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Grau 32 da Maçonaria – Príncipe do Real Segredo do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA)

Recordamos aos Irmãos, bem como aos profanos interessados, que qualquer estudo sobre Maçonaria dirigido ao público externo deve conter somente informações de caráter geral — aquelas que já se encontram nos livros introdutórios de história, simbologia e filosofia maçônica. Os ensinamentos considerados reservados, transmitidos exclusivamente em Loja e nos momentos apropriados, permanecem restritos aos Iniciados da Ordem.

Portanto, tudo o que será exposto aqui está rigorosamente dentro dos limites do sigilo maçônico e tem como propósito maior promover o aperfeiçoamento ético, intelectual e espiritual daqueles que desejam beber dessa fonte de Luz que é a nossa Sublime Ordem Maçônica.

Introdução

Ao atingir o Grau 32 do Rito Escocês Antigo e Aceito (R.E.A.A.), o iniciado torna-se um guardião da Verdade. Este grau, denominado Sublime Príncipe do Real Segredo, é mais do que uma honra; é a consagração de um longo percurso iniciático, que conduz o maçom da pedra bruta ao arquétipo do homem universal — aquele que, unido à cadeia da Tradição, compreende sua missão histórica e espiritual.

A trajetória que culmina no Grau 32 é ascendente e é também centrípeta, pois leva o iniciado a reencontrar, no âmago de sua alma, os fundamentos eternos da Fraternidade, da Liberdade e da Verdade. Ao Príncipe do Real Segredo, são confiados os mais altos ideais da Maçonaria: ele já conhece o símbolo, já trilhou o caminho do rito, e agora deve agir no mundo como instrumento da Vontade do Grande Arquiteto do Universo.

Etimologia e Significado do Título

O nome Príncipe do Real Segredo tem, em si, uma profundidade simbólica singular. A palavra “Príncipe” (do latim princeps) indica aquele que inicia, que lidera, que está à frente. Já o “Real Segredo” se refere ao mistério central da existência, à revelação do Verbo, à Palavra Perdida reencontrada e manifestada.

Neste grau, o “Real Segredo” não é apenas entregue como um simples ensinamento, mas sim vivenciado. O iniciado torna-se, ele próprio, um portador do Segredo, e a sua conduta no mundo deve expressar essa verdade sagrada. Ele deve viver com a clareza de que todo o universo está em harmonia, e que a missão do Maçom é alinhar-se a essa ordem.

A Cerimônia

O Ritual do Grau 32 oferece, além dos elementos específicos deste grau, um panorama histórico condensado acerca da reestruturação do Rito Escocês Antigo e Aceito em seus 33 graus. Essa reformulação foi guiada por princípios estabelecidos nas Grandes Constituições, nos Estatutos e Regimentos, sob a supervisão e aprovação de Sua Alteza Majestade Frederico II, Rei da Prússia e Soberano Grande Comendador, em 1º de maio de 1786. Posteriormente, alguns desses dispositivos foram ajustados em seus pontos mais frágeis, até serem definitivamente reconhecidos e ratificados pelo Congresso Universal dos Supremos Conselhos, ocorrido em Lausanne, em 22 de setembro de 1875.

Diversos estudiosos, pesquisadores da história maçônica e autoridades reconhecidas no campo dos Altos Graus Escoceses aprofundam-se nessas temáticas, cada qual interpretando e narrando os eventos segundo diferentes fundamentos, e revelando o caráter doutrinário da Ordem com uma profundidade que inspira e comove o espírito humano atraído por essa tradição sublime.

No que diz respeito ao simbolismo, o ritual é rico em representações profundas e significativas. Não sendo possível descrevê-las todas neste breve resumo, recomenda-se aos iniciados que realizem pesquisas e estudos em obras especializadas, de forma a obter um entendimento mais sólido e orientado, que os conduza ao objetivo da sabedoria maçônica.

Vale destacar que o Acampamento representa a estrutura disciplinada e operativa da Maçonaria — sua face de ação e força. Por outro lado, a Cripta das Nove Colunas, também chamada de Cripta dos Grandes Filósofos, simboliza a essência moral e espiritual da Instituição — a Maçonaria como força interior e iluminadora. Tudo isto é explanado ao Iniciando.

As Categorias dos Graus no Rito Escocês Antigo e Aceito

Durante a Cerimônio, o inciando é instruido sobre o sistema de graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, que está organizado em 33 graus, distribuídos em quatro categorias fundamentais, cada uma com uma ênfase educativa e iniciática distinta:

1ª Categoria – Dedicada ao estudo do ser humano em sua dimensão física e intelectual, bem como do Universo como um todo. Engloba os cinco graus iniciais, que correspondem a uma formação básica ou elementar.

2ª Categoria – Foca no entendimento dos direitos e deveres do homem enquanto ser social. Abrange os 13 graus seguintes, que complementam a formação moral e ética do iniciado, ainda dentro daquilo que se pode chamar de educação básica.

3ª Categoria – Trata da aplicação prática desses direitos e deveres na vida humana. Compreende os 12 graus subsequentes, que equivalem a uma formação avançada ou superior no contexto da filosofia maçônica.

4ª Categoria – Esta última divisão é voltada à compreensão da própria estrutura interna e organizacional do Rito. Inclui os três graus finais, encerrando o ciclo de estudos maçônicos no plano social e preparando o iniciado para ser um homem plenamente consciente, pronto para atuar em benefício de sua nação, movido pelo ideal coletivo de seus concidadãos.

Durante a cerimônia de iniciação, o candidato percorre um caminho de profunda reflexão. Ele declara: “Estou pronto a servir, a ensinar, a comandar com justiça.”. E nesse momento, os oficiais lhe mostram o Acampamento e a Cripta, e explicam que agora ele ingressa na mais alta função operativa do R.E.A.A.

O candidato promete lutar contra o fanatismo, a tirania, a ignorância e a corrupção, e guardar o Real Segredo mesmo que isso custe sua vida.

O ritual finaliza com a entrega dos paramentos e o recebimento da palavra de passe.

Ornamentação do Grau 32

No Oriente o Trono do Presidente, colocado sobre um patamar com acesso por sete degraus, coberto por um dossel
carmsim, tendo na frente, bordada, a letra S e um transparente luminoso com a estrela de sete pontas, nas cores do arco-íris.
No centro, o altar dos juramentos, forrado de tecido púpura, com franjas douradas, e sobre ele o Livro Sagrado e as
Grandes Constituições, encimados por um tríplice triângulo dourado. Junto à balaustrada, à esquerda do Trono, achaa-se o Altar dos Sacrifícios, composto de um tripé de ferro, sustentando um recipiente de bronze, dentro do qual são colocadas
pequenas achas de madeira, em grupo de 3, 5,7 e 9. No centro da balaustrada, um busto de três caras, emtamanho natural, que pode ser substituído por uma pintura, tendo à direita um tríplice triângulo e à esquerda uma estrela de cinco pontas.
Em lugares destacados encontram-se os painéis do Acampamento e da Cripta.

Acampamento Maçônico: A Ordem Exterior

Uma das mais belas e complexas expressões simbólicas do Grau 32 é o Acampamento Maçônico, estrutura ritualística que representa a Maçonaria em sua face operativa e combativa, ou seja, a Maçonaria-Força. O Acampamento é construído sobre cinco formas geométricas concêntricas que contêm os símbolos, graus e funções da hierarquia maçônica:

  • Eneágono (9 lados): representa os nove exércitos da Ordem
  • Heptágono (7 lados): os sete bastiões da vigilância
  • Pentágono (5 lados): os cinco comendadores da força filosófica
  • Triângulo (3 lados): o triângulo da sabedoria suprema
  • Círculo (1 ponto): o centro espiritual, o Supremo Conselho

Cada uma dessas formas está associada a uma série de estandartes, insígnias, palavras, divisas e significados ocultos que, unidos, formam um verdadeiro microcosmo esotérico da Ordem Maçônica.

As Nove Tendas: A Maçonaria em Ação

As nove tendas dispostas no perímetro externo representam as diferentes tropas espirituais da Maçonaria. Cada uma é comandada por um patriarca simbólico (como Zorobabel, Joiadá, Nehemias) e guarda o conhecimento de graus específicos. Juntas, as letras das tendas formam a expressão SALIX E NONI, que pode ser interpretada como “O Salgueiro dos Nove”, símbolo da flexibilidade espiritual e da renovação constante da Tradição.

Os pendões de cada tenda trazem cores simbólicas (azul, vermelho, negro, verde, branco) que, na heráldica maçônica, têm significados profundos: o azul representa a sabedoria; o vermelho, a coragem; o negro, a introspecção e a justiça; o verde, a esperança; o branco, a pureza da intenção.

Durante a Cerimônia, o Presidente dirige-se aos Neófitos lembrando que o zelo, por si só, não basta: é preciso uni-lo à Instrução. Esta Instrução se revela pela observação atenta ao Acampamento.

O Acampamento é formado por uma muralha em forma de eneágono (9 lados), como já citado e em cada lado há uma tenda, identificada por uma letra. Essa estrutura representa os Graus simbólicos e capitulares, do 1º ao 18º.

Nona Tenda – Flâmula azul: Acolhe os membros das Lojas Simbólicas: Aprendizes, Companheiros e Mestres. Os Aprendizes lapidam a Pedra Bruta, os Companheiros aprendem a força da união e os Mestres aguardam o renascimento do Arquiteto de Salomão.

Oitava Tenda – Bandeira verde: Reúne os Mestres Secretos e Mestres Perfeitos. Ainda imersos no luto pela perda de Hiram, buscam a Chave simbólica dos segredos. O Mestre Perfeito aprende que deve superar a si mesmo para contribuir com a redenção do mundo profano.

Sétima Tenda – Bandeira verde e vermelha Sedia os Secretários Íntimos, Prebostes e Juízes. Ensinam o uso justo da palavra e da pena, e a arte de julgar com equidade.

Sexta Tenda – Bandeira vermelha e negra Abriga os Intendentes dos Edifícios. Ressaltam a missão da Maçonaria em favor da paz, da liberdade e da justiça, condenando a guerra entre nações e classes.

Quinta Tenda – Bandeira negra Acolhe os Eleitos dos Nove, dos Quinze e dos Doze. O ciclo de vingança pela morte de Hiram ensina que a justiça verdadeira não é feita por mãos individuais, mas pelas instituições regulares.

Quarta Tenda – Bandeira negra e vermelha Reúne os Mestres Arquitetos e Cavaleiros do Real Arco. Em busca do Nome Divino, os Maçons exploram as profundezas da consciência. Descobrem fragmentos da Palavra Sagrada, e fundam a Ordem do Real Machado.

Terceira Tenda – Bandeira vermelha Lugar dos Perfeitos Maçons Grandes Eleitos, que preservaram o Nome Místico após a degradação do Santuário.

Segunda Tenda – Verde claro Abriga os Cavaleiros do Oriente ou da Espada e os Príncipes de Jerusalém. Representam a transição entre a herança hiramita e a nova cavalaria espiritual.

Primeira Tenda – Bandeira branca salpicada de carmim Acampam os Cavaleiros do Oriente e do Ocidente e os Cavaleiros Rosa-Cruzes. Simbolizam a síntese entre o pensamento ariano e semítico. Com o reencontro da Palavra Sagrada, celebram a ressurreição da Natureza e a Lei Nova de Jesus.

O Heptágono e o Pentágono: O Núcleo Comandante

O heptágono é formado por sete bastiões que evocam a vigilância perpétua dos guardiões do Templo. Já no interior deste, o pentágono abriga os cinco Lugartenentes do Grande Comandante — cada um representa uma faceta da força espiritual: a Inteligência (Beseleel), o Espírito Criador (Ooliab), a Ação Justa (Mahuzem), a Força Paciente (Garimont) e a Devoção Suprema (Amariah). Estes nomes não são aleatórios: remetem a figuras bíblicas associadas à construção do Tabernáculo e do Templo de Salomão.

Quinto Estandarte – Arca da Aliança entre palmeiras e tochas Reúne os Grandes Pontífices e Grãos-Mestres. Ensina a arte de governar com sabedoria e revela os arquétipos universais contidos nos mitos de morte e renascimento, como o de Osíris.

Quarto Estandarte – Um boi Sede dos Noaquitas e Cavaleiros do Real Machado. Recordam a lenda do dilúvio, a sabedoria ancestral e a dignidade do trabalho como lei da vida.

Terceiro Estandarte – Águia Bicéfala com coroa, espada e coração sangrando Acolhe os Chefes do Tabernáculo e Cavaleiros da Serpente de Bronze. A religião verdadeira reside na consciência, e não no formalismo. Os graus celebram o monoteísmo e combatem a idolatria.

Segundo Estandarte – Coração incendiado e alado, cercado de louros Lar dos Príncipes das Mercês, Comendadores do Templo e Cavaleiros do Sol. Exaltam a solidariedade, o sacrifício altruísta, a ação heroica e a ascensão pelo Dever.

Primeiro Estandarte – Leão deitado com uma chave na boca Acampam os Cavaleiros de Santo André da Escócia e os Cavaleiros Kadosch. Proclamam a Lei do Amor e combatem o absolutismo que levou à queda dos Templários.

Os estandartes de cada comandante contêm frases latinas que são verdadeiras sentenças iniciáticas:

  • Ad Majorem Dei Gloriam – Para maior glória de Deus
  • Ardes Gloria Surgit – Onde há fogo, surge a glória
  • Corde Gladio Potens – Forte com o coração e com a espada
  • Omnia Tempus Alit – O tempo nutre todas as coisas
  • Laus Deo – Louvor ao Altíssimo

Cada uma dessas frases revela a postura interior que o iniciado deve cultivar ao exercer o comando espiritual.

No centro do Pentágono Ali se encontra o Triângulo Equilátero, cercado por três animais simbólicos: o corvo (vigília), a pomba (paz) e a fênix (renascimento). É o campo dos Inspetores Inquisidores Comendadores e dos Príncipes do Real Segredo.

O foco supremo aqui é a construção de uma Justiça imparcial, independente e profundamente humana: pedra angular de qualquer civilização verdadeira.

O Triângulo e o Círculo Central: A Suprema Inspiração

O triângulo central representa a trindade espiritual: Força, Beleza e Sabedoria. Em seus vértices estão a Pomba, símbolo da paz e pureza; o Corvo, símbolo da sabedoria que penetra nas trevas; e a Fênix, símbolo da imortalidade da alma e do renascimento iniciático.

No centro do triângulo, repousa o Supremo Conselho, guardião do Real Segredo, que atua sob a inspiração do Grande Arquiteto do Universo. É nesse ponto focal que a Maçonaria deixa de ser apenas um sistema filosófico e torna-se uma missão espiritual coletiva.

A Cripta dos Grandes Filósofos

Se o Acampamento Maçônico representa a estrutura exterior da Maçonaria, sua força, disciplina e ação no mundo — aquilo que poderíamos chamar de Maçonaria-Força — a Cripta dos Nove Filósofos é seu coração interior, o centro de sua inspiração espiritual, ou, como a própria ritualística define, a Maçonaria-Espírito.

Nela, o iniciado é introduzido não a guerreiros, mas a pensadores. Não a batalhas, mas a ideias. Não ao poder, mas à sabedoria eterna. Essa Cripta contém, em sua essência, as nove colunas invisíveis do Templo da Verdade, sobre as quais repousam os mais elevados valores universais da humanidade. Cada figura evocada aqui não é apenas um mestre religioso ou filósofo, mas um arquétipo vivo que simboliza as diversas manifestações do Sagrado ao longo das civilizações.

A Cripta dos Grandes Filósofos - Grau 32 do REAA

O Caminho Iniciático da Cripta

Durante o ritual, os bustos ou efígies dos filósofos são revelados um a um. À medida que cada um se apresenta, transmite não só sua doutrina, mas um chamado moral. Essa cerimônia de passagem é profundamente simbólica: ao percorrer a Cripta, o candidato revê os fundamentos éticos da civilização e reconhece neles um traço comum — a busca pela Verdade, pela Justiça e pela Unidade.

O Príncipe do Real Segredo é, portanto, aquele que reconhece a pluralidade das manifestações da Luz, sem jamais perder de vista sua origem única.

Confúcio

“Eu sou CONFÚCIO, o sábio que deu à China sua cultura moral, cem vezes mais preciosa que sua civilização material. Minha doutrina consiste em ensinar a retidão do coração e o amor ao próximo.
Há uma regra universal de conduta, que se contém na palavra “reciprocidade”.

Fui o primeiro a formular a máxima: “Não façais ao outro o que não queres que te façam”.

Tu, que não és capaz de servir aos homens, como queres servir aos deuses?
Tu, que não conheces a vida, como queres conhecer a morte?”


Confúcio é a voz do Oriente que ensina a retidão nas relações humanas. Seu ensinamento mais célebre — “Não faças ao outro aquilo que não queres que te façam” — é a raiz da Regra de Ouro, que permeia todas as tradições éticas do mundo. Para ele, a harmonia social começa na disciplina interior do indivíduo. A ética confuciana é uma ética de responsabilidade, moderação e dever.

No contexto maçônico, Confúcio representa o dever de conduta dentro da Loja, a fraternidade como virtude prática e o equilíbrio como forma de sabedoria.

Zaratustra

Eu sou ZARATRUSTRA. Ensinei os homens a repelir toda idolatria e a adorar somente o Senhor Onisciente, Ormuzd, semelhante pelo corpo à Luz e pelo espírito à Verdade.

Em vão, as potências das trevas e da mentira disputam o mundo às potências da Luz e da Verdade. Estas perdurarão até o fim dos séculos. Teu dever é antecipar o Grande Dia, secundando a obra de Ormuzd: — bons pensamentos, boas palavras e boas ações.

O guerreiro que, por sua bravura, repele o inimigo; o agricultor, que faz germinar o trigo; aquele que constitui família e dá de vestir aos nus; aquele que destrói Ariman, nos animais daninhos, esses são os que fazem brilhar a Lei de Ormuzd, mais do que se oferecessem mil sacrifícios.

Zaratustra, o profeta da antiga Pérsia, proclamava a eterna luta entre a Luz (Ormuzd) e as Trevas (Arimã). Sua doutrina ensina que a salvação se dá através de bons pensamentos, boas palavras e boas ações. O mundo é um campo de batalha espiritual, onde cada ação humana conta.

Para o Príncipe do Real Segredo, Zaratustra é o símbolo da escolha consciente pelo Bem, da responsabilidade cósmica dos atos e da necessidade de purificar a intenção. Sua presença na Cripta lembra ao iniciado que não basta conhecer o Bem — é preciso praticá-lo.

Buda

Eu sou Gotama, o Buda. Renunciei os direitos de nascimento e fortuna. Eu próprio fixei minha passagem para o Nirvana, a fim de abrir aos homens o caminho que conduz à extinção do sofrimento; esse caminho é o desinteresse e o altruísmo.

Tu não matarás, não roubarás, não cometerás adultério, não mentirás e te absterás de bebidas enervantes. Tu retribuirás o mal com o bem.

À generosidade, cordialidade e abnegação são para o mundo o que a mola é para o carro. Minha lei é a lei do perdão para todos.”

Buda, o Iluminado, é aquele que renunciou a todos os prazeres mundanos para buscar a extinção do sofrimento. Seu ensinamento — o Nobre Caminho Óctuplo — é um convite à transcendência do ego, à compaixão universal e à libertação do ciclo do desejo.

Na senda do Grau 32, Buda representa a renúncia ao orgulho iniciático. Após tantos graus, tantos títulos e aprendizados, o verdadeiro Príncipe do Real Segredo deve lembrar-se que nada disso tem valor se não for acompanhado de humildade, autoconhecimento e altruísmo.

Moisés

“Eu sou Moisés, salvo das águas. Entrevi na Sarça Ardente o Deus que Abraão e Jacó não conheceram por seu único e verdadeiro nome — o ETERNO.

Tirei do cativeiro os filhos de Israel; conduzi-os às portas da Terra da Promessa e lhes comuniquei, do alto do Sinai, os Mandamentos que construíram a base moral judaica e cristã.

Tu venerarás somente o Deus único e não talharás imagens à sua semelhança; respeitarás o dia de descanso; não jurarás em vão; não darás falso testemunho; não cobiçarás a mulher e os bens do próximo.”

Moisés, o legislador hebreu, é aquele que conduz o povo da escravidão à liberdade, do deserto à Promessa. No Monte Sinai, ele entrega ao mundo o Decálogo — os Dez Mandamentos — que formam a base moral do Judaísmo e do Cristianismo.

Sua presença na Cripta evoca a necessidade de uma Lei Superior, um código de conduta inspirado pelo Divino. Para o maçom, Moisés simboliza a missão de liderar com justiça, de guiar com firmeza e de reconhecer que a verdadeira liberdade é inseparável da ética.

Hermes Trismegisto

“Eu sou Hermes Trismegisto, o Três Vezes Poderoso, o possuidor da ciência do antigo Egito.

Feliz o que, à sua entrada no mundo subterrâneo, puder dizer a seu coração: – Ó meu coração, não me acuseis perante o Deus do julgamento, porque eu não matei, nem trai; não persegui viúvas, nem roubei o leite às criancinhas; não provoquei lágrimas; não menti diante dos tribunais; não obriguei os trabalhadores a fazer mais do que podiam; não fui negligente, nem preguiçoso; não maltratei o escravo no espírito do Mestre; não defraudei a ninguém; não violei medidas, nem ultrapassei os limites do meu campo; conciliei-me com Deus por amor ao Bem; dei pão ao faminto e de beber ao sedento; vesti os nus e dei condução aos que não podiam prosseguir viagem.”

Hermes, o Três Vezes Grande, une em si os arquétipos do sacerdote, do filósofo e do mago. Representa o Egito sagrado, a Alquimia, a Astrologia e a ciência oculta dos antigos Mistérios. Suas palavras ressoam no Corpus Hermeticum, onde ensina que o mundo é uma correspondência entre o que está acima e o que está abaixo.

Para o Príncipe do Real Segredo, Hermes é o mestre do simbolismo, aquele que ensina que tudo está interligado. Ele é o patrono da busca pelo “Real Segredo”, pois é o iniciador por excelência, aquele que desvela o véu das aparências.

Platão

“Eu sou Platão, discípulo de Sócrates. Ensinei aos homens a se conhecerem a si próprios. Desvendei-lhes o mundo das ideias puras e das realidades eternas.

Nossos sentidos somente percebem as sombras da realidade, isto é, dos fenômenos e das leis; estas, porém, nos revelam, tanto no domínio do físico, como no do espírito, uma tendência sempre crescente para o Verdadeiro, para o Belo, para o Bom — tríplice realização do Divino.

No extremo dos limites do inteligível está a ideia do Bem. Não se deve dizer que a Justiça consiste em fazer o bem aos seus amigos e o mal a seus inimigos.

O justo é aquele que vive em perfeita harmonia consigo mesmo, com seus semelhantes e com a ordem do Universo.”

Platão, discípulo de Sócrates, é o filósofo da transcendência. Ensinou que o mundo sensível é apenas uma sombra do mundo inteligível, onde residem as formas perfeitas: o Bem, o Belo e o Justo. Para ele, a alma humana é imortal e deve elevar-se pela contemplação e pelo raciocínio.

Na Cripta, Platão é o mestre da Justiça Iniciática, aquele que ensina que o verdadeiro juiz é aquele que conhece a alma humana. Ele é a lembrança de que o iniciador deve ser também filósofo, e que o verdadeiro poder reside no autodomínio.

Jesus

“Eu sou Jesus de Nazareth, Aquele que deu sua vida pela salvação dos homens.

Vindo para completar e não para abolir a lei, proclamei o direito da consciência em se desfazer dos intermediários nos seus entendimentos com o Pai celeste.

À Samaritana eu disse: — “Dia virá em que não se adorará mais o Pai, nem em Garizim nem em Jerusalém, mas onde todos os adoradores o venerarão, como Ele deseja, em Espírito e em Verdade.”

Aos Fariseus respondi: — “Amar a Deus com todas as forças e a seu próximo como a si mesmo é da lei dos profetas; não há maior mandamento.”

Aos que me perguntaram qual o caminho para o Reino dos céus, declarei: — “Procurai em primeiro lugar a Justiça e o resto vos será dado em abundância.””

Jesus de Nazaré, figura central do Cristianismo, é apresentado não apenas como o Cristo, mas como o arquetípico servo da Humanidade, aquele que deu sua vida por amor. Seu ensinamento resume-se ao mandamento maior: “Amarás a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo.”

No caminho do Grau 32, Jesus representa o Amor como força revolucionária, a capacidade de perdoar, de reconciliar e de unir. Seu exemplo ensina que a espada só deve ser empunhada com a mão limpa e o coração puro.

Maomé

“Eu sou Maomé, o profeta por excelência do Islã. Deus é Deus e não há outro Deus. Alá reúne a Justiça, a Cordialidade e a Generosidade. Ele ordena que nos instruamos.
Os sábios são os herdeiros dos profetas. A santidade não consiste em voltar, na prece, a face para o Oriente ou para o Ocidente, mas em fazer, por amor a Deus, a caridade aos órfãos, aos pobres e aos forasteiros.
Ninguém pode ser chamado verdadeiro crente se não desejar ao seu irmão o que para si deseja.”

Maomé, o Selo dos Profetas, é a voz do Islã, cujo nome significa “submissão à Vontade de Deus”. Seus ensinamentos insistem na caridade, no estudo, na dignidade humana e na justiça. Em suas palavras, “ninguém é verdadeiramente crente se não desejar para o outro o que deseja para si”.

Na Cripta, Maomé lembra ao Príncipe do Real Segredo que todas as tradições conduzem ao Uno, e que respeitar o outro é reconhecer a centelha divina no irmão diferente.

A Estrela

Eu sou o Amanhã. Os judeus esperam o Messias, os muçulmanos o Nahdi; o cristão, a volta de Cristo; os budistas, Maitreya, o próximo Buda; os hindus, o avatar de Vichin, que se encarna de tempo em tempo para o triunfo dos bons e destruição dos maus.

Tenho todos esses nomes e ainda outros mais, porque a cadeia hermética nunca foi quebrada.

Notaste a perfeita coordenação dos ensinamentos formulados pelos fundadores da civilização, que a história vos mostrou.

Outros guias ainda surgirão, para assinalarem, com fortes predicações, a ascensão da humanidade.

Apesar, porém, da variedade de suas revelações, ficai certos: – Eles vos falarão na mesma linguagem, porque ela corresponde às necessidades universais e às aspirações permanentes da natureza.

Sede tolerantes, porque ninguém pode definir o Grande Arquiteto do Universo.

Procurai a verdade, praticai a justiça e amai ao próximo como a vós mesmos, tal é o caminho do Dever, a única estrada da salvação.”

Por fim, a nona presença na Cripta não é um homem, mas um símbolo: a Estrela, que representa o futuro, o próximo avatar, o retorno da luz. A Estrela é chamada de Messias pelos judeus, Mahdi pelos muçulmanos, Maitreya pelos budistas e Cristo pelos cristãos. É a promessa de que a humanidade será, um dia, reconciliada em um só espírito.

A Estrela ensina que a história da humanidade é uma só, apesar de suas formas múltiplas. E é dever do Príncipe do Real Segredo manter essa chama acesa, agindo como ponte entre os mundos, entre os povos, entre as tradições.

O ritual é claro: o Príncipe do Real Segredo, antes de empunhar a espada, deve ajoelhar-se na Cripta. Isso significa que o poder deve nascer da sabedoria, que a ação deve ser precedida pela reflexão e que a justiça deve vir temperada pela misericórdia.

A Cripta é o lugar onde o ego se dissolve diante dos grandes mestres da humanidade. Onde o orgulho dá lugar à escuta. Onde a palavra “universalismo” ganha rosto, voz e doutrina.

Paramentos e Insígnias

Os paramentos do Grau 32 são majestosos e repletos de simbolismo:

  • Cinto preto com franjas de prata
  • Fita ao pescoço preta forrada de vermelho
  • Avental de cetim branco com desenhos bordados em negro e vermelho
  • Jóia pendente com a águia bicéfala em ouro sobre cruz teutônica
  • Chapéu de três bicos, usado em cerimônias solenes

A águia bicéfala, voltada para o Oriente e o Ocidente, representa a vigilância permanente e o domínio da Ordem sobre o mundo simbólico e temporal.

Os Cinco Tiros de Canhão

A Lenda dos Cinco Tiros de Canhão é uma alegoria poderosa presente no simbolismo do Grau 32 do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), e também aparece, com variações, em alguns sistemas de altos graus maçônicos ligados a filosofias reformistas e esotéricas. Essa lenda funciona como uma narrativa progressiva, que descreve a jornada espiritual e histórica da humanidade em direção à sua plena libertação e regeneração espiritual. O Ritual diz que o Exército Maçônicoentrou em ação três vezes, representado pelos três primeiros tiros de Canhão.

Cada tiro de canhão, nesse contexto, representa um marco simbólico de ruptura, transformação e avanço. A sequência traça uma linha do tempo desde a quebra das estruturas religiosas medievais até uma futura era espiritual, o Exército Maçônico deverá estar “acampada”/de campana”, para as dois próximos tiros. Esse ensinamento é trasnmitida ao Irmão que esteja sendo Iniciado ao Grau 32:

Primeiro Tiro – A Reforma Protestante

Símbolo da libertação do dogma religioso.

Este disparo marca o início da era moderna, quando o monopólio espiritual da Igreja Católica foi contestado por reformadores como Lutero, Calvino e outros. O tiro representa a libertação da consciência individual do jugo da autoridade dogmática. É a primeira explosão de liberdade, que devolve ao homem o direito de pensar, ler, interpretar e escolher sua fé. A Reforma inaugura o espírito crítico e o livre exame das Escrituras, elementos centrais na Maçonaria moderna.

Segundo Tiro – As Revoluções

Símbolo da libertação social e política.

Representa os movimentos revolucionários — principalmente a Revolução Francesa de 1789 — que puseram fim ao absolutismo e às estruturas aristocráticas e clericais de opressão. Este tiro anuncia os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, os mesmos que figuram na ética maçônica. A luta contra a tirania política, a construção da cidadania e a defesa dos direitos civis e humanos são as marcas desta etapa. É a emancipação do homem enquanto ser social e político.

Terceiro Tiro – A Era Industrial

Símbolo da emancipação do trabalho e da técnica.

Com a Revolução Industrial, o mundo ingressa na era do progresso técnico, da razão aplicada, da ciência e da produção em massa. O terceiro tiro representa a libertação da humanidade das limitações materiais impostas por séculos. Contudo, também aponta para os novos desafios éticos, sociais e ambientais surgidos com o desenvolvimento tecnológico. É a era do poder transformador da inteligência humana — mas também o tempo da mecanização do espírito, caso este poder não seja guiado pela sabedoria.

Quarto Tiro – A Crise Civilizacional (O Tiro do Futuro Imediato)

Símbolo da necessidade de reconstrução e ação espiritual.

Este Quarto tiro não foi dado ainda. É esta nossa época de civilização em mudança, de conflito, entre o ocidente e o oriente. o mundo presencia o confronto cultural entre o Ocidente decadente e o Oriente em ascensão. A guerra entre modelos de sociedade, visões de mundo e valores espirituais torna-se cada vez mais evidente.

O Ocidente, outrora berço da razão, da liberdade e da ciência, parece agora desorientado por ideologias niilistas, narcisismo coletivo e relativismo moral, juristocracia, ou seja, uma ditadura do Judiciário, onde juízes se transformam em sacerdotes do Estado laico, sem a legitimidade do voto popular. As decisões monocráticas, perseguições seletivas, inquéritos sem contraditório e censura disfarçada de combate à desinformação são sinais de um sistema que está matando a democracia em nome de sua defesa. Enquanto o Oriente — em suas múltiplas expressões, incluindo o Islã, o confucionismo, o hinduísmo e até o neotradicionalismo russo — resgata antigas tradições e reafirma a centralidade do espírito, da honra e da ordem.

A Maçonaria, guardiã de uma Tradição iniciática universal, não pode permanecer neutra ou inerte diante dessa crise. O Quarto Tiro é o despertar maçônico para a sua verdadeira missão: reconstruir os alicerces do mundo através do Espírito, e não apenas das instituições. Este quarto tiro é iminente.

Quinto Tiro – A Era do Espírito (O Tiro Profético)

Símbolo do advento do Reino do Real Segredo.

Este tiro é profético e escatológico: representa a aurora de uma nova era espiritual, em que a humanidade, purificada por seus próprios erros, alcança um novo patamar de consciência. O “Reino do Real Segredo” é a expressão simbólica do mundo regenerado, onde a Verdade, a Justiça, a Luz e o Amor triunfam sobre as forças da ignorância, do egoísmo e da tirania.

É o tempo da fraternidade universal, da união entre ciência e espiritualidade, entre razão e fé, entre o homem e o sagrado. A Maçonaria, nesse contexto, torna-se instrumento de iluminação da consciência coletiva, e cada iniciado é chamado a ser um operário da Nova Jerusalém — símbolo da plenitude espiritual da humanidade. Onde a Maçonaria deverá agir com firmeza e luz.

Considerações Finais

O Grau 32 não é apenas um posto hierárquico. É um estado de consciência. O Sublime Príncipe do Real Segredo está apto a governar, não por mando, mas por exemplo; não por força, mas por sabedoria. Ele conhece os perigos do fanatismo e do orgulho e, por isso, busca a humildade no serviço e a firmeza na missão.

Neste grau, o iniciado é convidado a viver segundo o Real Segredo: “Tudo está em tudo; o homem é o templo; e Deus habita em sua consciência desperta.”

“Este é o tempo da reconstrução. E tu, Cavaleiro, foste chamado para isso.

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Na próxima publicação desta série, exploraremos juntos os segredos e ensinamentos do último Grau do Sistema do Rito Escocês Antigo e Aceito, com o 33º GrauSoberano Grande Inspetor Geral.

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