
O Grau de Companheiro Maçom, também conhecido como Grau 2, representa a segunda etapa na jornada simbólica do maçom, sucedendo o Grau de Aprendiz. Neste estágio, o maçom é incentivado a aplicar na prática os conhecimentos adquiridos anteriormente, aprofundando-se em estudos mais complexos e simbólicos.
Transição do Aprendizado à Aplicação
Ao alcançar o Grau de Companheiro, o maçom deixa a fase da instrução mais elementar, marcada pelo silêncio e pela observação — características do Aprendiz — e entra em uma nova etapa onde se espera que ele comece a construir, pensar por si mesmo e interagir com maior maturidade no meio maçônico. Essa transição representa simbolicamente o despertar da razão e da consciência ativa no caminho do aperfeiçoamento.
Enquanto no primeiro grau a ênfase está na moralidade básica, no comportamento e na lapidação da “pedra bruta” interior, o Grau de Companheiro representa a elevação da consciência rumo ao domínio intelectual e racional. O maçom passa a ser estimulado a fazer perguntas, investigar, raciocinar e construir ideias com base nos símbolos e ensinamentos que foram anteriormente apenas intuídos.
Este grau valoriza especialmente o trabalho intelectual, entendido como esforço contínuo em adquirir conhecimento, refletir sobre ele e colocá-lo em prática para o bem da coletividade. Trata-se de um convite para que o maçom assuma uma postura ativa na busca pela sabedoria, e não mais apenas receptiva. Essa busca está alinhada com os ideais do Iluminismo que influenciaram a Maçonaria especulativa, e é simbolicamente expressa na jornada pelo “Templo do Saber”.
As ciências e as artes são os campos pelos quais o Companheiro é convidado a se aventurar:
- As Ciências Naturais, para compreender a ordem do universo e os fenômenos que regem a vida.
- A Filosofia, para refletir sobre a existência, a moral e o sentido da jornada humana.
- A História, para entender os ciclos da humanidade, suas conquistas, erros e aprendizados.
- As Artes Liberais — como a Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia — compõem o ideal de formação integral do Companheiro, que deve harmonizar razão e sensibilidade, mente e espírito.
Esse é o grau em que o maçom deixa de ser apenas um estudante e passa a ser um verdadeiro viajante — aquele que se movimenta em busca da Verdade, ampliando sua visão de mundo e construindo pontes entre o conhecimento esotérico, o mundo simbólico e a realidade prática.
Em essência, a transição do Aprendiz ao Companheiro representa a passagem do silêncio à expressão, da escuta à fala, da contemplação à construção. O Companheiro está agora apto a contribuir, não apenas com sua presença, mas com ideias, reflexões e ações conscientes. É um passo decisivo rumo à plenitude do ofício maçônico.
Simbolismo e Ferramentas
O Grau de Companheiro é rico em simbolismos que orientam o maçom em sua jornada de autoconhecimento e aprimoramento. Entre os símbolos destacados estão:
- Estrela Flamejante;
- Instrumentos do Companheiro.

A Estrela Flamejante:
Introduzida na Maçonaria no século XVIII, a Estrela Flamejante representa luz, sabedoria, conhecimento e autodesenvolvimento. Como estrela de cinco pontas, simboliza a jornada do Maçom em direção à iluminação espiritual e ao aperfeiçoamento moral.
De maneira alegórica, ela se relaciona à figura humana: a ponta superior representa a cabeça — a mente — e as demais simbolizam os membros. Essa imagem convida à reflexão sobre a conexão entre o ser humano, o divino e o universo. A estrela, portanto, não é apenas símbolo de luz, mas guia para o entendimento de nossa existência e missão no mundo.
O Simbolismo dos Cinco Elementos
As cinco pontas da Estrela Flamejante remetem diretamente a diversos sistemas filosóficos e espirituais. Na tradição bíblica, por exemplo, os quatro elementos primários — Terra, Água, Fogo e Ar — são criados antes do homem, que recebe o sopro divino como quinto elemento, essência que vivifica a matéria.
Na filosofia hindu, os cinco elementos — Prithivi (Terra), Apas (Água), Tejas (Fogo), Vayu (Ar) e Akash (Éter) — também constituem a base da criação e correspondem a diferentes aspectos do corpo humano. A cabeça, sede da inteligência e das faculdades espirituais, é vista como elo entre o homem e o Criador.

Para o Companheiro Maçom, integrar esses elementos significa buscar equilíbrio entre natureza e espírito, caminhando em direção à sabedoria e compreensão superiores.
O Número Cinco
O número cinco aparece diversas vezes no rito do Grau de Companheiro: nas pontas da estrela, na idade simbólica do grau, no número de passos e nas pancadas rituais. Representa o equilíbrio, a harmonia e a justiça — valores essenciais ao desenvolvimento ético do Maçom.
Pitágoras, filósofo e matemático grego, via o número cinco como símbolo da justiça e da proporção, por estar no centro da sequência de 1 a 9. Essa filosofia é refletida no simbolismo do grau, que busca harmonizar o espiritual e o material, conduzindo o iniciado ao caminho da virtude e da sabedoria.
A Letra G: Geometria, Gnose e Sabedoria
No centro da Estrela Flamejante, encontra-se a letra “G”, que carrega múltiplos significados. O mais comum refere-se à Geometria, ciência sagrada que simboliza a construção da própria evolução moral. Na Antiguidade, a Geometria era essencial à edificação de templos e estruturas sagradas; na Maçonaria, ela representa a construção do caráter e da alma.
A Geometria também é um caminho para compreender a ordem do cosmos, pois ensina que a vida, como uma construção, deve ser cuidadosamente planejada para refletir a perfeição do Grande Arquiteto do Universo.
Além disso, a letra “G” pode remeter a outras palavras simbólicas como Gnose, Gravidade, Gênio e Geração, todas associadas à busca do conhecimento superior. Em especial, a Gnose representa o saber esotérico e divino, que transcende a razão e se alcança por meio do estudo, da meditação e da prática da virtude.

O Pentagrama e a Geometria Sagrada
A Geometria do Pentagrama, símbolo-chave na Maçonaria, é rica em significados. Sua construção envolve a Proporção Áurea, considerada expressão máxima da harmonia universal. Presente na arte, na natureza e na arquitetura, essa proporção revela a ordem divina na criação.
Pitágoras via o Pentagrama como símbolo de perfeição e integridade, pois pode ser desenhado com uma linha contínua. Para ele, representava a busca pela perfeição espiritual. No contexto maçônico, o Pentagrama simboliza o equilíbrio, a harmonia e a conexão com os princípios divinos.
No Grau de Companheiro, o maçom adentra uma etapa mais ativa e intelectual de sua jornada iniciática. Este grau simboliza o desenvolvimento do pensamento, da razão e da aplicação prática do conhecimento adquirido como Aprendiz. Para isso, ele passa a contar com um novo conjunto de ferramentas simbólicas, que representam atributos essenciais para seu progresso moral, intelectual e espiritual.
Régua de 24 Polegadas
Embora também usada no Grau de Aprendiz, a Régua continua presente como símbolo da justa medição do tempo e da retidão nos julgamentos. Divide-se simbolicamente em três partes de oito horas: trabalho, repouso e devoção. Para o Companheiro, ela adquire um sentido mais dinâmico, representando a necessidade de organização e disciplina intelectual no estudo das ciências e artes liberais.
Alavanca
A Alavanca representa a aplicação do conhecimento de forma eficiente e racional. Com ela, o Companheiro aprende que, com sabedoria e técnica, é possível mover grandes obstáculos com o menor esforço. Simboliza também o poder transformador da inteligência sobre a matéria bruta e sobre os próprios desafios da existência.
Compasso
O Compasso, instrumento do traçado e da precisão, adquire um significado ainda mais elevado neste grau. Representa a justa medida, o equilíbrio entre razão e emoção, entre liberdade e limite. É símbolo da busca pela Verdade, da expansão dos horizontes da mente, e da capacidade de delimitar um espaço de reflexão, ação e crescimento pessoal.
Esquadro
Embora já presente no simbolismo do Aprendiz, o Esquadro se reforça no Grau de Companheiro como expressão da retidão de caráter, da justiça e da conformidade com os princípios da moral universal. Ele é o padrão pelo qual se mede a correção dos atos e pensamentos. No trabalho do Companheiro, o Esquadro e o Compasso juntos simbolizam o domínio da razão (Esquadro) guiada pela consciência espiritual (Compasso).
Maço e Cinzel
Estas ferramentas são herdadas do grau anterior, mas continuam essenciais. O Maço representa a força de vontade, e o Cinzel, a inteligência aplicada. Juntos, eles mostram que a transformação interior exige não apenas determinação, mas também discernimento. Mesmo no grau intermediário, o Companheiro segue esculpindo sua própria pedra, agora com mais habilidade e clareza de propósito.
Esses instrumentos convidam o Companheiro a pensar (Compasso), agir com justiça (Esquadro), aplicar a força com inteligência (Maço e Cinzel), organizar o tempo e os estudos (Régua) e mover obstáculos com sabedoria (Alavanca).
Desenvolvimento Moral e Intelectual
O Grau de Companheiro representa um momento decisivo na jornada do maçom. Ele já não é mais um simples Aprendiz que observa em silêncio e molda sua pedra bruta com esforço e disciplina; agora, ele é um artesão em formação, chamado a desenvolver-se por meio do estudo, da reflexão e da ação consciente no mundo. Este grau é a ponte entre a formação inicial e os altos graus da maestria espiritual, e exige, portanto, uma dedicação profunda ao aperfeiçoamento moral e intelectual.
Desenvolvimento Intelectual
No caminho do Companheiro, o intelecto é ferramenta de iluminação. É nesse estágio que se introduz de forma mais clara o estudo das ciências, das artes liberais, da geometria, da filosofia e da simbologia. O Companheiro é convidado a pesquisar, questionar, construir raciocínios e compreender os mistérios do universo.
Mas esse desenvolvimento intelectual não é um fim em si mesmo. Ele deve estar sempre a serviço do bem e da elevação do espírito. O conhecimento vazio de ética torna-se vaidade; por isso, o verdadeiro Companheiro é aquele que sabe com humildade e aplica com sabedoria.
Desenvolvimento Moral
Ao mesmo tempo, o progresso moral é indispensável. A inteligência deve caminhar lado a lado com a virtude. A prática da caridade, o respeito ao próximo, a fraternidade, a retidão e o autocontrole são atributos essenciais à evolução do Companheiro. Ele deve aprender que o saber só se justifica quando está a serviço da construção de um mundo mais justo, harmônico e iluminado.
O Companheiro compreende que não basta lapidar a si mesmo — é necessário usar o que aprendeu para melhorar o coletivo. Essa é a essência do serviço maçônico: transformar o mundo, tijolo por tijolo, com as próprias mãos e coração.
Equilíbrio entre Conhecimento e Ética
O Companheiro é simbolicamente aquele que já sabe usar suas ferramentas, mas ainda está sendo provado. Ele deve aprender a equilibrar ação e contemplação, trabalho e estudo, razão e emoção. O verdadeiro crescimento surge quando a mente se alinha ao coração, e o conhecimento se submete à consciência moral.
É nesse sentido que o Grau de Companheiro reflete o próprio caminho da humanidade: uma constante tensão entre a razão e a ética, entre o poder de saber e a responsabilidade de agir bem.
Conclusão
O Grau de Companheiro representa uma transição vital na senda iniciática, onde o silêncio contemplativo do Aprendiz dá lugar à ação consciente e fundamentada. Aqui, o maçom é chamado a integrar o que aprendeu internamente com o que realiza externamente, transformando sabedoria em obra viva, pensamento em construção, e ideal em serviço.
Como Companheiro, após o período de aprendizagem, ele retorna ao mundo com novos olhos. Traz consigo a consciência de que a espiritualidade não o afasta da realidade, mas o compromete com ela. Com os pés firmes na Terra e a mente voltada ao Infinito, ele entende que a verdadeira ascensão só ocorre quando se assume a responsabilidade de construir, de contribuir, de lapidar não apenas a si mesmo, mas também o mundo ao seu redor.
Neste grau, o conhecimento já não é apenas um fim, mas um meio. Um meio de tornar-se útil, de aplicar as leis do espírito à realidade da matéria. Por isso, o estudo das ciências, das artes, da geometria e da simbologia não é um exercício puramente intelectual, mas uma prática sagrada de reconhecimento da ordem divina refletida na criação. O Companheiro aprende a ver o invisível no visível, a linguagem espiritual nos sinais do mundo.
Ser Companheiro é, portanto, assumir a missão de servir como ponte entre o Céu e a Terra — compreender o homem e suas manifestações culturais, intelectuais e sociais, sem jamais perder de vista a centelha divina que anima todas as coisas. É elevar-se sem se afastar, é construir sem se corromper, é agir no mundo sem deixar que o mundo o detenha.
A Maçonaria, nesse estágio, não forma apenas místicos contemplativos, tampouco homens de ciência desprovidos de alma. Forma construtores conscientes, que unem fé e razão, intuição e método, transcendência e ação. O Companheiro é o obreiro que sabe que toda pedra bem talhada, toda obra bem executada e toda vida bem vivida são reflexos do Grande Templo ideal que se ergue, silenciosamente, dentro de cada ser.
Por isso, seu trabalho é duplo: moldar a si mesmo e contribuir para o aperfeiçoamento da humanidade. Com suas ferramentas simbólicas em mãos — régua, alavanca, compasso, esquadro, maço e cinzel — ele segue adiante, construindo pontes, abrindo caminhos e deixando rastros de luz por onde passa.
Pois esse é o legado do verdadeiro Companheiro Maçom: tornar-se um instrumento da harmonia universal, edificando com sabedoria e amor tanto o templo do espírito quanto o mundo dos homens.
Na próxima publicação, exploraremos juntos os segredos e ensinamentos do Grau de Mestre Maçom.
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