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Grau 25 da Maçonaria – Cavaleiro da Serpente de Bronze do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA)

Recordamos aos Irmãos, bem como aos profanos interessados, que qualquer estudo sobre Maçonaria dirigido ao público externo deve conter somente informações de caráter geral — aquelas que já se encontram nos livros introdutórios de história, simbologia e filosofia maçônica. Os ensinamentos considerados reservados, transmitidos exclusivamente em Loja e nos momentos apropriados, permanecem restritos aos Iniciados da Ordem.

Portanto, tudo o que será exposto aqui está rigorosamente dentro dos limites do sigilo maçônico e tem como propósito maior promover o aperfeiçoamento ético, intelectual e espiritual daqueles que desejam beber dessa fonte de Luz que é a nossa Sublime Ordem Maçônica.

O 25º grau do Rito Escocês Antigo e Aceito, denominado Cavaleiro da Serpente de Bronze, é um dos mais simbólicos e complexos de todo o sistema dos Altos Graus. Unindo elementos bíblicos, tradições templárias, raízes egípcias e doutrinas esotéricas, ele representa uma síntese entre o princípio regenerador da fé, o combate à ignorância e o imperativo da justiça. Sua Câmara é chamada Corte do Sinai, evocando o Monte sagrado onde Moisés recebeu o Decálogo, e onde o iniciado é confrontado com os limites de sua própria liberdade, amarrado pelas correntes invisíveis do ego e das paixões, até que, por meio da sabedoria e da virtude, possa ser libertado.

Origem Bíblica

A principal inspiração simbólica do Grau encontra-se no relato bíblico do Livro dos Números (21:4-9). Após a saída do Egito, o povo hebreu, vagando pelo deserto, começou a murmurar contra Moisés e contra o próprio Deus, reclamando da fome e da sede. Como punição, Deus enviou uma praga de serpentes abrasadoras, cujas mordidas causavam morte e desespero. Arrependido, o povo implora a intercessão de Moisés, que então é orientado por Deus a fundir uma serpente de bronze e colocá-la no alto de uma haste. Todos os que fossem picados pelas serpentes e olhassem para o símbolo seriam curados.

Essa narrativa, à primeira vista simples, carrega uma profundidade alegórica imensa. A serpente, tradicionalmente associada ao mal ou à tentação, aqui assume uma função redentora, tornando-se instrumento de cura, de regeneração e de elevação espiritual. O olhar do fiel para o símbolo torna-se um gesto de fé e entrega, e somente por meio desse ato interior é que a libertação se manifesta.

Tradição Templária: Cruzadas e Cavaleiros

O Grau também possui uma vertente templária, inspirada nos eventos da Primeira Cruzada, especialmente na figura mítica de Godofredo de Bulhão (Godefroy de Bouillon). Em fins do século XI, os turcos haviam tomado Jerusalém e perseguido os peregrinos cristãos. Um monge chamado Pedro, o Eremita, percorreu a Europa incitando os fiéis a tomarem armas e libertarem os lugares sagrados.

Convocado o Concílio de Clermont, em 1095, pelo Papa Urbano II, um exército de cruzados foi formado sob o lema “Deus vult!” (Deus o quer!), dando início à Primeira Cruzada. Em 1099, sob o comando de Godofredo, Jerusalém foi tomada, e este, em vez de se proclamar rei, preferiu o título de Barão do Santo Sepulcro, em respeito ao local onde Cristo foi coroado com espinhos.

A lenda narra que os seguidores de Godofredo teriam fundado uma Ordem conhecida como os Cavaleiros da Serpente de Bronze, encarregada de proteger peregrinos, prestar auxílio médico e guardar os caminhos da Terra Santa. Embora essa ordem histórica nunca tenha existido oficialmente com tal nome, seu espírito inspirou ritos iniciáticos posteriores, especialmente o presente grau do REAA, onde o símbolo da serpente enroscada na cruz Tau se torna a chave de uma sabedoria ancestral.

A Corte do Sinai: Estrutura Ritualística

A Loja ou Câmara do Grau 25 é chamada de Corte do Sinai, e toda a sua ornamentação evoca o espírito da jornada no deserto. Suas tapeçarias são vermelhas, simbolizando o fogo da purificação. No centro, ergue-se uma montanha em forma de cone truncado, com aproximadamente 1,5 metro de altura. No cume da montanha, vê-se uma Cruz em forma de Tau (T), em torno da qual enrosca-se uma serpente — o emblema máximo do Grau.

No Oriente, sobre o Trono do Presidente, há um “transparente”, uma tela translúcida representando a Sarça Ardente, com o nome sagrado Jeová em hebraico acima dela. A iluminação da Câmara provém unicamente da tocha colocada atrás deste transparente, representando a luz divina filtrada pela revelação.

O Presidente da Loja é intitulado Poderosíssimo Grão-Mestre e representa Moisés. Ele empunha uma espada em vez de malhete, e inicia os trabalhos batendo com o punho fechado. Os Vigilantes são chamados Ministros, representando Fineas, filho de Eleazar, e Josué, sucessor de Moisés. O Orador é denominado Pontífice, e o Secretário, Grande Cinzelador. Os demais irmãos são Cavaleiros da Serpente de Bronze.

Insígnias do Grau

O traje é negro, com luvas brancas. O Avental é branco, com bordas negras e estrelas bordadas. No centro há um Triângulo irradiado; o verso do avental é negro salpicado de estrelas brancas. A Faixa é carmesim, bordada com a divisa “Virtude e Coragem”. A Jóia é uma serpente enroscada em uma cruz Tau, pendente de um colar ou da própria faixa.

O Drama Iniciático: Correntes, Eufórbio e Ascensão

O grau se inicia com a introdução dos candidatos de maneira inusitada: eles são trazidos à Câmara acorrentados, representando o estado de ignorância, servidão e limitação espiritual.

O Presidente pergunta sobre sua origem e o Experto responde que são espias egípcios, acolhidos como peregrinos, mas que despertaram suspeitas ao fazerem muitas perguntas sobre os hebreus. O Presidente decide submetê-los ao julgamento dos juízes escolhidos das Doze Tribos.

Durante o julgamento, os candidatos são interrogados sobre os sinais dos Graus 19 ao 24. Após confirmarem seu conhecimento, são absolvidos. O Presidente então lhes ordena que escalem o Monte, mas os esforços são vãos, pois as correntes os impedem. Neste momento, é dado a eles o ramos de eufórbio, uma planta com propriedades curativas, que simboliza a virtude e a verdade. Ao friccionar as correntes com o eufórbio, estas se rompem, simbolizando a libertação da ignorância e dos grilhões internos.

O Presidente proclama: “Já sois livres! Olhai sobre o Monte e contemplai o Tau onde se enrosca o místico réptil dos grandes mistérios da Índia, símbolo deste Grau.”

O Coração do Grau

Após a libertação, os candidatos são interrogados sobre temas profundos da Justiça, da responsabilidade e da imparcialidade. O Ritual faz uma crítica histórica aos antigos tribunais que agiam sob pressão política, à Inquisição e às formas de opressão que violavam a dignidade humana. Enaltece-se o habeas corpus, como uma conquista moderna da Liberdade, e apresenta-se a Justiça como um valor superior, que deve ser exercido com prudência, compaixão e equilíbrio.

Esse ponto é central no Grau 25: não basta ser livre fisicamente; é preciso lutar pela liberdade do outro, pela integridade da sociedade e pela justiça universal. O Cavaleiro da Serpente de Bronze é o que combate a tirania, o arbítrio e o preconceito, defendendo o direito natural e a ordem justa como expressão do Amor Divino.

A Serpente

A serpente é um dos símbolos mais antigos e complexos da história da humanidade. Ela representa simultaneamente a vida e a morte, o veneno e o antídoto, o conhecimento e o perigo. Na tradição hindu, é a Kundalini, a energia cósmica enrolada na base da coluna, que deve subir pelos chacras até o Sahasrara para alcançar a iluminação. No Egito, a Uraeus, serpente na coroa dos faraós, simbolizava poder divino, proteção e sabedoria.

Para os hebreus, a serpente de bronze de Moisés era um instrumento de cura e fé. No cristianismo esotérico, como ensina o Evangelho de João (3:14-15), Jesus é comparado à serpente de bronze: “Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”

O grau ensina que a serpente, quando enroscada no Tau, é símbolo da memória do passado, da inteligência do presente e da providência do futuro. É um emblema da sabedoria que investiga as causas do mal para superá-las. Como ensinava Cagliostro, a serpente também remonta à tradição egípcia e védica, sendo veículo da energia cósmica regeneradora.

Cajado de Aarão e Espada Flamígera

Outro símbolo relevante é o Cajado de Aarão, que floresceu miraculosamente, confirmando sua escolha como sumo sacerdote. Este cajado, feito de vime, é símbolo da autoridade espiritual. Ele representa a confirmação da vocação iniciática e aparece fundido com o símbolo da serpente, formando a cruz Tau — representação da regeneração e da autoridade espiritual baseada na justiça.

A espada empunhada pelo Presidente da Loja é outro símbolo marcante: não é usada para ferir, mas para abrir os trabalhos da luz. Ela representa a Espada Flamígera, que separa o profano do sagrado, a ignorância da sabedoria.

Um Chamado à Maçonaria Moderna

O Grau conclui com um chamado profundo aos maçons contemporâneos: a Liberdade não pode mais ser entendida apenas como locomoção ou autodeterminação política. Hoje, há novas formas de escravidão: a degradação ambiental, a poluição do ar, os resíduos químicos, a manipulação tecnológica e as desigualdades sociais.

A tradição maçônica verdadeira, afirma o Ritual, deve ser aquela que luta constantemente pelo bem-estar integral do ser humano, inclusive sua saúde física, psíquica e espiritual. O maçom do Grau 25 é, por excelência, um defensor da Liberdade em sua mais ampla concepção — não apenas a liberdade dos homens, mas a liberdade da própria Criação.

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Na próxima publicação desta série, exploraremos juntos os segredos e ensinamentos dos Conselhos Filosóficos de Kadosh (19º ao 30º Grau), com 26º Grau, o Príncipe da Mercê ou Escocês Trinitário.

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