
Recordamos aos Irmãos, bem como aos profanos interessados, que qualquer estudo sobre Maçonaria dirigido ao público externo deve conter somente informações de caráter geral — aquelas que já se encontram nos livros introdutórios de história, simbologia e filosofia maçônica. Os ensinamentos considerados reservados, transmitidos exclusivamente em Loja e nos momentos apropriados, permanecem restritos aos Iniciados da Ordem.
Portanto, tudo o que será exposto aqui está rigorosamente dentro dos limites do sigilo maçônico e tem como propósito maior promover o aperfeiçoamento ético, intelectual e espiritual daqueles que desejam beber dessa fonte de Luz que é a nossa Sublime Ordem Maçônica.
O Grau 10 do Rito Escocês Antigo e Aceito, denominado Mestre ou Cavaleiro Eleito dos Quinze, dá continuidade direta à sequência iniciática dos Graus 3, 4, 5 e 9, os quais estão profundamente entrelaçados pela narrativa da Lenda de Hiram Abiff e suas repercussões simbólicas. Esta continuidade se expressa de maneira contundente, sendo este Grau uma extensão natural dos acontecimentos do Grau 9 — Mestre Eleito dos Nove, no qual se efetuou a punição de um dos assassinos do Mestre Hiram (Abiram).
Se no Grau anterior foi feita a justiça em relação a um dos criminosos, o Grau 10 vem completar esse ciclo, ao narrar a perseguição, captura e punição dos dois assassinos restantes. O simbolismo, a moral e os ensinamentos desse Grau transcendem a simples narrativa histórica, projetando-se como metáfora da luta interna do iniciado contra as forças do erro, da ignorância e da corrupção moral.
A Lenda do Grau
Seis meses haviam transcorrido do evento que envolvera a captura e morte de Abiram. O rei Salomão, preocupado, não conseguira pista alguma sobre o paradeiro dos demais assassinos. Um dos intendentes de Salomão, chamado Bendecar (ou Bengaber), compareceu à presença do rei e lhe comunicou ter descoberto o paradeiro dos dois Companheiros trânsfugas.
Certos Rituais informam que Bendecar apresentara-se como estrangeiro; na realidade, ele poderia sê-lo, pois, como já referimos, a quase totalidade dos construtores do Templo haviam sido recrutados dos países vizinhos. Bendecar teria sido filisteu e conhecedor da região de Ghet, onde reinava Maacha.
A Busca dos Assassinos
A História Sagrada nos informa a respeito das contínuas incursões de Israel na região de Ghet, submetendo e castigando os filisteus, eternos inimigos dos judeus. Na época, contudo, reinava relativa paz entre os vizinhos, eis que Salomão cuidara de um período longo de tranquilidade para dedicar-se por inteiro à construção do Grande Templo. Para erguer o Santuário não poderia haver má vontade entre os homens, porque se tratava de uma obra dedicada a Jeová, com todo esforço e amor.
Salomão estava preocupado porque não se encontravam os assassinos; fizera embalsamar a cabeça de Abiram que no Grau Dez passa a ser denominada de “Akirop”; enfiou-a sobre uma haste e a colocou no recinto do Conselho. Também o esqueleto do assassino fora conservado e colocado no Oriente. O Malho usado para golpear a Hiram Abif foi envolto em um crepe negro. Eram os símbolos que advertiam de que os cruéis assassinos encontravam-se soltos e, portanto, constituindo um perigo latente para todos.
A Missão dos Cavaleiros Eleitos dos Quinze
Salomão deu atenção a Bendecar, encarregando-o de todas as diligências, e solicitou o auxílio de Maacha, o qual, prontamente, atendeu aos desejos do poderoso e temido rei Salomão, fazendo publicar éditos com as características dos assassinos.
No povoado de Ghet houve informações de que os assassinos estavam trabalhando em construções. Salomão, logo que foi posto a par da notícia, enviou quinze Mestres de sua melhor confiança, entre os quais encontravam-se os nove primeiros enviados à caverna em Jopa.
Os quinze Mestres foram escoltados, para maior segurança. Saíram, os Cavaleiros Eleitos dos Quinze, a cavalo, no dia 15 do mês hebraico de Tamouth, que corresponde ao mês de junho de nosso calendário, chegando após 13 dias de jornada ao país de Ghet.
Apresentaram-se a Maacha, que imediatamente colocou-se à disposição do grupo, auxiliando-o na busca dos criminosos. Cinco dias após, foram encontrados, tendo sido presos e acorrentados.
De retorno a Jerusalém, chegaram no dia 15 do mês seguinte, tendo Zerbal e Joabem feito entrega, pessoalmente, a Salomão, dos dois criminosos.
O Julgamento e a Execução
Os assassinos foram encarcerados na Torre de Achisar, onde aguardaram o julgamento. Submetidos a julgamento, foram condenados à morte e, às 10 horas da manhã do dia fixado para a execução, foram retirados da prisão, atados a dois postes, despidos e amarrados os seus braços para trás.
O verdugo lhes abriu o ventre, desde o peito até o púbis, deixando-os assim, pelo espaço de 8 horas, a fim de que os insetos viessem torturá-los.
Às 18 horas, lhes cortaram as cabeças e juntaram-na à de Abiram, colocando-as em hastes e expostas na porta do Oriente, jogando seus corpos sobre as muralhas para que servissem de alimento aos abutres e feras.
Filosofia Maçônica e o Simbolismo do Castigo
A constante da filosofia maçônica tem sido o “castigo”, não como resultado de uma vindita, mas sim, de um julgamento. Sempre, em qualquer Grau, surge esse aspecto que não pode passar sem ser comentado.
O desequilíbrio, a desobediência, a falta de conhecimento conduzem fatalmente a consequências desastrosas. Indubitavelmente, o “castigo” apresenta gradações; os próprios códigos especificam e justificam essas gradações.
Etimologicamente, “castigo” é um vocábulo composto, que significa “purificar”. Sua raiz é a “castidade”, ou seja, a “pureza”; uma pessoa “casta”, ou seja, “pura”. A língua latina é muito rica nessas expressões que, à primeira vista, apresentam um significado totalmente contrário. “Castigar” significa limpar de uma ação nociva, posto que essa operação conduza à morte.
A decapitação e a dispersão do corpo para que os abutres se alimentem é a forma de que a matéria retorne à Natureza para o equilíbrio ecológico. Os tibetanos não só destacam as carnes do corpo, como trituram os ossos, para que os pássaros ingiram a sua totalidade.
Somente os egípcios tinham uma concepção diversa, porque acreditavam na ressurreição do corpo.

A Morte como Simbolismo e Purificação
A Maçonaria faz da morte um mito e preocupa-se em apresentá-la como uma etapa que não é final, mas um passo inicial para a Vida Futura. Aquele que cometeu falta grave e que mereça punição, simbolicamente a morte, como no caso de uma “expulsão”, estará purificando-se para que, ao ingressar na Vida Futura, o faça como ser vitorioso, sem mácula.
Os eleitos, dentro da concepção maçônica, serão os puros em todo sentido. Os justificados, em suma, os “santos”, no entendimento de “sancionados”, ou seja, escolhidos.
O abutre é uma ave que habita algumas regiões europeias, africanas e asiáticas; não existe na América. É o Vultor-monarchus, chamado vulgarmente de “pica-ossos”, pois além de comer a carne putrefata, pica os ossos e os ingere.
A espécie brasileira é o urubu, da família das “Catarditas”. É comedor de carne, mas não tritura os ossos.
Ação Conjunta e o Papel Social na Maçonaria
O aspecto curioso diz respeito à ação conjunta dos Cavaleiros, porque em Maçonaria nada é feito individual e isoladamente. Mesmo a mística que supõe um comportamento exclusivo do ser, necessita de companhia, eis que a solidão conduz a pensamentos negativos.
O comportamento social altera-se de tal forma, que o homem isolado torna-se egocêntrico, intratável e “fechado”, no sentido de não obter alargamento no campo do conhecimento.
Na Iniciação, todos nós apreendemos que iniciamos a construção do próprio Templo, armazenando as pedras dos alicerces até que, concluído o período maçônico, quando chegarmos “a termo”, nos encontraremos dentro de um Templo perfeitamente acabado.
De que vale, porém, nos encontrarmos dentro de um Templo vazio, sem a oportunidade de repartirmos com outros o resultado do misticismo, da comunhão e das bênçãos recebidas do Alto?
Quando um Maçom se encontra isolado, não poderá exercitar o que a Instituição lhe ensina. Um Maçom isolado não representa a Maçonaria, daí a necessidade imperiosa de os Maçons reunirem-se em Loja. Eis que no recinto sagrado cada um abrirá as portas de seu próprio Templo, para dar ingresso aos demais. E nos Templos desses “demais”, que serão nosso “próximo”, teremos a oportunidade de também ingressar.
Então, a soma dos Templos constituirá um Grande Templo da Natureza, que abarca os aspectos múltiplos da espiritualidade, da mentalização, da magia e do misticismo.
Organização da Loja no Grau 10
A Loja denomina-se de Capítulo. O Presidente tem o título de Ilustre Mestre. O Primeiro Vigilante representa Hirão, rei de Tiro, e é denominado de Grande Inspetor. O Segundo Vigilante representa Adoniram e toma o título de Introdutor.
Uma das peculiaridades do Grau é de que não podem assistir aos trabalhos senão quinze Irmãos.
O Grau 10 pode ser ministrado por comunicação ou por Iniciação. A Loja representa a Câmara de Audiência do Rei Salomão, e a sala onde se celebram as sessões do Grau representa a Sala do Conselho.
A Loja é revestida com cortinas negras semeadas com lágrimas roxas e brancas; em certos Rituais, essas lágrimas são vermelhas e brancas. O recinto é iluminado por três candelabros de cinco luzes cada um, colocados sobre os Altares do Presidente e dos Vigilantes.
No Oriente, sob o sólio, um quadro, símbolo do Grau, figurando uma cidade quadrada com três portas e, em cima de cada uma delas, uma cabeça humana.
Insígnias, Avental e Painel

O Avental é em tecido branco, orlado em negro; a abeta em negro. No centro, três Arcos e, sobre cada um, uma cabeça ensanguentada.
A Faixa é negra, pendente um punhal vermelho. Na face direita, três cabeças humanas. Sobre a mesa do Presidente são colocados uma Espada, um ramo de oliveira e as insígnias destinadas aos Neófitos.
Embora apenas quinze pessoas devam tomar parte nos trabalhos, há lugares destinados aos visitantes e pelos Irmãos que excederem o número.
O Painel da Loja é em formato de escudo, com bordos azul-escuro. Tem, em seu interior, na parte inferior, um Punhal em forma de pequeno sabre, no sentido horizontal, da esquerda para a direita, encimado por três manchas de sangue, tendo por baixo outras cinco.
Na parte central, em quase toda a sua extensão, uma Fortaleza em forma de triângulo, tendo sua entrada na parte da frente, em forma de duas Torres, armadas na extremidade. No outro raio do Triângulo, uma Porta, descoberta, maior que a primeira. Na parte superior, nove manchas de sangue, sendo uma por sobre a Porta da Fortaleza e as demais distribuídas em cada lado, de cima para baixo.
Missão Filosófica do Grau 10
Orienta o Ritual que os trabalhos do Grau 10 resumem-se em:
Ter sempre presente que o mau proceder não esconde a impunidade, porque o Supremo Juiz, que chamamos Consciência, cedo ou tarde o castigará.plo de sua própria consciência.
Colocar-se à frente de seus concidadãos para educá-los e orientá-los, procedendo com extraordinária atenção, dissipando as cegueiras da ignorância que envolvem as camadas inferiores da Sociedade, até se conseguir que seja pronunciado com respeito e gratidão o nome daquele que se propõe a servir à coletividade com abnegação e zelo, proporcionando-lhe bem-estar e tranquilidade.
Estudar a conveniência das relações internacionais, tanto maçônicas como profanas, e as condições necessárias para o bom desempenho dos cargos de Representantes e Embaixadores.
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Na próxima publicação desta série, exploraremos juntos os segredos e ensinamentos do 11º Grau, o Grau 11 – Sublime Cavaleiro dos Doze.
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