era, uma nova aliança entre Deus e os homens, e o símbolo da cruz deixa de representar sofrimento para simbolizar redenção e vitória espiritual.

Assim como a morte de Osíris resultou em sua reconstituição espiritual e renascimento celeste, e a entrega de Isaque representou a consagração de Abraão, a morte de Jesus é interpretada como a vitória sobre a matéria e o nascimento da verdadeira Vida.

Na Maçonaria, o arquétipo de Hiram Abiff assume esse “papel”: o da morte sacrificial que instaura uma nova ordem. Não uma ordem exterior e profana, mas uma ordem espiritual, invisível, que nasce no coração do iniciado e deve ser resguardada com zelo, discrição e fidelidade.

A Tumba de Hiram

No centro do templo do quinto grau, encontramos um túmulo ornado com uma coluna quebrada, ao lado da qual repousam uma urna e ramos de acácias.

Sobre esse túmulo, erige-se um triângulo de ouro, no qual está gravado um fragmento da Palavra Perdida. Esse triângulo está envolto em mistério e reverência, pois representa não apenas a Palavra de Hiram, mas a Verdade que não pode ser dita, apenas vivenciada.

Ao redor dessa tumba, são colocados três candelabros, simbolizando as três luzes da Maçonaria: a sabedoria, a força e a beleza. Esses candelabros formam um triângulo luminoso — reflexo do triângulo dourado no altar — que indica que a Palavra, embora ausente, permanece viva nos corações daqueles que a buscam com sinceridade e perseverança.

O ritual do Grau de Mestre Perfeito é encerrado com uma invocação simbólica, na qual se pede a Deus que aceite o sacrifício de Hiram como símbolo da fidelidade do homem à sua missão divina.

“Oh Eterno! Recebei o sacrifício daquele que vos foi fiel até a morte. Que sua memória perdure entre nós como exemplo de coragem, virtude e perseverança. Que sua Palavra, ainda que velada, continue a iluminar nosso caminho na senda da Verdade.”

A consagração do Mestre Perfeito é, portanto, a reafirmação do compromisso iniciático. Ele não é apenas um trabalhador da pedra ou um portador de segredos — é agora um guardião da Palavra, um vigilante do templo interior e um herdeiro da Tradição.

Conclusão

O Grau 5 do R.E.A.A. marca o encerramento de um ciclo e o início de outro. Ele nos recorda que a morte não é o fim, mas sim o portal de uma nova vida — mais consciente, mais pura e mais próxima da Verdade.

O Mestre Perfeito é aquele que:

✅ Honra os que vieram antes;
✅ E se compromete, com coragem e humildade, a continuar a Grande Obra.

Ao sepultar Hiram com todos os ritos, o iniciado aprende a sepultar dentro de si a ignorância, o orgulho e o egoísmo — para que possa renascer como um verdadeiro Iniciado.

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