Recordamos aos Irmãos, bem como aos profanos interessados, que qualquer estudo sobre Maçonaria dirigido ao público externo deve conter somente informações de caráter geral — aquelas que já se encontram nos livros introdutórios de história, simbologia e filosofia maçônica. Os ensinamentos considerados reservados, transmitidos exclusivamente em Loja e nos momentos apropriados, permanecem restritos aos Iniciados da Ordem.
Portanto, tudo o que será exposto aqui está rigorosamente dentro dos limites do sigilo maçônico e tem como propósito maior promover o aperfeiçoamento ético, intelectual e espiritual daqueles que desejam beber dessa fonte de Luz que é a nossa Sublime Ordem Maçônica.

Introdução
O 27º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito, conhecido como Grande Comendador do Templo, integra a hierarquia dos Altos Graus filosóficos e históricos, e está inserido na série dos Sublimes Cavaleiros. Ele evoca diretamente a herança dos antigos Cavaleiros Templários e propõe uma reflexão profunda sobre a justiça, o dever moral, a defesa da verdade e a fidelidade aos princípios mais elevados da Maçonaria.
Neste estágio da jornada iniciática, o Maçom é chamado a vestir o manto de um Comendador — não apenas um título honorífico, mas uma função espiritual e simbólica: ser guardião da virtude, protetor do sagrado e executor de uma justiça iluminada pela razão e pela fé. O Grau 27 propõe uma síntese entre os ideais templários e os princípios iluministas, convidando o iniciado a integrar coragem e sabedoria em suas ações, tanto na vida pessoal quanto na coletividade.
Mais do que um mero reencontro com o passado glorioso da Ordem do Templo, este Grau mergulha nas questões da lealdade, da injustiça histórica, da traição e da reconstrução ética — através de rituais, símbolos, palavras e referências aos mártires templários, especialmente ao último Grão-Mestre da Ordem, Jacques de Molay. Sua memória perpassa todo o rito e inspira o Comendador a lutar contra os tiranos, os corruptos e os inimigos da Verdade.
O significado do título: o Comendador como defensor da Justiça e da Tradição
O termo “Comendador” remete, historicamente, aos chefes de comendas templárias — unidades administrativas, religiosas e militares espalhadas por toda a Europa e Terra Santa. Esses cavaleiros de alto grau eram responsáveis por manter viva a missão da Ordem, proteger os segredos espirituais, administrar bens, formar novos cavaleiros e servir ao ideal cristão e cavaleiresco com devoção e disciplina.
No contexto maçônico, esse título é carregado de múltiplos sentidos. Em primeiro lugar, o Comendador representa aquele que foi investido com autoridade não pela força, mas pelo merecimento moral. Ele não lidera por vaidade, mas por responsabilidade. Sua missão é superior: administrar a Justiça no Templo simbólico, agir com retidão e manter os princípios da Maçonaria intactos diante das adversidades do mundo profano.
Essa figura não está ligada a um exercício temporal de poder, mas a uma autoridade espiritual e iniciática. A investidura como Grande Comendador do Templo é, portanto, uma confirmação de que o Irmão percorreu diversos estágios de aprimoramento interior, e agora está apto a exercer um papel de liderança filosófica e ética, tornando-se um guardião da doutrina e um exemplo de equilíbrio entre fé e razão.
O título também remete ao ideal do servo-líder, presente nos códigos de cavalaria e nas ordens monástico-militares: liderar, sim, mas servindo. Ser o primeiro a obedecer à Lei. Ser o mais zeloso na observância dos deveres. Ser austero consigo mesmo e compassivo com os outros. O Comendador, portanto, é aquele que domina a si mesmo para poder ajudar a conduzir os outros — e, assim, manter viva a chama da Tradição.
Neste Grau, o iniciado é lembrado de que o verdadeiro templo é construído com virtude, honra e fé, e que sua missão, como Comendador, é zelar por esse templo invisível que habita cada ser humano. É por isso que o Grau exige do iniciado um profundo senso de dever, coragem moral e comprometimento com os valores perenes.
As Origens Templárias do Grau

O Grau 27 busca suas raízes simbólicas e filosóficas na história dos Cavaleiros Templários, ordem militar-religiosa fundada no século XII, durante o fervor das Cruzadas. O nome “Grande Comendador do Templo” remete diretamente à hierarquia templária, sendo o Comendador aquele que governava um território, comandando cavaleiros e vassalos sob sua responsabilidade.
A Maçonaria do século XVIII, especialmente sob a influência dos altos graus escoceses, incorporou profundamente a narrativa templária como uma fonte de inspiração moral, espiritual e mística. No caso deste grau, os eventos da queda da Ordem do Templo são fundamentais: a prisão dos cavaleiros em 1307, a tortura e confissão forçada de heresias, os julgamentos iníquos e, por fim, o martírio do último Grão-Mestre, Jacques de Molay, queimado vivo em 1314, acusado injustamente de crimes contra a fé.
A Maçonaria, nesse contexto, se apresenta como herdeira espiritual da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo. O Grau 27 é um tributo simbólico à sua memória, e um apelo profundo à Justiça, à retidão moral, à coragem diante do poder arbitrário e à fidelidade aos ideais mais elevados, mesmo que isso custe a própria vida.
A Câmara e os Símbolos do Grau
O espaço ritualístico do Grau 27 é denominado Templo do Julgamento. Diferente das câmaras anteriores, esta é austera, simbólica e densa em sua ornamentação e cenário, refletindo a dramaticidade e a solenidade da missão que será confiada ao iniciado.
O Templo é representado por um salão escuro, decorado com colunas, espadas, e principalmente com os instrumentos do martírio templário. Em destaque está o nome de Jacques de Molay, exaltado como mártir da fidelidade. No centro, um altar representa o trono da Justiça, sobre o qual repousa um exemplar da Constituição de Montesquieu — símbolo da racionalidade e da construção de um Estado justo. Esse é um elemento notável deste grau: sua dimensão jurídico-filosófica que transcende o aspecto apenas mítico do Templo.
Na Câmara há, ainda, representações de três colinas ou montes, evocando o calvário, a montanha da revelação e o símbolo da ascensão. O número três assume um papel central, apontando para os três pilares do templo e os três princípios da Tríade maçônica: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, agora interpretados à luz da Justiça templária.
Entre os símbolos mais marcantes estão:
- A Espada flamejante, que representa a ação justa e purificadora;
- O Elmo cruzado, sinal de serviço e coragem templária;
- A Cruz patente vermelha, símbolo da entrega e sacrifício;
- O Triângulo radiante, representação da Lei Suprema e da iluminação pela razão.
O uso do vermelho é predominante, cor do fogo, do sangue, da paixão e do martírio. Também há o uso do branco, como contraponto, evocando a pureza dos ideais defendidos até o sacrifício final.
O Drama da Injustiça e a Substituição do Julgamento Arbitrário
O Grau 27 não é apenas uma homenagem simbólica aos Templários, mas um protesto ritual contra a injustiça institucionalizada. O julgamento de Jacques de Molay é colocado como paradigma daquilo que um Comendador deve combater: a corrupção das leis, o abuso do poder, a mentira travestida de dogma.
Neste ponto, surge uma das mais significativas dimensões filosóficas do grau: a substituição do julgamento arbitrário pelo Tribunal da Razão. A Loja é transformada em um júri simbólico, onde o iniciado não apenas contempla o drama passado, mas é convocado a ser parte de uma nova Justiça.

Aqui, a figura de Montesquieu aparece não como personagem histórico apenas, mas como arquétipo de uma Justiça iluminada, racional, equânime. A referência à sua obra “O Espírito das Leis” não é fortuita. É um chamado à reflexão sobre os fundamentos do Direito natural, da tripartição dos poderes, da legalidade, da ética pública.
O candidato, ao subir ao Grau 27, é confrontado com perguntas como:
O que é a Justiça?
Pode o poder agir sem limites?
É lícito obedecer a ordens que afrontam a moral?
Qual é o papel do Maçom diante da opressão?
A ritualística o conduz não a uma resposta abstrata, mas a um compromisso prático: ser o Comendador da Justiça, onde quer que esteja, defendendo os inocentes, julgando com sabedoria, combatendo o fanatismo, e jamais se curvando à tirania.
A Missão do Comendador: Julgar com Retidão e Viver com Coragem
O título de Grande Comendador do Templo implica em responsabilidade. Não se trata de um prêmio ou reconhecimento honorífico. O iniciado recebe uma nova missão: agir como julgador e defensor da Justiça, sempre à luz dos princípios templários e da ética maçônica.
Neste grau, a figura do Comendador substitui a do simples cavaleiro. Ele é aquele que guia, que protege, que decide, que lidera pelo exemplo e que, se necessário, morre por seus valores.
A presença simbólica do Código do Templo, uma constituição moral, implica que suas decisões sejam sempre baseadas em princípios:
- Fidelidade à verdade,
- Repúdio ao abuso de poder,
- Defesa do fraco,
- Justiça sem ódio nem vingança.
No rito, há uma espada de julgamento e uma balança de equidade, ambos entregues ao novo Comendador. Ele deve manejá-los com sabedoria. A espada para proteger, jamais para punir por paixão; a balança para pesar os atos dos homens com imparcialidade, e não com preconceito.
A Tragédia dos Templários e o Martírio de Jacques de Molay

A essência do Grau 27 está intimamente ligada ao legado dos Cavaleiros Templários e à sua dramática extinção no início do século XIV. O cenário ritualístico evoca diretamente os últimos momentos da Ordem do Templo, especialmente a figura imortal de Jacques de Molay, o último Grão-Mestre templário, queimado vivo em 1314, após anos de tortura, prisões e falsas acusações. O grau revive essa cena não como uma simples reencenação histórica, mas como um poderoso símbolo de injustiça, lealdade e sacrifício em nome da verdade.
De Molay, mesmo sob intensa pressão, jamais renunciou à sua Ordem nem aos seus princípios. Sua fidelidade é apresentada no grau como o arquétipo de um homem justo que, cercado por traições, permanece fiel ao seu juramento até o último suspiro. A imagem do Grão-Mestre acorrentado, sendo conduzido ao cadafalso diante das multidões, torna-se um marco do compromisso do Maçom com a Justiça, mesmo quando esta se volta contra ele.
Além de Jacques de Molay, o ritual faz referência a outros nomes como Guy d’Aumont, Hugues de Péraud e Geoffroy de Charnay — todos mártires templários. A evocação desses personagens visa resgatar não apenas a história, mas a memória moral de um grupo que foi extinto pelas forças da ganância e da intolerância, personificadas na figura de Felipe IV, o Belo, e do papa Clemente V.
O nefasto julgamento da Ordem do Templo é, assim, símbolo perene de uso abusivo do poder temporal e espiritual, ao qual todo verdadeiro Maçom deve se opor. O Grau 27 instaura, então, um compromisso ético superior: o dever de lutar contra toda forma de injustiça institucionalizada, mesmo que tal enfrentamento implique riscos pessoais.
A Câmara do Grau e seus Símbolos
A ambientação ritual do Grau 27 está impregnada de densidade simbólica. A câmara onde se desenrola a cerimônia é decorada em cores predominantemente vermelha e preta, evocando a ideia de luta e de martírio, mas também de poder e renascimento. No centro, ergue-se um altar em forma de túmulo, sobre o qual repousa o corpo simbólico de Jacques de Molay — rodeado de colunas partidas, tochas apagadas e espadas quebradas.
Esses elementos não são meramente ilustrativos: eles representam o colapso das instituições templárias, mas também a sobrevivência dos seus ideais — agora confiados aos maçons que, elevados a este grau, tornam-se herdeiros morais dos templários caídos.
Em uma das paredes, uma cruz vermelha patenteia o emblema do Templo, ladeada por dois pergaminhos: um com a Regra de São Bernardo, outro com a sentença de condenação do Papa Clemente. A tensão entre a espiritualidade verdadeira e a autoridade corrompida é um dos principais motes da cena.
O centro do pavimento é coberto por uma tapeçaria com símbolos herméticos: o delta flamejante, o Olho que tudo vê, o Pentagrama invertido, a balança da Justiça, a espada flamejante e a coroa quebrada. Cada um desses signos reforça o vínculo do grau com a luta entre luz e trevas, entre Justiça e poder tirânico.
Paramentos e Insígnias

As insígnias do Grau incluem:
- A faixa branca atravessada por uma borda vermelha, representando a pureza e o sangue do sacrifício;
- O manto escarlate, típico dos Cavaleiros do Templo;
- A cruz patente de oito pontas ao peito;
- E um cordão dourado com a cruz templária, símbolo da autoridade espiritual do Comendador.
A espada é um elemento constante, não apenas como arma simbólica de combate, mas como instrumento da Lei e da Justiça. O Comendador não empunha a espada para conquistar ou dominar, mas para proteger os inocentes e restaurar a ordem justa.
O Comendador como Guardião da Lei
Diferentemente dos graus anteriores, em que o simbolismo se concentra em provas iniciáticas ou modelos de perfeição espiritual, o Grau 27 introduz uma nova figura: o guardião da Justiça humana. O Comendador não é apenas um cavaleiro: ele é também juiz, legislador, árbitro moral. Sua função, dentro e fora da Ordem, é discernir o certo do errado e promover a equidade.
Esse caráter se manifesta na estrutura do grau como um tribunal simbólico, onde o iniciado é convidado a julgar não apenas fatos, mas também intenções. O exercício da Justiça, aqui, não se baseia em normas externas, mas na lei natural impressa no coração humano, princípio caro ao jusnaturalismo e à tradição iluminista.
O Comendador torna-se, portanto, símbolo do maçom que atinge maturidade suficiente para exercer autoridade com responsabilidade, temperando o rigor com a compaixão, e sabendo que nenhuma justiça é válida se não for fundamentada na verdade.
Este grau estabelece um vínculo direto com o pensamento de Montesquieu, especialmente sua teoria sobre a separação dos poderes e o papel do magistrado iluminado pela razão. A Justiça, para ser verdadeira, não pode servir ao rei nem à Igreja, mas sim aos princípios universais de liberdade, igualdade e fraternidade — temas centrais do ideário maçônico.
Conclusão

O Grau 27 é um dos mais poderosos reflexos de ideais que transcendem as fronteiras do tempo. Através de seu ritual, ele nos transporta para um período de profunda transformação histórica e nos conecta diretamente com os princípios de Justiça, Liberdade e Moralidade que fundamentam nossa própria sociedade moderna.
Este grau, ao rememorar o fim trágico da Ordem do Templo e a martirização de Jacques de Molay, enfatiza a importância da lealdade e da justiça, mesmo diante das maiores adversidades. Mais do que uma simples representação de uma antiga ordem medieval, ele exalta a necessidade de um sistema ético superior, em que as leis são orientadas por princípios imutáveis de verdade, ética e respeito pela liberdade humana.
Ao se debruçar sobre o passado templário e suas lutas, podemos refletir, também, sobre o presente e o futuro. Ele nos convida a agir com sabedoria e discernimento, a buscar a justiça em todas as suas formas e a nos comprometer com os valores fundamentais da Maçonaria. Os ensinamentos transmitidos neste grau continuam a ser de extrema relevância, especialmente num momento em que o mundo enfrenta múltiplos desafios relacionados a abusos de poder, corrupção e injustiça social.
Seu ensinamento é um convite a todos os maçons a se tornarem defensores da verdade, a se manterem firmes diante da injustiça e a combater a corrupção, independentemente dos riscos pessoais que possam surgir. Pois, assim como o último grito de Jacques de Molay, ressoando de sua fogueira, a Maçonaria, através deste grau, exorta a todos: “Não podemos nos calar diante da injustiça, pois a Verdade será sempre a nossa guia.”
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Na próxima publicação desta série, exploraremos juntos os segredos e ensinamentos dos Conselhos Filosóficos de Kadosh (19º ao 30º Grau), com 28º Grau, o Cavaleiro do Sol ou Príncipe Adepto.
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