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Grau 21 da Maçonaria – Cavaleiro Noaquita ou Cavaleiro Prussiano do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA)

Recordamos aos Irmãos, bem como aos profanos interessados, que qualquer estudo sobre Maçonaria dirigido ao público externo deve conter somente informações de caráter geral — aquelas que já se encontram nos livros introdutórios de história, simbologia e filosofia maçônica. Os ensinamentos considerados reservados, transmitidos exclusivamente em Loja e nos momentos apropriados, permanecem restritos aos Iniciados da Ordem.

Portanto, tudo o que será exposto aqui está rigorosamente dentro dos limites do sigilo maçônico e tem como propósito maior promover o aperfeiçoamento ético, intelectual e espiritual daqueles que desejam beber dessa fonte de Luz que é a nossa Sublime Ordem Maçônica.

Introdução e Natureza do Grau

O 21º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito, denominado Cavaleiro Noaquita ou Cavaleiro Prussiano, representa um novo estágio na jornada iniciática do Maçom, onde os elementos simbólicos bíblicos e templários se entrelaçam para transmitir profundas lições morais e espirituais. Este Grau insere-se no grupo dos Altos Graus Filosóficos e visa combater o orgulho, a vaidade e o egoísmo – paixões humanas que desviam o indivíduo de sua verdadeira missão como construtor da harmonia universal.

Diferente de muitos outros graus, cuja ambientação ritualística se dá em ambientes idealizados ou históricos, os trabalhos do Grau 21 acontecem simbolicamente em um local remoto, iluminado apenas pela luz da Lua cheia, o que lhe confere um caráter misterioso e contemplativo. Os Cavaleiros Noaquitas se reúnem apenas de 28 em 28 dias, obedecendo ao ciclo lunar, e sua câmara ritual é deliberadamente privada de luz artificial, simbolizando o retorno à luz natural e à simplicidade primitiva da Verdade.

O Nome “Noaquita”: Herança Bíblica e Simbólica

O 21º Grau se estrutura sobre uma rica tapeçaria de tradições míticas, episódios bíblicos e registros históricos, fundindo elementos do Antigo Testamento com referências ao universo medieval europeu. A justaposição de fontes aparentemente inconciliáveis é parte do mistério e da força do Grau, que transmite seus ensinamentos por meio de símbolos plurais e narrativas superpostas.

O título “Noaquita” remete diretamente à figura de Noé e seus descendentes — Sem, Cam e Jafé. Após o Dilúvio, segundo a tradição bíblica, os homens não confiavam plenamente no novo pacto com Deus e decidiram construir uma torre tão alta que os protegeria de outro possível castigo divino. Essa obra tornou-se conhecida como Torre de Babel.

O arquiteto da Torre foi chamado Phaleg (ou Peleg), figura lendária cuja aparição simbólica representa a soberba humana e o fracasso da arrogância coletiva. A narrativa sustenta que, ao perceber a rebelião dos homens, Deus confundiu as línguas, o que interrompeu a construção e espalhou os povos pela Terra. Babel passou a significar “confusão”.

Phaleg, tomado de arrependimento, teria deixado a região e migrado para o território da antiga Prússia, onde construiu um Templo triangular como súplica de perdão ao Criador. Essa estrutura sagrada, segundo a lenda, viria a servir de símbolo aos Cavaleiros Prussianos.

A Coluna Suméria na Prússia

Em consonância com essa lenda, o Grau remete ainda ao descobrimento feito em 1553 em terras prussianas — uma coluna gravada com caracteres suméricos, onde se registrava a história da construção de Babel e a culpa de seu arquiteto. Embora o achado arqueológico nunca tenha sido historicamente verificado, ele adquire um valor iniciático ao simbolizar a transmissão ancestral do erro e da redenção, e reforça o elo entre o Antigo Testamento e a tradição germânica.

A Tradição Prussiana e o Fundamento Histórico

O quadro A Torre de Babel, pintado por Pieter Bruegel, o Velho em 1563

O Grau também se ancora na tradição dos Cavaleiros Prussianos, associados à antiga Ordem dos Príncipes da Águia Branca e da Águia Negra. Segundo os registros simbólicos, Frederico II, rei da Prússia, teria sido o Grande Comendador dessa Ordem e é representado na Câmara do Grau pelo Presidente da Loja, denominado Cavaleiro Tenente Comendador.

Além disso, há referências à fundação do Capítulo Noaquita por antigos povos gauleses, sendo o primeiro Capítulo estabelecido na França em 1658. Tal tradição se mistura à redescoberta, em 1553, na região da Prússia, de uma coluna com inscrições sumérias contendo a história da construção da Torre de Babel e o arrependimento de seu arquiteto. Embora tais elementos sejam dificilmente comprováveis no plano factual, servem ao rito como veículos de reflexão simbólica e iniciática.

Outro enredo associado ao Grau é o da Justiça secreta praticada pelo misterioso Tribunal da Santa Vehme, já citado no Grau 9. Em uma narrativa exemplar, um Cavaleiro das Cruzadas, ao retornar ao lar, descobre que seus bens foram tomados com base em documentos falsificados. Ele apela ao tribunal da Vehme e, após um julgamento secreto realizado à meia-noite, a Justiça é feita: os bens são devolvidos ao legítimo proprietário e o usurpador punido. Esse relato, simbólico em sua essência, reforça o ideal de Justiça imparcial que transcende o poder e o status social.

Santa Vehme ou Vehmgericht

A Santa Vehme (ou Vehmgericht), ordem secreta de tribunais populares que atuou na Alemanha entre os séculos XIII e XV, especialmente na Vestfália. Esses tribunais, geralmente compostos por nobres e cavaleiros, realizavam julgamentos secretos à meia-noite, em lugares ocultos e sob severo juramento de silêncio. A punição, quando aplicada, era imediata e inapelável. A simbologia da Santa Vehme no Grau 21 serve como metáfora da Justiça invisível, que atua fora dos olhos do mundo, mas segundo os princípios da equidade e da verdade.

A Lenda do Cavaleiro Cruzado

Essa relação simbólica se manifesta na lenda de um Cavaleiro que, retornando das Cruzadas, encontra suas terras e títulos usurpados por meio de documentos falsificados. Sem apoio político ou poder, apela ao Tribunal da Santa Vehme, que realiza uma sessão noturna e secreta, reconhece a injustiça e condena o falsário à morte, devolvendo a posse ao verdadeiro herdeiro.

Esse relato tem um duplo propósito:

  1. Reforçar o ideal de que a verdadeira Justiça não depende da força, mas da Verdade;
  2. Mostrar que a Justiça Divina se realiza mesmo na sombra, sem alarde ou espetáculo.

A Câmara dos Cavaleiros Noaquitas

Ornamentação, Atmosfera e Rituais à Luz da Lua

Brasão Heráldico do 21º Grau do REAA

A Câmara onde se realizam os trabalhos do Grau 21 possui características absolutamente únicas no conjunto do Rito Escocês Antigo e Aceito. Sua ornamentação e simbologia evocam um ambiente solene, reservado e carregado de significados. A atmosfera ritual é estabelecida por uma única fonte de iluminação: a luz natural da Lua, que deve entrar suavemente por uma janela voltada ao Oriente. Por esse motivo, as sessões dos Cavaleiros Noaquitas só ocorrem durante as noites de Lua Cheia, com intervalo de 28 em 28 dias, obedecendo o ritmo cíclico e contemplativo da Natureza.

O local da reunião é denominado Grande Capítulo, e sua simplicidade ritualística visa remeter à humildade e ao recolhimento espiritual. O Trono do Presidente é coberto por um pano negro, sem ostentação, e diante do Dossel destaca-se um símbolo fundamental: um triângulo prateado atravessado por uma flecha dourada, representando o espírito que transcende a matéria e a direção certeira do iniciado que busca a Verdade.

Espalhados pelo chão, encontram-se escombros e ruínas de uma construção desmoronada, aludindo à Torre de Babel e ao colapso das pretensões humanas quando guiadas pelo orgulho. Os Irmãos portam ferramentas de construção, simbolizando sua tarefa contínua como construtores espirituais. O Presidente empunha um cabo de trolha, instrumento do pedreiro que simboliza a união da obra e o equilíbrio entre o ideal e a execução prática.

Um dos aspectos mais simbólicos do Grau é a temporalidade ritual:

  • Os trabalhos iniciam-se quando a Lua aparece no céu, símbolo da luz nas trevas, da verdade refletida.
  • Encerram-se quando o Sol está prestes a nascer, momento de transição do oculto para o revelado, do julgamento secreto para a manifestação da justiça no mundo visível.

O ciclo lunar representa o crescimento interior que se opera no silêncio da noite e se manifesta com clareza no raiar da consciência.

Estrutura Hierárquica e Títulos dos Oficiais

No interior do Grande Capítulo, a organização dos Oficiais segue um modelo particular, marcado por títulos que evocam funções cavaleirescas e valores de justiça e eloqüência. A presidência é ocupada por um Irmão com o título de:

  • Cavaleiro Tenente Comendador, que representa Frederico II da Prússia, considerado protetor simbólico da Ordem.
    Os demais Oficiais recebem as seguintes denominações:
  • Cavaleiros Inspetores – Correspondem aos Vigilantes, encarregados de supervisionar os trabalhos.
  • Cavaleiro da Eloqüência – Função equivalente à do Orador, guardião da palavra e dos princípios do Grau.
  • Cavaleiro Chanceler – Ocupa o cargo de Secretário, zelando pela comunicação e registros.
  • Cavaleiro Guarda do Capítulo – Responsável pelas cerimônias e pela ordem interna.

Todos os participantes da reunião são denominados Cavaleiros Maçons, sinalizando o duplo aspecto do Grau: cavaleiresco e iniciático.

Os Paramentos e Insígnias do Grau 21

Os paramentos usados pelos Cavaleiros Noaquitas têm um profundo significado esotérico e refletem a conexão entre o mundo material e o espiritual, o passado e o futuro, além de remeterem diretamente à lenda de Noé e seus descendentes.

Avental e Faixa

O Avental do Grau 21 é de cor amarela, com um símbolo na Abeta (parte superior) que representa um braço nu empunhando uma espada, um gesto de poder e justiça, pronto para defender a honra e a verdade. No centro, encontra-se a imagem de um homem alado segurando uma chave, que pode ser interpretado como o símbolo de acesso ao conhecimento secreto e à sabedoria oculta.

Avental Maçônico do Grau 21 do REAA

A faixa negra, que é uma das insígnias do Grau, tem uma jóia em forma de triângulo equilátero de ouro, atravessado por uma flecha. O triângulo representa a estabilidade, o equilíbrio e a perfeição da geometria divina, enquanto a flecha é o símbolo da direção e da verdade que se busca sem cessar.

Esses paramentos refletem o compromisso do Cavaleiro Noaquita com a verdade, a justiça e o desapego dos bens materiais, e são uma constante lembrança de seu papel como um instrumento de redenção e justiça no mundo.

Traje e Luvas

Os Cavaleiros Noaquitas vestem traje negro, o que simboliza o desapego às glórias efêmeras e a conexão com o aspecto mais sério e elevado da Maçonaria. As luvas amarelas, por sua vez, destacam a ideia de pureza e virtude, mantendo o Cavaleiro protegido do contato com a contaminação espiritual representada pela tentação do orgulho e da vaidade.

Jóia e Insígnias de Honra

A jóia do Grau 21 é um triângulo dourado atravessado por uma flecha, que simboliza o caminho para a verdade e o conhecimento que deve ser perseguido com diligência e humildade. A Luz prateada, que também é usada como insígnia, remete à sabedoria que se encontra na introspecção e na iluminação divina, uma vez que é pela luz da Lua que se revelam as verdades ocultas.

Jóias do 21º Grau do REAA

O Grau 21 apresenta uma série de sinais, palavras e toques que são utilizados como elementos de identificação e instrução ritual. Esses gestos e palavras carregam o conteúdo esotérico do Grau e reforçam a ligação entre os participantes. Elementos que fazem referência a toda narrativa e simbolismo deste Grau.

Filosofia do Grau 21

Orgulho, Vaidade e Egoísmo: As Paixões que Degradam

O cerne filosófico do Grau 21 está na denúncia e no combate ao orgulho, à vaidade e ao egoísmo, considerados os principais entraves ao aperfeiçoamento espiritual e à convivência fraterna entre os homens. Trata-se de um ensinamento ético construído por meio de uma série de nove perguntas que são dirigidas ao candidato durante a cerimônia. Essas questões são reflexões profundas, exigindo do Iniciado uma análise honesta de suas paixões, de seu comportamento social e de sua disposição para viver segundo os princípios da Justiça.

Esse conjunto de perguntas funciona como uma espécie de catecismo moral, cujo objetivo é conduzir o candidato ao autoconhecimento e à purificação de seus impulsos inferiores.

As Nove Perguntas Filosóficas

1. Qual é a paixão que mais se opõe à Justiça e à Igualdade?
– O orgulho, pois quem se sente superior tende a desprezar os demais, dificultando a convivência e a harmonia. O orgulho isola, impede o diálogo e gera a arrogância que obscurece a razão.

2. Qual a diferença entre orgulho e vaidade?
– A vaidade busca aprovação externa; quer ser admirada pelos outros. Já o orgulho nasce da autoimagem inflada, do sentimento de superioridade. Ambos são prejudiciais quando transformados em paixão, mas a vaidade tende a ser mais superficial, enquanto o orgulho se enraíza mais profundamente na alma.

3. Qual a distinção entre o orgulho e o egoísmo?
– O orgulhoso perece antes de se rebaixar, pois zela pela própria dignidade; já o egoísta submete todos os valores ao seu bem-estar. O egoísmo é calculista, sedutor, manipulador; busca sempre tirar proveito, ainda que sob falsas aparências.

4. O orgulho é o pai do egoísmo?
– Não. O egoísmo nasce do instinto de autopreservação, que é natural, mas torna-se perverso quando nega afeto e solidariedade. O egoísta ignora o bem comum e despreza vínculos, inclusive os familiares, por conveniência e comodismo.

5. O que significa humildade?
– É o respeito à opinião alheia, a obediência às leis que regulam a convivência e a disposição de cumprir o próprio dever na “Oficina da Sociedade Humana”. A humildade é uma virtude ativa, não submissão cega, mas consciência do lugar do indivíduo no conjunto maior.

6. Qual o sentimento contrário ao orgulho?
– A veneração, que gera o respeito filial, a admiração pela sabedoria e o reconhecimento da grandeza do Criador. Quando bem cultivada, produz harmonia e concórdia. A veneração conduz à modéstia e ao equilíbrio nas ações.

7. Qual a diferença entre desejo e paixão?
– O desejo é natural e necessário; visa à realização das faculdades humanas. A paixão, por outro lado, é a insistência cega em satisfazer o desejo, mesmo com sacrifícios desmedidos. A paixão desregulada conduz à destruição.

8. É possível converter as paixões em virtudes?
– Sim. Toda paixão é uma força da alma que pode ser canalizada para o bem. A educação correta, o exemplo moral e o conhecimento dos limites permitem transformar o impulso em construção ética. O problema não é desejar, mas desejar com sabedoria.

9. Como tornar o homem consciente de seus deveres e capaz de dominar suas paixões?
– Pelo contato com a Natureza e com o Criador, num ambiente moralmente elevado e livre, como a Oficina Maçônica. A Maçonaria se apresenta como esse espaço simbólico onde o homem aprende, gradualmente, a se elevar pelas virtudes.

Justiça, Verdade e Redenção

O ensinamento central do Grau 21 é que a Justiça prevalece mesmo contra os poderosos. Isso é ilustrado por lendas associadas ao Grau, como a história de Adolfo, o Saxão, que após retornar das Cruzadas viu-se vítima de uma fraude envolvendo sua herança. Seu apelo à justiça resultou na restituição de seus bens, simbolizando que o homem justo, ainda que humilde, pode obter vitória sobre os falsos e usurpadores.

Este grau, portanto, estabelece que o Julgamento é inevitável, mas ele ocorre em segredo, como no Tribunal da Santa Vehme, e os que vivem com má-fé serão punidos por suas transgressões. Já os que vivem com retidão, mesmo que em silêncio, serão restaurados à sua dignidade.

O Salmo 55: Voz do Justo Perseguido

A liturgia espiritual do Grau 21 é profundamente marcada pela recitação e meditação do Salmo 55 de Davi, um cântico de lamento, mas também de esperança e confiança. Ele traduz o sentimento do Justo traído, perseguido e injustiçado, mas que confia na retidão do Julgamento Divino.

Esse Salmo também simboliza o drama moral do Iniciado: sua luta interna, suas dores silenciosas, suas perdas e traições, mas também sua fé no poder da Verdade e da Justiça.

“Lança o teu cuidado sobre o Senhor, e Ele te susterá; nunca permitirá que o Justo seja abalado.”

Conclusão

O Cavaleiro Noaquita é lembrado de sua responsabilidade moral e espiritual em combate ao egoísmo, à vaidade e ao orgulho. Ele é convidado a abandonar as construções vazias da Torre de Babel e a reconstruir o Templo da verdadeira sabedoria, com humildade e justiça.

Ao buscar a iluminação e o aperfeiçoamento, o Cavaleiro Noaquita deve tornar-se um exemplo de equilíbrio moral, de respeito aos outros e de contribuição para um mundo mais justo e harmonioso. Através de cada passo de sua jornada iniciática, ele é guiado pela luz lunar, pela verdade inabalável e pela sabedoria eterna, com o objetivo de restaurar o equilíbrio que foi perdido com a construção da Torre de Babel.

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Na próxima publicação desta série, exploraremos juntos os segredos e ensinamentos dos Conselhos Filosóficos de Kadosh (19º ao 30º Grau), com 22º Grau, o Cavaleiro do Real Machado ou Príncipe do Líbano.

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