
Recordamos aos Irmãos, bem como aos profanos interessados, que qualquer estudo sobre Maçonaria dirigido ao público externo deve conter somente informações de caráter geral — aquelas que já se encontram nos livros introdutórios de história, simbologia e filosofia maçônica. Os ensinamentos considerados reservados, transmitidos exclusivamente em Loja e nos momentos apropriados, permanecem restritos aos Iniciados da Ordem.
Portanto, tudo o que será exposto aqui está rigorosamente dentro dos limites do sigilo maçônico e tem como propósito maior promover o aperfeiçoamento ético, intelectual e espiritual daqueles que desejam beber dessa fonte de Luz que é a nossa Sublime Ordem Maçônica.
Um Elo de Sabedoria entre Tradições
O Grau 17 da Maçonaria do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), denominado Cavaleiro do Oriente e do Ocidente, é um dos mais simbólicos e filosóficos do sistema maçônico. Localizado dentro do Capítulo Rosa-Cruz, que compreende os graus do 15 ao 18, esse grau ocupa uma posição singular, servindo como preparação para os ensinamentos espirituais ainda mais profundos do Grau 18 – Cavaleiro Rosa-Cruz.
Este grau é uma ponte entre as tradições simbólicas judaico-cristãs, as escolas de sabedoria oriental e as ordens de cavalaria ocidental, simbolizando a união de saberes diversos em direção a uma Verdade universal. Representa, portanto, a integração espiritual de Oriente e Ocidente, superando dicotomias e promovendo uma visão ampla, tolerante e harmoniosa da busca iniciática.
Origens Históricas e Tradições que Inspiraram o Grau

O desenvolvimento do Grau 17 se deu no século XVIII, período de efervescência filosófica e espiritual marcado pelo Iluminismo e pela redescoberta de textos esotéricos. Já no Manuscrito Francken de 1783, este grau aparece estruturado. No entanto, sua simbologia remonta a tempos ainda mais antigos.
Há fortes influências das ordens de cavalaria medieval, especialmente os Cavaleiros Templários, e também elementos do Apocalipse de São João, da tradição judaica do Segundo Templo e de escolas gnósticas e herméticas.
O nome do grau expressa sua natureza reconciliadora: “Oriente e Ocidente” representam polos culturais e espirituais que, ao se unirem, transcendem antigas oposições e promovem a unidade superior do espírito.
Segundo José Castelani, o grau está relacionado à antiga missão de proteger os peregrinos a caminho de Jerusalém, evocando a união de cavaleiros orientais e ocidentais no ano de 1118 para criar uma nova ordem dedicada a essa causa, a Ordem do Templo. Essa narrativa histórica se reflete na alegoria do grau, onde os cavaleiros, após enfrentarem guerras e diásporas, se reencontram em busca de sabedoria e reconexão com o divino.
Simbologia Profunda e Emblemas do Grau
O Grau 17 é um dos mais densos em simbologia no Rito Escocês Antigo e Aceito, pois opera numa esfera onde se entrelaçam misticismo, filosofia e escatologia. Ele é uma síntese de influências judaico-cristãs, tradições orientais e elementos do esoterismo medieval, carregando símbolos de profundo impacto psicológico e espiritual que falam diretamente ao Iniciado atento.
Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse – Provações Humanas e Iniciação Interior
No Livro do Apocalipse, os Quatro Cavaleiros surgem como arautos das tribulações: o primeiro monta um cavalo branco, simbolizando a conquista; o segundo, um cavalo vermelho, representando a guerra; o terceiro, um cavalo preto, associado à fome; e o quarto, um cavalo amarelo-pálido, figura da morte. No contexto maçônico, eles não são apenas personagens de um fim profetizado, mas arquétipos de forças que cada ser humano enfrenta em sua trajetória existencial.
O Cavaleiro do Oriente e do Ocidente é chamado a enfrentar esses “cavaleiros” dentro de si mesmo. Eles representam a necessidade de dominar o orgulho (conquista), controlar a agressividade (guerra), superar os excessos e carências materiais (fome), e finalmente compreender e aceitar a morte como uma passagem (morte). Vencê-los é conquistar as chaves da própria alma, abrindo caminho para a verdadeira libertação espiritual. O grau ensina que a luta não é contra inimigos externos, mas contra as paixões e ilusões internas que aprisionam o espírito.
O Livro dos Sete Selos – O Caminho Iniciático por Estágios Ocultos

O Livro dos Sete Selos, mencionado no Apocalipse, é apresentado como um volume sagrado que somente o Cordeiro pode abrir. Cada selo representa uma etapa de desvelamento da Verdade. No Grau 17, o livro é mais do que um objeto simbólico – ele é o roteiro da própria evolução espiritual do Iniciado. Romper cada selo é uma metáfora para as sucessivas purificações e elevações da consciência, onde antigas concepções são abandonadas e novos níveis de sabedoria são alcançados.
O primeiro selo conduz à compreensão do poder e da responsabilidade. O segundo sela a importância da paz sobre o conflito. O terceiro ensina o desapego material. O quarto confronta a transitoriedade da vida. O quinto propõe a perseverança no sofrimento. O sexto revela a iminência da transformação. O sétimo abre o silêncio interior, a plenitude do mistério. Ao desbravar esse caminho, o Cavaleiro torna-se um ser capaz de penetrar os véus mais profundos da existência.
O Cordeiro sobre o Livro – O Símbolo da Verdadeira Autoridade

O Cordeiro, na tradição cristã, é a representação de Cristo como aquele que, através do sacrifício voluntário, redime a humanidade. No Grau 17, o cordeiro de pé sobre o Livro dos Sete Selos expressa que o verdadeiro poder não é imposto pela força, mas conquistado através da renúncia, da pureza e da busca sincera pela Verdade.
O Cavaleiro que recebe esse grau é convocado a seguir esse modelo: ele não busca glória pessoal, mas almeja abrir os selos não para dominar, mas para servir à humanidade e tornar-se um canal da luz espiritual. O cordeiro representa a vitória da humildade sobre o ego, da entrega sobre a dominação, e da sabedoria sobre a ignorância.
Além disso, o cordeiro sobre o livro sela a missão do Cavaleiro como um guardião dos mistérios e um defensor da revelação, consciente de que o conhecimento é um privilégio que deve ser usado com justiça e responsabilidade.
A Menorah e o Número Sete – O Equilíbrio Universal e a Perfeição Espiritual

A Menorah, o candelabro de sete braços, é um dos símbolos mais antigos do judaísmo, estando associada ao Templo de Jerusalém e à presença divina. No Grau 17, a Menorah aparece como um emblema da luz interior que guia o Cavaleiro ao longo de sua jornada. Cada braço do candelabro pode ser interpretado como uma etapa do processo de iluminação espiritual.
O número sete é, no esoterismo ocidental, o número da totalidade, da realização e da perfeição. Ele aparece no ciclo da criação, nas sete notas musicais, nas sete cores do espectro, nos sete planetas clássicos e nas sete virtudes que o Cavaleiro deve cultivar: fé, esperança, caridade, prudência, justiça, fortaleza e temperança.
O heptágono presente na joia do grau reforça essa ideia de plenitude e harmonia. O Cavaleiro é chamado a integrar essas virtudes em sua vida, iluminando seu caminho e o daqueles que o cercam. A Menorah não apenas ilumina: ela equilibra, organiza e inspira a busca contínua pela verdade e pelo bem.
O sete, portanto, é o compasso que regula todo o ritmo simbólico do Grau 17, desde a estrutura ritualística até o comportamento moral que se espera do Iniciado.
Alegoria Ritualística
A alegoria que estrutura o ritual do Grau 17 – Cavaleiro do Oriente e do Ocidente é, por si só, uma narrativa iniciática de grande poder simbólico e espiritual. Ela nos apresenta a epopeia de um grupo de Cavaleiros oriundos do Ocidente que, impulsionados pela perda da Palavra Sagrada, partem em direção ao Oriente, não apenas como uma jornada geográfica, mas como um movimento de ascensão espiritual e de reencontro com a luz primordial.
Essa busca representa o anseio universal da humanidade pela reconexão com o divino e pela restauração da Sabedoria Original, simbolizada pela Palavra Perdida. O Ocidente, nesse contexto, é o mundo da matéria, da ação concreta, da experiência humana marcada por limitações, quedas e conflitos. O Oriente, por sua vez, representa a morada da espiritualidade, o berço da tradição oculta, da introspecção e da iluminação.
Durante a travessia simbólica, os Cavaleiros enfrentam provações duríssimas. Eles atravessam territórios hostis, enfrentam as quatro forças apocalípticas – Conquista, Guerra, Fome e Morte – que simbolizam não apenas eventos externos, mas provações internas que desafiam a alma humana: o ego desmedido, a destrutividade, a escassez de virtudes e o temor da aniquilação.
Esses obstáculos não são gratuitos. Eles fazem parte do caminho do Iniciado, pois somente aquele que enfrentou a si mesmo e venceu seus próprios fantasmas é digno de penetrar os Véus do Mistério. Nesse percurso, o Cavaleiro aprende o valor da perseverança, da coragem, da fé e da fraternidade, virtudes indispensáveis para o verdadeiro buscador da Verdade.
Ao chegar ao Oriente, os Cavaleiros não encontram apenas um território exótico, mas são recebidos por Irmãos que preservaram antigas tradições, representantes de uma linhagem iniciática silenciosa, que sobreviveu às perseguições da história e agora transmite fragmentos da Sabedoria perdida. Estes guardiões orientais compartilham com os viajantes ocidentais os mistérios esquecidos, selando, assim, a união de duas tradições que, embora separadas no tempo e no espaço, possuem uma origem comum.
Essa união mística dá origem à Ordem dos Cavaleiros do Oriente e do Ocidente, cuja missão primordial é garantir a proteção dos peregrinos rumo à Jerusalém Celeste — símbolo da alma purificada e do templo interno reconstruído. A própria narrativa menciona que, no ano de 1118, no coração das Cruzadas, essa fusão de cavaleiros orientais e ocidentais culminou na criação de uma nova ordem espiritual, comprometida com a defesa da fé e com a preservação do sagrado.
Essa alegoria não é uma simples história; ela é um mapa iniciático, um arquétipo que se repete em várias tradições esotéricas: a ida ao Oriente como símbolo da busca interior, da iluminação, do retorno ao Éden perdido. A Maçonaria, ao apresentar essa lenda no Grau 17, convida o Iniciado a compreender que o caminho da Verdade exige renúncia, entrega e transformação interior.
A jornada dos Cavaleiros também remete aos processos históricos vividos pelos judeus após a destruição do Segundo Templo em 70 d.C., quando foram dispersos e passaram a se reunir com comunidades iniciáticas como os Terapeutas e os Joanitas, especialmente estes últimos, considerados guardiões de uma linhagem espiritual oculta. A transmissão dos mistérios joanitas a certos Cavaleiros do Ocidente reforça a ideia de continuidade esotérica entre as tradições judaicas, cristãs e templárias.
Portanto, essa alegoria do Grau 17 simboliza a síntese espiritual entre ação e contemplação, razão e mística, Ocidente e Oriente. A verdadeira Palavra não será encontrada em um livro ou em um nome, mas na integração viva das experiências, no equilíbrio das polaridades e na consciência desperta do Iniciado que, ao atravessar os desertos da existência, compreende que a Luz que busca fora só pode ser plenamente encontrada dentro de si.
Virtudes e Deveres do Cavaleiro
Segundo autores como Ken Macus, este grau estimula a vivência de virtudes fundamentais para a jornada iniciática:
- União: A engrenagem da sociedade só funciona com a harmonia entre seus membros. A Maçonaria deve ser um exemplo disso.
- Discrição: O Maçom deve ser reservado, especialmente ao tratar temas da Ordem fora de seu contexto, evitando falar demais entre profanos.
- Lealdade: Cumprir a palavra dada, apoiar os Irmãos e permanecer firme nos compromissos assumidos com a Ordem.
- Dever: Participação ativa, presença em sessões, pagamento das obrigações e contribuição conforme as possibilidades.
- Silêncio: Praticado desde o Grau 4 – Mestre Secreto –, é uma virtude fundamental para ouvir, refletir e agir com sabedoria.
Avental, Joia e Insígnias


O avental do grau é triangular, de cetim amarelado com bordas carmesim, representando dignidade, coragem e luz.

A joia é um heptágono de ouro e prata, tendo em cada ângulo as letras:
B, D, S, P, H, G, F, que representam:
- Beleza
- Divindade
- Sabedoria
- Poder
- Honra
- Glória
- Força
Na frente da joia, há a imagem do cordeiro com o livro dos sete selos, e no verso, duas espadas cruzadas sobre uma balança, símbolo do equilíbrio e da justiça.
O escudo do grau é descrito como partido, com campo esquerdo em ouro e o direito em negro. No campo dourado está um arco de prata com corda frouxa e três flechas douradas, denotando prontidão e paciência. Abaixo, repousa o cordeiro sobre o livro de sete selos, cujas cores representam os sete deveres do Cavaleiro.
A Natureza Filosófica do Grau 17

Albert Pike, em seu monumental Moral e Dogma, afirma que o Grau 17 é o primeiro grau verdadeiramente filosófico do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), ele marca um divisor de águas no percurso iniciático. Até este ponto, os graus anteriores, ainda que ricos em ensinamentos morais e simbólicos, permanecem mais ancorados em aspectos históricos, narrativos e pedagógicos. O Grau 17 – Cavaleiro do Oriente e do Ocidente – inaugura uma nova etapa: a jornada interior, de cunho essencialmente metafísico e especulativo.
A partir deste ponto, o Maçom deixa de ser apenas um executor do ritual e torna-se um filósofo da Ordem. É aqui que o Iniciado começa a questionar as origens dos símbolos, o sentido último da vida, a natureza de Deus, o papel da humanidade no cosmos, e o significado da luta entre a luz e as trevas.
O termo “filosófico” utilizado por Pike não se refere apenas ao estudo teórico, mas a um exercício constante de reflexão, meditação e autoconhecimento. O Maçom que atinge este grau é instigado a desenvolver um pensamento crítico e simbólico, capaz de penetrar as camadas mais profundas dos rituais que, até então, ele havia apenas praticado de forma externa.
O Grau 17 serve de preparação para o que será revelado no próximo passo: o Grau 18 – Cavaleiro Rosa-Cruz, um dos mais celebrados do Rito Escocês Antigo e Aceito. Enquanto o Grau 17 promove a integração entre culturas, o 18 levará essa integração à culminância espiritual, unindo o símbolo da Rosa e da Cruz como expressão suprema da Sabedoria e do Amor divinos.
Considerações Finais
O Cavaleiro do Oriente e do Ocidente não é apenas um título ritualístico, mas um chamado à união, à tolerância e à busca pela Verdade. Ele representa o Maçom que, ao atravessar os desertos da existência com coragem e humildade, torna-se um embaixador da paz, um elo entre culturas e um eterno buscador da luz.
O título “Cavaleiro do Oriente e do Ocidente” sugere um encontro entre tradições. O grau une elementos da sabedoria oriental e ocidental, numa síntese que transcende dogmas e fronteiras culturais. Esta universalidade é, para Pike, uma característica essencial da filosofia maçônica: o reconhecimento de que a Verdade pode se manifestar em diversas tradições e que o caminho da luz não está limitado a uma única visão religiosa ou filosófica. Este grau ensina que o Maçom deve buscar a conciliação entre os povos, as doutrinas e os símbolos, compreendendo que a Maçonaria é, antes de tudo, um esforço de unificação espiritual da humanidade.
Que cada Irmão, ao receber este grau, possa carregar consigo não apenas os símbolos e os rituais, mas, sobretudo, os valores universais que ele representa: sabedoria, equilíbrio, fraternidade e fé na possibilidade de um mundo melhor.
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Na próxima publicação desta série, exploraremos juntos os segredos e ensinamentos dos Graus Capitulares, com 18º Grau, o Cavaleiro Rosa Cruz.
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