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Grau 22 da Maçonaria – Cavaleiro do Real Machado ou Príncipe do Líbano do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA)

Recordamos aos Irmãos, bem como aos profanos interessados, que qualquer estudo sobre Maçonaria dirigido ao público externo deve conter somente informações de caráter geral — aquelas que já se encontram nos livros introdutórios de história, simbologia e filosofia maçônica. Os ensinamentos considerados reservados, transmitidos exclusivamente em Loja e nos momentos apropriados, permanecem restritos aos Iniciados da Ordem.

Portanto, tudo o que será exposto aqui está rigorosamente dentro dos limites do sigilo maçônico e tem como propósito maior promover o aperfeiçoamento ético, intelectual e espiritual daqueles que desejam beber dessa fonte de Luz que é a nossa Sublime Ordem Maçônica.

O 22º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito, intitulado Cavaleiro do Real Machado, também conhecido como Príncipe do Líbano, pertence ao ciclo dos Graus do Conselho de Kadosh, marcados por forte conteúdo simbólico, esotérico e místico. Trata-se de um Grau eminentemente iniciático, cuja narrativa ritualística valoriza a dignidade do trabalho como força transformadora, comparável à nobreza e superior à espada.

A Lenda e o Simbolismo dos Cedros do Líbano

A lenda central do Grau 22 do Rito Escocês Antigo e Aceito — denominado Príncipe do Líbano — remonta a tempos arcaicos, cujas raízes mergulham nas mais antigas tradições bíblicas e esotéricas. Seu cenário mítico é o Monte Líbano, local de esplendor natural e espiritual, onde cresciam os sagrados Cedros do Líbano, árvores majestosas que não apenas adornavam a paisagem, mas simbolizavam a ligação direta entre o Céu e a Terra.

Estes cedros foram usados na construção de obras santificadas pela presença divina: a Arca de Noé, a Arca da Aliança, o Templo de Salomão e mais tarde, o Templo de Zorobabel. Não se tratava apenas de madeira nobre, mas de matéria viva impregnada de simbolismo espiritual — o Cedro tornava-se assim um veículo do sagrado, uma ponte entre a matéria e o espírito, entre o homem e Deus.

Os responsáveis pelo corte, seleção e transporte dessas árvores eram os sidônios, povo sábio e devoto, que compreendera a sacralidade do ofício manual. Esses trabalhadores não eram simples lenhadores, mas operários iniciáticos, que fundaram colégios e corporações de ofício, onde o trabalho era expressão de adoração e os instrumentos de carpintaria, ferramentas de meditação e elevação espiritual. Para eles, o ato de cortar o cedro era um gesto ritual, uma oferta ao Altíssimo, símbolo da submissão da natureza ao propósito divino.

Segundo a tradição esotérica transmitida no seio do Grau, há um mistério ainda mais profundo envolvendo os Cedros do Líbano. Diz-se que Adão, ao ser expulso do Éden, levou consigo uma muda da Árvore da Vida, como herança divina da era primordial. Essa muda foi plantada fora do Paraíso e, ao longo das gerações, transformou-se nos primeiros cedros do Líbano. Dessa forma, cada árvore daquela floresta era considerada descendente direta da Árvore da Vida, e continha, em seus anéis e seiva, os ecos da Sabedoria Original.

Os Cedros do Líbano são tão importantes para o povo Libanês que um Cedro ornamenta a Bandeira do País.

Estrutura da Iniciação: Os Quatro Portais

A iniciação neste Grau se desenvolve em quatro partes distintas, cada qual carregada de simbolismo profundo:

  1. A Porta do Éden – O Neófito é conduzido ao Jardim do Éden e posicionado entre a Árvore da Vida e a da Ciência. Neste cenário místico, o drama do pecado original é encenado à luz simbólica, com uso de som, luz e incenso, para evocar o nascimento da consciência humana e sua queda, prenunciando a redenção pelo trabalho.
  2. No Líbano – As luzes do Éden se apagam, acende-se o Templo, e o Venerável Chefe narra a saga dos povos do Oriente Médio, passando pela Babilônia, Assíria, Egito, Israel e Roma. Ao longo da narrativa, evidencia-se que, apesar das convulsões históricas, permanecem intactos os lenhadores do Líbano — homens que representam a paz, o trabalho e a permanência da verdadeira espiritualidade. A mensagem é clara: Deus é Luz, Espírito, Verdade — mas também é Trabalho.
  3. No Banco de Carpinteiro – A cena muda para uma oficina rústica. O Neófito, que inicialmente buscava o título de Príncipe do Líbano por direito de nascimento, é despojado de seus adornos e passa a trajar-se como operário. Ali, deve manusear o serrote, a plaina e o machado, assumindo o ofício manual como forma de mérito. Após reflexão e execução do trabalho simbólico, ele é submetido à votação pelos Obreiros do Real Machado.
  4. Sob o Machado – Aprovado, o Neófito retorna ao Templo, reassume suas vestes e presta seu juramento solene, comprometendo-se a elevar o caráter das classes trabalhadoras, combater a ociosidade e considerar o operário como seu igual — desde que este atue com honestidade e virtude. A pena em caso de perjúrio é simbólica, mas severa: ser exposto aos cumes gelados do Líbano. Em seguida, é proclamado Cavaleiro do Real Machado, com palavras que exaltam a nobreza do trabalho acima das conquistas militares.

Estrutura e Ornamentação da Loja

O Templo do Grau 22 é dividido em dois espaços distintos:

  • Oficina de Carpintaria (Monte Líbano) – Sala simples, decorada em azul, sem ornamentação formal. Ferramentas como machados, serras e plainas encontram-se dispostas no ambiente.
  • Câmara do Colégio (Mesa-Redonda) – Sala pintada de vermelho, contendo 36 luzes e uma mesa redonda ao centro. Sobre ela repousam instrumentos simbólicos: compasso, esquadro e um plano dourado.

Na extremidade da Oficina encontra-se um pequeno jardim, marcado por uma figueira, escondendo uma cadeira para o Neófito. Uma cortina com nuvens e relâmpagos simboliza a passagem do Éden ao mundo profano. No altar, além dos livros e símbolos usuais, repousa um machado encimado por uma coroa dourada.

Hierarquia e Títulos

A estrutura da Loja recebe nomes próprios:

  • Presidente: Venerável Chefe ou Sapientíssimo Grande Patriarca
  • Vigilantes: Grandes Vigilantes
  • Demais Oficiais: Grande Secretário, Grande Orador, Grande Mestre de Cerimônias (ou Condutor dos Trabalhos) e Guarda do Colégio
  • Membros: Patriarcas

Os trabalhos são chamados de Assembleias ou Colégios, e são retomados (não abertos) ao nascer do Sol, encerrando-se ao seu ocaso.

O grau enfatiza o direito de todo Obreiro, mesmo o mais humilde, de se expressar e reclamar Justiça — seja contra um Irmão ou contra as injustiças do mundo profano.

Insígnias e Ornalhas

  • Avental: Branco, com duas versões: uma com a imagem de uma mesa redonda com instrumentos de trabalho e planos desenrolados; outra, com um olho simbólico no centro. A abeta pode apresentar uma serpente com três cabeças, símbolo do saber oculto e da vigilância.
  • Fita: Nas cores do arco-íris, forrada de vermelho. O arco-íris remete à aliança de Deus com Noé, símbolo de esperança e renascimento.
  • Jóia: Um machado dourado coroado, com inscrições em seus dois lados:
    • L. S. A. A. C. D. X. Z. A.: Líbano, Salomão, Abdá, Adonhiram, Ciro, Dario, Xerxes, Zorobabel e Ananias.
    • S. N. S. C. J. M. B. G.: Sidônio, Noé, Sem, Cam, Jafé, Moisés, Bezeleel e Goliab.

Essas iniciais remetem a personagens que, de algum modo, cooperaram com as construções sagradas ou o desenvolvimento espiritual do povo hebreu.

A Filosofia do Grau: O Machado é Mais Nobre que a Espada

O Príncipe do Líbano é consagrado ao final da cerimônia com uma frase que resume todo o sentido iniciático do Grau:

“Assim como o trabalhador resoluto, armado de um machado, marcha na vanguarda da civilização e derruba os troncos mais duros, também a Maçonaria destrói as folhagens venenosas chamadas intolerância, hipocrisia, egoísmo e perseguição.”

Aqui, o machado representa a força construtiva do trabalho honesto, da ética e da sabedoria aplicada à vida comum. Em contraste com a espada — símbolo da guerra e do poder político — o machado torna-se o instrumento da regeneração moral e social.

Conclusão

O Grau 22 – Cavaleiro do Real Machado ou Príncipe do Líbano – propõe uma revalorização simbólica do labor humano. Através do resgate da tradição dos artífices do Líbano, a Maçonaria ensina que a verdadeira nobreza está no esforço pessoal, no dever cumprido e na edificação coletiva de uma sociedade mais justa. Mais que um título, este Grau é um chamado à consciência, à humildade e à ação transformadora.

Laborare est orare — Trabalhar é orar. E todo verdadeiro Maçom é, antes de tudo, um operário da Luz.

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Na próxima publicação desta série, exploraremos juntos os segredos e ensinamentos dos Conselhos Filosóficos de Kadosh (19º ao 30º Grau), com 23º Grau, o Chefe do Tabernáculo.

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