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Grau 24 da Maçonaria – Príncipe do Tabernáculo do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA)

Recordamos aos Irmãos, bem como aos profanos interessados, que qualquer estudo sobre Maçonaria dirigido ao público externo deve conter somente informações de caráter geral — aquelas que já se encontram nos livros introdutórios de história, simbologia e filosofia maçônica. Os ensinamentos considerados reservados, transmitidos exclusivamente em Loja e nos momentos apropriados, permanecem restritos aos Iniciados da Ordem.

Portanto, tudo o que será exposto aqui está rigorosamente dentro dos limites do sigilo maçônico e tem como propósito maior promover o aperfeiçoamento ético, intelectual e espiritual daqueles que desejam beber dessa fonte de Luz que é a nossa Sublime Ordem Maçônica.

No itinerário simbólico dos Altos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, o Grau 24 – Príncipe do Tabernáculo marca um momento especial de transição. Após a longa jornada percorrida entre os Graus Filosóficos e Capitulares, o Iniciado é conduzido a um novo espaço: o Santuário da Hierarquia. Nesse ambiente sagrado, ele será purificado, instruído e preparado para agir como sacerdote e juiz — duas funções que, na tradição hebraica, eram exercidas por homens iluminados, guiados pela Lei divina e profundamente comprometidos com a Verdade.

O Príncipe do Tabernáculo não é apenas um título simbólico: é a expressão de um grau de consciência superior, uma iniciação que reúne elementos místicos, históricos, jurídicos e esotéricos. É um grau que exige do Iniciado o domínio das Leis, da Justiça e da Doutrina, pois ele será chamado a julgar, ensinar e orientar os irmãos dos graus inferiores. O coração do grau é Moisés, o grande mago, místico e legislador. E a alma do ritual é o Tabernáculo — o Templo portátil que acompanhava o povo de Israel no deserto e onde residia, simbolicamente, a presença do Grande Arquiteto do Universo.

O Mistério do Tabernáculo

O Tabernáculo, centro simbólico deste grau, não é apenas um relicário do passado. Ele é a manifestação concreta da união entre o Céu e a Terra, entre o visível e o invisível, entre o Espírito e a Matéria. Conforme narrado nos capítulos 25 e 26 do Livro do Êxodo, sua construção foi ordenada por Deus diretamente a Moisés, através de uma visão iniciática. Nele, cada medida, cada cortina, cada tábua, cada pedra e cada cor carrega um significado oculto — um código simbólico destinado aos iniciados que souberem decifrá-lo.

A construção do Tabernáculo foi realizada com materiais nobres e raros: ouro, prata, bronze, madeira de acácia, peles de carneiro e de animais marinhos, linho fino, púrpura e estofo azul, pedras preciosas como a ônix, incensos e perfumes como mirra e aloés. Em plena travessia pelo deserto, um povo errante carregava consigo não apenas tendas e provisões, mas também os símbolos de sua aliança com o divino.

O Tabernáculo era, portanto, o Templo móvel da Fé. Em seu interior repousava a Arca da Aliança, coberta pelo Propiciatório com dois querubins de ouro, voltados um para o outro. Ali, Moisés falava com o Senhor. Ali, os sacerdotes oficiavam ritos de purificação, sacrifício e louvor. Ali, o povo se reunia em torno de uma promessa: a Terra de Canaã, onde manaria leite e mel.

Um Modelo do Universo

Segundo a tradição esotérica, o Tabernáculo era mais que um santuário terreno: era um modelo do cosmos. Moisés, educado nos Mistérios do Egito e iniciado nos segredos de Thot — o Hermes Trismegisto —, teria recebido de Jeová não apenas instruções litúrgicas, mas também um arquétipo celeste. Ao construir o Tabernáculo na terra, ele reproduzia o universo superior, criando um “holom”, um reflexo do mundo espiritual. Como ensina o princípio hermético: “O que está em cima é como o que está embaixo”.

Essa estrutura cósmica se revela em seus detalhes. A orientação do Tabernáculo segundo os pontos cardeais. O número de cortinas, tábuas e colchetes. A composição das coberturas. Os tecidos com querubins bordados em púrpura. O uso de ouro e prata para os utensílios sagrados. O véu que separava o Santo do Santíssimo. Tudo é simbólico. Tudo aponta para uma realidade invisível que deve ser intuída pelo Iniciado.

A importância do Tabernáculo é tamanha que, segundo alguns autores, sua planta teria inspirado o projeto do Templo de Salomão, ainda que com modificações e amplificações. Ambas as construções compartilham um mesmo espírito: serem templos da Presença Divina, lugares de comunicação entre o humano e o sagrado.

A Câmara do Grau

O cenário do Grau 24 é composto por duas câmaras. A primeira, chamada Vestíbulo, é decorada como uma Loja de Mestres Maçons. É o espaço de preparação, onde o candidato se aproxima da nova etapa com reverência e temor. A segunda, chamada Hierarquia, possui formato circular, simbolizando o ciclo eterno, a perfeição divina e a ausência de arestas morais.

No centro da Câmara da Hierarquia ergue-se o Altar dos Juramentos, onde estão dispostos o Esquadro, o Compasso, a Jóia do Grau 24, os Regulamentos Gerais e a Constituição do Supremo Conselho. Atrás do cortinado do Oriente encontra-se o Trono do Muito Poderoso Mestre, ladeado por um candelabro de sete braços — a Menorá — que emite luzes simbólicas da Sabedoria, da Boa-Fé e da Fidelidade.

Três Vigilantes auxiliam nos trabalhos: Arão, o sacerdote supremo; Beseleel, o arquiteto escolhido por Deus para construir a Arca do Testemunho; e Goliab, o auxiliar enviado da tribo de Dan. Juntos, eles formam a tríade de Poderosos que orientam o Candidato. O traje ritual é composto por túnica azul semeada de estrelas, coroa fechada encimada por um Delta, luvas brancas, faixa vermelho-escuro e avental branco debruado de verde com a imagem de uma tenda e uma árvore vermelha.

O Rito de Iniciação

O Candidato que adentra a Câmara da Hierarquia não bate à porta, como nos graus anteriores. Ele simplesmente a encontra aberta — uma abertura simbólica, representando a permissão concedida pelos Guardiões do Mistério. Porém, tão logo entra, a porta se fecha às suas costas, revelando que não há retorno. O Iniciado está agora diante de uma nova etapa da Obra, mais exigente, mais sagrada, mais luminosa. Surpreso e atemorizado, ele hesita. Mas não pode retroceder.

É nesse momento que o Muito Poderoso Mestre, oculto atrás do cortinado do Oriente, admoesta o Candidato por sua ousadia em penetrar no Santuário sem ser um Príncipe do Tabernáculo. A tensão simbólica é estabelecida. Surge então o Introdutor, que esclarece tratar-se de um dos doze levitas que ajudaram a sustentar a Arca da Aliança quando os anciãos, pela fragilidade dos seus passos, quase a deixaram cair.

Essa referência simbólica tem um duplo sentido. Primeiro, remete à função dos levitas: auxiliares dos sacerdotes, incumbidos do transporte da Arca e da guarda do Tabernáculo. Segundo, evoca a necessidade de renovação: os jovens devem preparar-se para substituir os anciãos, e os iniciados devem estar prontos para assumir a responsabilidade espiritual diante da decadência moral do mundo.

O Muito Poderoso Mestre profere um discurso profundo, que recapitula toda a trajetória iniciática do Candidato na Maçonaria. Ele relembra a Lenda de Hiram e a imortalidade do ideal no Grau de Mestre. Menciona os Graus Capitulares e sua filosofia moral. Refere-se ao Real Arco como o caminho da perfeição. Relembra os ensinamentos da Rosa-Cruz — Fé, Esperança e Caridade — e destaca a importância da Tolerância. Evoca os Graus Filosóficos como expressão da busca da Verdade pela Razão, e salienta que o Príncipe do Líbano proclamou a liberdade do trabalho.

Essa narrativa culmina no reconhecimento de que o Candidato chegou ao Vestíbulo da Hierarquia, e como Levita, é agora Guardião da Lei. Mas ainda falta uma etapa: sua purificação ritual, para que possa ser admitido como Príncipe do Tabernáculo.

A purificação do Iniciado é feita em três etapas: água, perfume e luz.

  1. Lava as mãos no Vaso das Abluções, para representar sua pureza de intenção e dignidade moral;
  2. Perfuma-se no Altar dos Perfumes, símbolo da espiritualização de seus sentidos e da elevação de sua alma;
  3. Recebe a instrução sobre a Boa-Fé e a Fidelidade, virtudes indispensáveis a quem deverá julgar e ensinar.

Após essas etapas, o Iniciado presta o Juramento Solene:

“Prometo, em nome do Grande Arquiteto do Universo, defender a soberania do Júri, propagar a Sabedoria da Justiça e respeitar as Leis que regem os homens de bem.”

A partir deste momento, ele é considerado Príncipe do Tabernáculo, e passa a participar plenamente dos Mistérios do Grau.

A Justiça como Missão Iniciática

Entre os temas centrais deste grau está a função do jurado, um símbolo elevado e multifacetado. O Príncipe do Tabernáculo é aquele que assume o papel de julgar com justiça, inspirado pela Lei Divina. Ele não é um juiz comum, mas um sacerdote do Direito, alguém que compreende que toda legislação humana deve refletir os princípios eternos da Sabedoria Superior.

O estudo dos Códigos Penais e Processuais é recomendado neste grau, pois o Príncipe do Tabernáculo deve exercer a Justiça com conhecimento. Não se trata de literalismo jurídico, mas de um entendimento iniciático do Julgamento: o dever de pesar os atos humanos com imparcialidade, consciência e compaixão.

O jurado, como lembra o ritual, é aquele que julga seus semelhantes com base na verdade e na própria consciência. É o “Juiz de Fato”, o homem comum investido de poder quase divino. Por isso, sua escolha deve recair sobre cidadãos de notável idoneidade, e sua missão deve ser exercida com responsabilidade moral.

Ao se tornar Príncipe do Tabernáculo, o Iniciado jura defender a instituição do Júri, a soberania do julgamento popular e a dignidade do habeas corpus — garantias fundamentais da liberdade e da Justiça.

Os Símbolos do Grau: Oração, Julgamento e Luz

Cada grau da Maçonaria traz consigo um conjunto de insígnias, cores e formas que condensam suas ideias centrais. No Grau 24 – Príncipe do Tabernáculo, os símbolos são numerosos e ricos em significados, e sua interpretação demanda sensibilidade e estudo.

O Avental é branco, forrado internamente de carmesim, com debrum verde. A abeta azul ostenta uma árvore em vermelho, e no centro do corpo do avental, uma representação do Tabernáculo. Aqui, as cores e os elementos se combinam em potente mensagem:

  • O branco simboliza a pureza do coração do jurado;
  • O carmesim evoca o sangue da aliança e o sacrifício;
  • O verde representa a esperança e a vida espiritual;
  • O azul é o céu da revelação;
  • A árvore vermelha aponta para a Árvore da Vida, plantada no deserto da existência, nutrida pela coragem;
  • E o Tabernáculo, ao centro, indica o papel do Iniciado como guardião da Presença Divina entre os homens.

A Jóia do Grau é um triângulo dourado contendo o nome “Jeová” — o Inefável. O triângulo é o símbolo por excelência do Divino e da Trindade mística. Representa a sabedoria celeste e os três mundos: corpo, alma e espírito. O Nome Divino, inscrito no centro, relembra ao Príncipe sua função sagrada como servidor da Justiça e intérprete da Vontade Suprema.

A faixa, de cor vermelho escuro (vinho), é de seda moiré e sustenta a Jóia. Sobre o traje negro, o Iniciado traz um turbante branco e luvas da mesma cor. Em alguns rituais, usa-se uma túnica azul de gola dourada, semeada de estrelas, coroada com um diadema estrelado sobre o qual repousa um Delta — imagem clara da iluminação espiritual.

O Candelabro de Sete Braços, ou Menorá, ocupa o centro da Câmara. Suas sete lâmpadas acesas representam os sete dons do Espírito, os sete dias da Criação, os sete planetas clássicos, e os sete degraus da consciência. Seu pedestal é um tripé com três palavras gravadas: Sabedoria, Boa-Fé e Fidelidade — virtudes do verdadeiro Levita.

A Câmara: Reflexo do Céu e da Terra

A Câmara do Grau 24 divide-se em duas partes: o Vestíbulo, que se assemelha à Loja dos Mestres Maçons, e a Hierarquia, uma sala circular de ornamentação exclusiva. O Oriente é ocultado por panos brancos e uma cortina vermelha, que só se abrem no momento da Iniciação. Esta disposição simboliza o véu do Santuário, que separa o profano do sagrado, o visível do invisível, o conhecimento comum da Sabedoria Iniciática.

No centro da Hierarquia, sobre o Altar dos Juramentos, repousam os instrumentos da Lei: o Esquadro, o Compasso, a Jóia do Grau, os Regulamentos da Câmara, a Constituição do Supremo Conselho e o Livro Sagrado.

Os três Vigilantes — Arão, Beseleel e Goliab — ocupam posições simbólicas:

  • Arão, irmão de Moisés, é o arquétipo do Sacerdote;
  • Beseleel, filho de Uri, é o arquétipo do Arquiteto;
  • Goliab, da tribo de Dã, é o artesão inspirado.

Cada um representa uma função sagrada: culto, construção e execução. São os pilares do Tabernáculo, o tripé da Iniciação prática.

O Tabernáculo como Arquétipo do Templo Interior

O Tabernáculo construído por Moisés no deserto não era apenas uma tenda sagrada. Era o modelo visível de uma realidade invisível, o reflexo do Templo Celeste. Seus detalhes minuciosamente descritos em Êxodo 25 e 26 — cortinas, bases, colchetes, proporções, materiais e símbolos — compõem um sistema simbólico completo, cujas proporções e estruturas refletem o cosmos em miniatura.

É nesse sentido que se pode dizer que o Tabernáculo é um espelho do Homem Interior. Assim como o Templo abriga a Arca, o coração do Iniciado abriga o Nome Sagrado. Assim como os véus do Tabernáculo escondem o Santo dos Santos, o Iniciado deve ocultar sua verdadeira essência até o momento certo de sua revelação. Assim como as doze tribos acampavam em torno do Tabernáculo, as potências da alma devem orbitar em torno do Espírito.

Moisés, educado nos Mistérios do Egito, compreendia essa arquitetura sagrada. Há traços de Hermetismo, Alquimia e Geometria Sagrada em sua visão do Tabernáculo. Não se tratava apenas de um templo físico, mas de um instrumento de ligação entre o céu e a terra.

E ao se tornar Príncipe do Tabernáculo, o Iniciado é elevado à condição simbólica de sacerdote — não no sentido clerical, mas esotérico. Ele se torna o intérprete da Lei, o guardião dos ritos, o administrador da Justiça Divina no mundo dos homens.

O sacerdote hebreu, na Antiga Aliança, era mais do que um oficiante do culto: era também juiz, professor, conselheiro, líder espiritual e político. Em uma teocracia, o culto e a justiça não estão separados. O mesmo ocorre no Grau 24: o Príncipe do Tabernáculo é aquele que julga com equidade, inspirado pela revelação. Ele é o mediador entre o céu e a terra.

Por isso, este grau não exige apenas conhecimento ritualístico, mas discernimento espiritual. O Príncipe deve ser imparcial, honesto, sábio, compassivo, íntegro. Ele não é mais apenas um discípulo da Maçonaria — é agora seu representante perante os irmãos e perante o Eterno.

Conclusão

A missão do Príncipe do Tabernáculo: amar a humanidade com inteligência, justiça e misericórdia. Aquele que se purificou com água e perfume, que julgou com sabedoria e fé, que entrou no Santuário com humildade e foi recebido como Levita, está agora apto a ministrar em nome do Grande Arquiteto do Universo.

Este grau resume, de forma magnífica, todo o progresso simbólico dos graus anteriores. Ele prepara o Iniciado para a verdadeira Hierarquia dos Altos Graus, onde a Justiça se funde com a Sabedoria, e a espiritualidade com o dever.

Na linguagem do Ritual, os trabalhos encerram-se com a poética expressão:

“Na última hora do último dia de vida e doçura.”

Assim se conclui não apenas a sessão, mas um ciclo de revelações.

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Na próxima publicação desta série, exploraremos juntos os segredos e ensinamentos dos Conselhos Filosóficos de Kadosh (19º ao 30º Grau), com 25º Grau, o Cavaleiro da Serpente de Bronze.

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